Bolsa cai à espera de maior aperto monetário e risco fiscal no Brasil; dólar sobe

712

São Paulo – A Bolsa chegou ao 102 mil pontos refletindo o cenário de aversão a ativos de risco dos mercados internacionais, que aguardam o anúncio de maior aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) amanhã para conter a inflação nos Estados Unidos.

O Ibovespa, o principal índice da B3 fechou em queda de 0,52%, aos 102.063,25 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuava 0,79%, aos 101.940 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,2 bilhões.No mês, a perda é de 7,86%.

As piores quedas foram de Via (-10,19%), Iguatemi (-10,00%), CVC (-6,69%), Positivo (–5,93%) e BRF (-5,32%). As maiores altas foram de Eletrobras (ELET3; ELET6), de 3,39% e 2,33%, respectivamente, CPFL (+3,02%) e Weg (-+1,72%).

Os principais índices de ações do mercado europeu fecharam o pregão desta terça-feira em queda, com investidores preocupados com a tendência dos bancos centrais de elevarem as taxas de juros para conter o aumento da inflação. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Anteriormente, analistas previam que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) promoveria um aumento de 50 pontos-base, mas após os dados de inflação virem mais altos do que o esperado, a perspectiva é de que a elevação seja de 75 pontos-base.

Hoje, a divulgação dos dados do Indice de Preços ao Produtor dos Estados Unidos (PPI, na sigla em inglês) dentro do esperado reforçou a expectativa de elevação dos juros em meio à desaceleração econômica global. o PPI subiu 0,8% em maio na comparação com o mês anterior, após a alta de 0,4% em abril, já descontados os fatores sazonais, informou o Departamento do Trabalho.

Ontem, o mercado precificou cerca de 200 pontos base de aperto até a decisão do banco central norte-americano em setembro, ou seja, a possibilidade de alta de até 2% nas taxas de juros nos Estados Unidos neste período, resultando em taxa terminal de 4% até meados de 2023.

Por aqui, os investidores acompanham se o Banco Central (BC) sinalizará novos aumentos. Nesta terça-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC começou a quarta reunião do ano para definir a taxa básica de juros, a Selic e amanhã (15/6), ao fim do dia, anunciará a decisão e as chances de aumentar os juros na próxima reunião em agosto.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, o PPI em linha com o que o mercado esperava não tira a pressão de inflação para a reunião do Fed e não muda o cenário visto ontem. “O mercado dá como praticamente certo que o Fed irá aumentar os juros acima do que vinha sendo anunciado. A inversão da curva de dez para 30 anos, já indicou isso”, comentou.

Já o cenário local também indica uma piora das condições fiscais, após a aprovação, ontem pelo Senado, do projeto que cria um teto de 17% a 18% para as alíquotas de ICMS sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transportes. A proposta teve alterações e, por isso, precisa ser enviada para Câmara antes de ser sancionada.

Na visão de Komura, o mercado não vê o projeto com bons olhos. “O projeto não é positivo, é um paliativo, pode reduzir o IPCA mas joga a conta para a frente. O combustível está caro, isso reduz o consumo, mas a concessão de subsídio vai estimular a demanda, pode ter desabastecimento e joga a conta para a frente. Isso acaba sendo negativo”, avalia.

Em relação à reunião do Copom, o analista destaca que o mercado acompanha se o grupo deixará “a porta aberta” para elevar os juros na próxima reunião de agosto. “Com o risco fiscal crescente, o Copom pode ter que reajustar o comunicado e elevar os juros na próxima reunião. Os agentes do mercado aumentam a aposta para uma alta de mais mais 0,5 ponto por conta do maior risco fiscal”, afirma.

Para o analista Filipe Villegas, da Genial Investimentos, haverá um consenso de mercado de que o mundo vai entrar em um período de desaceleração econômica e que isso será acelerado pela ação conjunta dos principais bancos centrais dos Estados Unidos e Europa com a elevação de juros, e essa combinação de juros mais recessão tende a ser bastante negativa para os ativos de risco, como tem sido observado nos últimos dias.

O dólar fechou em alta de 0,43%, cotado a R$ 5,1350. A sessão foi dominada pela expectativa com a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que ocorre amanhã, e anunciar o aumento mais agressivo dos juros.

De acordo com o estrategista chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o mercado rapidamente migrou de um aumento de 0,5% para 0,75%. A possibilidade um aumento da mesma magnitude na reunião de julho também está precificada. O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve adotar um tom mais duro no discurso”.

Rostagno, contudo, acredita que a moeda brasileira deve ter alguma estabilidade: “O espaço para novas desvalorizações do real nos próximos dias é bem limitado. RS 5,20 deve representar o novo nível de resistência”, projeta.

Segundo o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “houve uma precificação para que o Fomc promova duas altas de 0,75%. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) pode ter sido o divisor de águas”. O CPI teve alta de 1,0% em maio ante abril e acumulou 8,6% em 12 meses, pior resultado desde dezembro de 1981.

Serrano entende que o movimento de hoje não chega a ser uma correção ante ontem, mas um “rebote”, e ainda vê o dólar ainda flutuando entre R$ 4,80 e R$ 5,00, já que a Selic (taxa básica de juros) e as commodities ainda são favoráveis à moeda brasileira, mas que a depender dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) esta situação pode mudar.

Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “o cenário continua bastante incerto. A preocupação com um possível quadro de recessão nos Estados Unidos por conta do aumento dos juros, somada à inflação em vários países e incertezas sobre a recuperação da China são os principais responsáveis pelo aumento de aversão ao risco nos mercados”.

Quartaroli também entende que novos reajustes da Petrobras podem anular as medidas pretendidas pelo governo para conter o preço dos combustíveis, contribuindo para a piora do cenário doméstico.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, em semana de reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) e Copom (Comitê de Política Monetária), com mercado avesso ao risco.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,690% de 13,545% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,665%, de 13,290%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,100%, de 12,745% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,010% de 12,740%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1320 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com o S&P 500 caindo 0,37% e entrando em território de correção pela primeira vez desde o auge da pandemia. Os investidores seguem pessimistas com um aperto monetário ainda mais forte por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,50%, 30.364,83 pontos

Nasdaq 100: +0,18%, 10.828,3 pontos

S&P 500: -0,37%, 3.735,48 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA