Bolsa cai 1,37%, seguindo mau humor externo às vésperas do payroll; dólar fecha estável

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São Paulo – A Bolsa fechou em forte queda seguindo o mau humor em Nova York às vésperas da divulgação do relatório de emprego nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês), um dos dados mais importantes para entender a economia daquele país, e com a preocupação em relação aos juros por lá.

Soma-se a isso as discussões em relação ao novo arcabouço fiscal por aqui fica no radar. Nem mesmo as falas da ministra do Planejamento, Simone Tebet, sinalizando que o novo arcabouço fiscal vai agradar a todos, inclusive ao mercado, ajudou o Ibovespa. Mas, a piora veio perto do fechamento. O dia foi de bastante volatilidade.

Nos Estados, os últimos indicadores têm apontado que o mercado de trabalho está aquecido e esta semana o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reforçou que os juros devem seguir em patamares mais elevados preocupando os investidores. Atualmente, a taxa está na faixa entre 4,5% e 4,75% ao ano.

Por aqui, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) operaram praticamente todo o pregão em alta e próximo ao fechamento virou para queda, encerrando em baixa de 1,24% e 0,43%, respectivamente.

O principal índice da B3 caiu 1,37%, aos 105.071,19 pontos. O Ibovespa futuro om vencimento em abril perdia 1,88%, aos 105.945 pontos. O giro financeiro era de R$ 26,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas operavam em baixa.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que as bolsas em Nova York pioraram no final do pregão e acabaram refletindo aqui. “Como amanhã tem payroll, pode ser uma antecipação e os últimos dados nos EUA têm vindo muito forte, pressionando ainda mais a curva de juros”.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse que a sessão de hoje tem “um pouco de pausa com os investidores aguardando o payroll amanhã e ninguém quer se posicionar muito”. Em relação às ações, Cruz comentou que a Petz (PETZ3) caía refletindo o balanço na dificuldade em incorporar marcas e perdendo margem com expansão”. As ações fecharam em queda de 7,09%.

Lucas Almeida, especialista em investimentos e sócio da AVG Capital, disse que a Bolsa cai em um dia marcado pelas expectativas em torno do novo arcabouçou fiscal discutido entre os ministros da Fazenda e Planejamento. “Um arcabouço crível é amplamente valorizado pelo mercado e os investidores aguardam medidas que apontem uma preocupação com a sustentabilidade das contas públicas e que estejam alinhas com as expectativas globais”.

Almeida disse que o setor de materiais básicos “pesa no Ibovespa hoje após resultados ruins como CSN (CSNA3) e 3RPetrolium (RRRP3). CSN lucrou no 4T22 R$ 197 milhões, queda de 81% em relação ao mesmo período do ano anterior. E a 3R Petroleum saiu do lucro para prejuízo de R$ 38,9 milhões nos três últimos meses de 2022. 3RPetroleum (RRRP3) caiu de 6,08% e CSN (CSNA3) perdeu 8,06%.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que hoje é um dia de pouca notícia e o mercado fica no aguardo do payroll amanhã (10) e na terça (14) o CPI, inflação ao consumidor nos Estados Unidos, “talvez dê mais direcionamento dos juros lá fora e aqui à espera se o arcabouço vai para o Congresso”.

Moliterno disse que os investidores ficam à espera da reunião entre os ministros da Fazenda Fernando Haddad e do Planejamento, Simone Tebet, “para um alinhamento final e encaminhar a proposta para o Congresso e iniciar as discussões e isso já veio refletindo positivamente no mercado desde ontem de que os juros poderiam começar a cair; o seguro desemprego nos EUA subiu e ajudou o mercado, mas está volátil; as ações da Petrobras sobem acompanhando do petróleo e também refletem as declarações do Prates em uma conferência nos EUA que disse que o “core” da estatal continuará sendo a exploração do petróleo e na parte de refino disse que vai modernizar as refinarias existentes; a possível queda da Selic favorece as empresas da economia doméstica como varejo, consumo e construção”.

Um outro analista do mercado financeiro que não quis se identificar disse os “bancos e as commodities metálicas estão fracos e ajudam a empurrar a Bolsa para baixo”.

O dólar fechou em queda, quase estável. A moeda reflete a espera pela divulgação do payroll (folha de pagamento), amanhã, nos Estados Unidos, enquanto, em segundo plano, a reunião entre os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, que irão abordar o novo arcabouço fiscal, também é monitorada. Por volta das 17h00 (horário de Brasília), o dólar comercial caía 0,01%, cotado a R$ 5,1400 para venda.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o mercado está em compasso de espera. O (presidente do Fed, Jerome) Powell deixou as portas abertas para um aumento de 0,5 ponto percentual (pp), condicionado aos indicadores econômicos. Os dados de amanhã serão determinantes para a reunião do Fed deste mês”.

Para o economista da BlueLine Flávio Serrano prevê que a taxa terminal de juros nos Estados Unidos fique no intervalo entre 5,75% e 6%, e que o aumento na próxima reunião do órgão será 0,5pp, e classifica o payroll como um dado-chave.

Já no cenário doméstico, Serrano visualiza um alinhamento do real com seus pares emergentes, já que a moeda estava defasada: “Existe grande expectativa do arcabouço fiscal ainda em março e o real melhorou neste contexto”, pontua.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, ações recuam, com os investidores cautelosos quanto aos próximos passos da política monetária. Ontem, o presidente do Fed Jerome Powell comentou que não foi tomada nenhuma decisão quanto ao ritmo de ajuste dos juros e que aceleração da alta é uma opção. Por aqui, Fernando Haddad e Simone Tebet se reúnem para discutir a proposta do novo arcabouço fiscal”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, em ajuste após novas informações sobre o novo arcabouço fiscal.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,025% de 13,085% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,220%, 12,395%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,350%, de 12,545%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,570% de 12,790% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 5,1350 para
venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda com os investidores se preparando para o relatório de empregos de fevereiro que será divulgado amanhã, um dado essencial para a definição dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,66%, 32.254,86 pontos
Nasdaq Composto: -2,05%, 11.338,00 pontos
S&P 500: -1,84%, 3.918,32 pontos

Com Pedro do Val de Carvalho Gil e Julio Viana / Agência CMA