Bolsa cai com dados fortes da economia americana, fiscal negativo e baixa de ações de peso

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São Paulo – A Bolsa fechou o pregão desta quinta-feira em queda, refletindo o pessimismo do mercado após os dados fortes da atividade econômica nos Estados Unidos, o que corrobora para a demora em iniciar o ciclo de corte de juros, conforme mostrou ontem a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e as últimas falas dos membros do banco central norte-americano.

No cenário local, a baixa repercute a preocupação dos investidores com o cenário fiscal negativo e as quedas expressivas de ações de peso como Vale (VALE3), Petrobras (PETR3; PETR4) e Itaú Unibanco (ITUB4), que encerraram o pregão com perdas de 0,59%, 0,85%, 0,99% e 0,89%, respectivamente.

Mais cedo, nos Estados Unidos, o índice de gerente de comparas do setor industrial subiu para 50,9 pontos em maio, de 50,0 pts em abril e o do setor de serviços avançou para 54,8 pontos de 51,3 no mês anterior. Os dados mostram atividade econômica em expansão.

As vendas de casas novas caíram 4,7% em abril na comparação com março e a previsão era de queda de 1,8%. Os pedidos de seguro-desemprego semanal caíram para 215 mil contra previsão de 220 mil solicitações.

O principal índice da B3 caiu 0,73%, aos 124.729,40 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuou 0,21%, aos 125.400 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Leonardo Santana, sócio da Top Gain, disse que queda da Bolsa reflete o exterior.

“Os indicadores de PMI mais forte que o esperado azedou o humor da Bolsa e as últimas falas dos Fedboys em relação aos juros trouxeram pessimismo aqui e lá fora”.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que com a falta de gatilho para o mercado se animar, dados nos Estados mostrando fortalecimento da economia e fiscal aqui não ajudam e impactam negativamente a Bolsa.

“O Ibovespa reflete o fluxo [de venda] ontem, o mercado não vê muito motivo para estar animado e acaba se mantendo na venda, os dados de seguro-desemprego abaixo do esperado [215 mil solicitações contra previsão de 220 mil], PMIs que mostram atividade econômica forte, tudo isso é mais um reforço para que aquele discurso do Fed se concretize com juros nesse patamar atual [faixa entre 5,25% e 5,50%].”

Na avaliação de Lourenço, falta trigger pra comprar, é mais pra vender. “O mercado cansou de esperar, a gente está quase o mês inteiro de maio lateralizado, agora o mercado deu corrigida para esperar um trigger mais positivo. A economia do mundo inteiro está fraca e a americana forte e os países ficam sem muita alternativa para cortar juros. É o pior cenário possível, o dólar ganhando força no mundo inteiro. Se lá [nos EUA] não esfriar vai ficar mais descorrelacionado do resto do mundo e no Brasil não tem motivo para agirmos positivamente, no fiscal é só notícia ruim”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,03%, cotado a R$ 5,1529. A moeda, que não teve direção clara em momento algum da sessão, refletiu certo temor com os próximos passos da política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o fiscal doméstico ruidoso e a agenda esvaziada.

Segundo o economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, “hoje vemos um pequeno alívio, após um dia bem pressionado. No curtíssimo prazo, a moeda está muito sensível. O movimento de desalavancagem, que vimos no final de abril, fez com que as moedas emergentes sofressem bastante”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham perto da estabilidade, com viés de queda, em uma leve correção depois da firme alta de ontem depois dos dados fiscais que foram apresentados na tarde de ontem.

Na visão do analista Bruno Komura da Potenza Capital, os DI operam praticamente de lado, esperando algum acontecimento.

“Houve um estresse muito grande por conta do Fed [ata do Fed] e PMIs de hoje de manhã, mas tudo isso já estava no preço”, avalia. “As taxas subiram bastante ontem, faz sentido essa corrigida hoje.”

