Bolsa cai influenciada por ações e dólar sobe com dados da dívida pública

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Por Daneille Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após dois pregões seguidos de alta, o Ibovespa fechou em queda de 0,24%, aos 108.423,93 pontos, puxado pelas perdas de ações do setor financeiro, que refletiram o receio de tributação sobre dividendos, o que fez o índice descolar da alta das principais Bolsas no exterior. Por outro lado, os fortes ganhos dos papéis de frigoríficos e de mineradoras e siderúrgicas impediram que o Ibovespa aprofundasse perdas. O volume total negociado foi de R$ 16,077 bilhões.

“Notícias de que os dividendos podem ser tributados deixam o investidor um pouco mais preocupado. As commodities em alta deram suporte para os papéis como os da Vale, mas a queda mais intensa de bancos e da Petrobras prevaleceram, o que fez o índice cair”, disse a analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira.

Em entrevista ao jornal a “Folha de S.Paulo”, a assessora especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, Vanessa Rahal Canado, disse que cobrar imposto sobre dividendos, hoje isentos, é peça fundamental no projeto do governo de aliviar a carga tributária sobre empresas e tornar o Imposto de Renda (IR) mais progressivo. A questão também deve ser discutida amanhã em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Entre os papéis que refletem a questão, estão o do setor financeiros, que costumam ser bons pagadores de dividendos, como os do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,42%) e os da B3 (B3SA3 -3,47%), que ficou entre as maiores perdas do Ibovespa. Ainda entre as maiores perdas ficaram as ações da Ultrapar (UGPA3 -2,47%) e do Magazine Luiza (MGLU3 -2,18%).

Na contramão, o dia foi positivo para a Vale (VALE3 1,65%) e siderúrgicas, como a CSN (CSNA3 2,06%), que refletiram a alta dos preços do minério de ferro em meio a avanços nas negociações comerciais entre China e Estados Unidos.

Já entre as maiores altas do Ibovespa ficaram as ações da JBS (JBSS3 9,60%), BRF (BRFS3 5,92%) e Marfrig (MRFG3 5,33%), que reagiram a dados mais fortes de importação de carne da China e perspectivas de que o país continue a demandar mais proteína da América do Sul. “Tivemos dados de importação da China, que continuam mais fortes, e algumas ações do setor ficaram um pouco para trás este mês. A BRF está zerando perdas no mês. Além disso, o arroba do boi está em um patamar elevado”, disse o analista da Guide Investimentos, Luís Sales.

Amanhã, os mercados podem refletir a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que fará discurso às 21h em um evento em Rhode Island, além de indicadores como o índice de confiança do consumidor norte-americano. Também seguem no foco as negociações comerciais entre China e Estados Unidos, sendo que hoje sinais de avanço fizeram Wall Street fechar em alta.

No entanto, analistas lembram que a semana será mais curta no mercado norte-americano em função do feriado do Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day) na quinta-feira, o que pode reduzir a liquidez também por aqui.

O dólar comercial fechou em alta de 0,50% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2150 para venda, renovando o recorde histórico de fechamento alcançado em 18 de novembro, quando encerrou a R$ 4,2070. Além da valorização da moeda no exterior, que contaminou as moedas de países emergentes, o mercado local reagiu aos números das contas externas no País que registrou o pior desempenho desde 2014.

“Esse valor [do dólar] refletiu basicamente a falta de liquidez no mercado de câmbio, quando o fluxo de ingresso de recursos no País está insuficiente para atender a demanda e tampouco, as ofertas no mercado à vista”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.

O déficit em conta corrente do Brasil cresceu quatro vezes em outubro na comparação com o mesmo período do ano passado, para US$ 7,874 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). No ano até outubro, o déficit é de US$ 45,657 bilhões, +41,04% em base anual.

O diretor da Correparti acrescenta que, nesta época do ano, as remessas de valores para o exterior aumentam “significativamente”, o que “naturalmente” reflete na valorização da moeda estrangeira. “Acompanhou tecnicamente a lei da oferta e procura”, destaca.

“Outras moedas emergentes também se estressaram. O dólar segue fortalecido no exterior”, reforça o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer. Ele acrescenta que, para conter o avanço da moeda, é preciso uma conjunção de fatores para arrefecer no exterior. “Uma delas é o avanço nas tratativas comerciais entre Estados Unidos e China”, diz.

Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, os mercados tendem a acompanhar o movimento no exterior. Hoje à noite, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, discursará em evento no país. “O mercado pode abrir reagindo ao que ele falar. Vai depender do tom do discurso”, diz o diretor da Mirae.