BCE deve aumentar as taxas de juros em 0,75 pp

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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde / Foto: BCE

São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) deve elevar as taxas básicas de juros em 0,75 ponto percentual (pp) na reunião da próxima quinta-feira (8), após o aumento de 0,50 pp visto em julho – o primeiro desde 2011.

Os aumentos acentuados no preço da energia após a invasão russa da Ucrânia aumentaram a pressão sobre as famílias e levaram o ritmo de aumento dos preços ao consumidor a novos máximos. A inflação na zona do euro atingiu 9,1% em agosto, um recorde na história do bloco e bem acima da meta de 2% do BCE.

O atraso do BCE em relação a seus pares em decidir elevar os juros colocou uma grande pressão sobre o euro, agora negociado abaixo da paridade com o dólar. Portanto, os dirigentes da instituição precisarão agir de forma rápida e enérgica para recuperar o tempo perdido.

“Ainda parece que o BCE está tentando recuperar o atraso e isso torna mais provável que eles subam 0,75 pp e permaneçam hawkish [propensos ao aperto monetário]”, diz Mike Riddell, gerente sênior de portfólio de renda fixa da Allianz Global Investors.

Nas últimas semanas, uma série de dirigentes do BCE se manifestou a favor de um aumento agressivo dos juros agora em setembro, com Isabel Schnabel, inclusive, defendendo que os bancos centrais devem agir com determinação para combater a inflação, mesmo que custe uma recessão.

“Mesmo que entremos em recessão, temos poucas alternativas senão continuar o caminho da normalização”, disse a dirigente durante o simpósio do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em Jackson Hole no final de agosto.

Joachim Nagel, presidente do banco central da Alemanha e uma das principais vozes do conselho do BCE, também tem defendido uma postura mais incisiva, com a última leitura da inflação levando-o a pedir um aumento maior de juros em setembro e nos meses seguintes.

Um aumento da taxa de juros de 0,75 ponto percentual pelo BCE na quinta-feira será do tamanho e no momento apropriados se o banco central quiser se beneficiar da janela de oportunidade para reduzir inflação, disse Lale Akoner, estrategista sênior de mercado do BNY Mellon Investment Management, à Dow Jones Newswires.

“As expectativas de inflação já eram uma das principais preocupações na reunião anterior do BCE, e com ainda outra surpresa inflacionária o risco de desancoragem está crescendo. O BCE tem de mostrar que irá fazer o que for necessário para voltar à inflação de 2%, ou corre o risco do desafio muito mais caro de ter para reancorar as expectativas”, dizem os especialistas do Rabobank.

“Isso significa que o BCE não pode decepcionar na próxima reunião, para que não corre o risco de dar a impressão de que os riscos de crescimento ainda superam a inflação na sua tomada de decisão. A preços de mercado atuais, isso significa que o BCE tem que entregar um aumento de 0,75 pp”, completam.

Os riscos para a economia da zona do euro são maiores agora do que na última reunião do BCE e se intensificaram nesta semana após a Rússia decidir interromper indefinidamente os fluxos de gás para a Europa através do gasoduto Nord Stream 1. Diante disso, o euro voltou a perder força e os preços do gás na Europa dispararam.

A decisão da Rússia de fechar o gasoduto Nord Stream provavelmente levará a novos aumentos nos preços do gás natural, sugerindo que a inflação da energia e o aperto na renda dos consumidores continuará, diz a economista sênior da Europa do Pantheon Macroeconomics, Melanie Debono.

“Esperamos que uma rasa recessão na Itália e mais profunda na Alemanha arraste toda a zona do euro para uma recessão técnica até o final do ano”, diz Debono. No entanto, espera-se que o BCE aumente os juros as taxas em 1,75 ponto percentual até dezembro, começando com um aumento de 0,75 pp na quinta-feira, afirma.

O BCE encontra-se em um dilema para quinta-feira: ser mais moderado na subida dos juros para não afundar ainda mais a economia ou aumentar radicalmente o custo do dinheiro, apostando todas as fichas em limitar a queda do euro e a escalada da inflação, mesmo que isso custe à zona do euro uma recessão.