“Hoje o Guillen [diretor de Política Econômica do Banco Central] fez uma fala mais positiva, assim como o Ceron [Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional] que hoje fez uma declaração mais positiva, se que esta apostando em 100% dos dividendos extraordinárias [da Petrobras].”

Na leitura do estrategista-chefe, Jefferson Laatus ontem os DI estressaram depois que saiu o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 2º bimestre de 2024. “DI estressaram com o aumento de gastos e contando com o aumento de receitas, de arrecadação e o mercado não engoliu. Só que ontem foi um pouco exagerado o movimento de DI, hoje está corrigindo um pouco, explica. Lá fora, diz o especialista, os Treasures (títulos do Tesouro norte-americano) estão mais estressados, reagindo aos dados que foram informados ao longo da semana, especialmente os de hoje. “Saiu PMI de serviço e PMI industrial e ambos vieram fortes, mostrando que a economia americana está forte e que com relação a essa questão de juros lá dificilmente o Fed vai ter confiança e motivadores suficientes para cortar os juros. Por isso que os treasures estão subindo”, explica. Hoje Ontem a ata do Fed mostrou que tem dirigentes que acreditam ser necessário aumento de juros e os dados que vem saindo, no mínimo, mostram que não tem cenário para cortar juros dentro dos Estados Unidos, diz.

“Por isso essa discrepância da movimentação mas nos DI, aqui, é basicamente ajuste da movimentação de ontem, não uma melhora de cenário.”

O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) divulgou a ata referente à última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) com viés mais duro, sinalizando juros mais altos por mais tempo, segundo avaliação de alguns analistas.

“O que ficou claro basicamente são as incertezas quanto à restrição da política monetária americana. Na minha visão, também ficou claro que se for necessário, em virtude do controle da inflação, eles podem realmente sim apertar a política monetária, então subir mais juros. E eles não têm problema com isso, mesmo com o mundo preocupado com isso, já que o foco é o controle da inflação”, avalia o especialista em mercado de capitais, Dierson Richetti, sócio da GT Capital.

Hoje mais cedo, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos que caíram em 8 mil para 215 mil na semana encerrada em 18 de maio, após ter alcançado 222 mil na semana anterior. Os analistas previam 220 mil pedidos.

Por volta das 15h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,385%, de 10,395% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,765% de 10,780%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,150%, de 11,145%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,375% de 11,440 na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em de lado cotado a R$ 5,1567 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, enquanto preocupações com as taxas de juros dominaram o sentimento dos investidores após os resultados impressionantes da Nvidia não conseguirem impulsionar um rali mais amplo do mercado.

“Os traders começaram o ano se sentindo bastante confiantes de que a economia estava melhorando e os cortes de juros do Fed seriam rápidos em seguir”, disse James Kostulias, chefe de Serviços de Negociação da Charles Schwab. “Mas as preocupações com a inflação aumentaram significativamente. Embora cerca de metade dos traders acredite que evitaremos uma recessão este ano, o sentimento geral do mercado de ações esfriou um pouco no 2º trimestre.

O Dow Jones teve destaque negativo e recuou mais de 1,5%, para seu pior dia desde março de 2023. Uma queda de 7% nas ações da Boeing após o anúncio de atrasos na entrega de aviões pesou sobre o Dow.

As ações da Nvidia subiram mais de 9%, ultrapassando US$ 1.000 pela primeira vez depois que a gigante da IA superou amplamente as previsões de Wall Street para os ganhos do primeiro trimestre. A empresa de chips também elevou suas projeções, aliviando os temores de que a demanda por IA pudesse estar perdendo força.

Outros fabricantes de chips e ações relacionadas à IA subiram na esteira dos resultados, com a Dell subindo cerca de 4%.

As ações caíram ontem após a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reacenderem preocupações sobre o caminho das taxas de juros. Dados econômicos na sessão de hoje reforçaram essa narrativa.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,53%, 39.065,39 pontos

Nasdaq 100: -0,39%, 16.736,03 pontos

S&P 500: -0,74%, 5.267,90 pontos

Com Soraia Budaibes, Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Safras News

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