BC fez um bom trabalho em relação ao pouso suave da economia, diz Campos Neto

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Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, participa da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal, em Brasília. (Foto: Raphael Ribeiro/BCB)

São Paulo, 10 de agosto de 2023 – O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse, em audiência no Senado, que a instituição fez um bom trabalho em relação ao pouso suave da economia, controlando a inflação com pequenos custos sobre o crescimento do país e criação de empregos. “Quase nenhum país do mundo conseguiu controlar inflação sem efeitos e aumento no mercado de trabalho como o Brasil”, destacou o presidente.

 

Campos Neto, no entanto, afirmou que ainda há necessidade de controlar a inflação, principalmente do setor de serviços. Segundo ele, a inflação de serviços não tem caído como as outras e a situação preocupa. O presidente do BC fez questão de frisar que parte das revisões de classificação de agências e elogios de organismos internacionais ao desempenho da economia deve-se à atuação do BC, de forma autônoma e técnica, conduzindo a política monetária.

 

O presidente do Banco Central apresentou estudos que mostram a relação entre o grau de autonomia do BC e a inflação. Segundo Campos Neto, “a inflação média cai à medida que a autonomia cresce e a variância de inflação também cai quando a autonomia é maior”.

 

Campos Neto admitiu que a taxa de juros real no Brasil é alta, se comparada com a de outros países da América Latina. Mas ponderou que a diferença vem caindo nos últimos dez anos. “De 2014 a 2019, (a taxa de juros no Brasil) era 3,6% acima da média. Entre 2021 e 2023, foi 2,9%. Hoje, é 2% acima da média. Então, a taxa de juros real do Brasil hoje é alta? É. Mas ela é bem menos alta em relação à média do que foi no passado. Essa crítica de que a taxa de juros é muito alta é verdadeira, mas não resiste à análise comparativa intertemporal”,

 

Roberto Campos Neto disse que os gastos públicos do Brasil são “bem acima do resto do mundo” e sublinhou o “risco fiscal”, mas reconheceu que o governo está fazendo um “grande esforço” em relação ao equilíbrio fiscal. “Ao passarem as medidas que vão trazer mais receita [do novo arcabouço fiscal], esses números devem melhorar. Isso também vai contribuir para uma inflação menor lá na frente. Se a gente consegue ancorar essa expectativa fiscal, eu também consigo ancorar a expectativa monetária. Isso vai fazer com que os juros fiquem menores lá na frente”.

O presidente do BC destacou a importância da adoção do regime de metas e o impacto positivo que teve para o país. “Depois que o sistema de metas foi adotado, o Brasil ficou grande parte do tempo dentro da meta de inflação. O sistema é eficiente para manter a inflação baixa e a expectativa ancorada”, afirmou, lembrando que em boa parte do mundo a meta de inflação está entre 2% e 3% ao ano.

 

Campos Neto alertou para o comportamento da economia de países que abandonaram a autonomia ou a meta de inflação, casos da Turquia e da Argentina. “A Argentina está com inflação acima de 115% ao ano e provavelmente terá que anunciar um pacote de medidas após as eleições”, disse o presidente do BC.

 

Segundo ele, a inflação está dando sinais de melhora no mundo, mas os núcleos seguem resilientes. Destacou que Brasil, Chile e México estão liderando a queda nos núcleos inflacionários. O presidente do BC frisou que a inflação brasileira de 12 meses deve levar em conta a desoneração dos combustíveis nos seis meses finais do ano passado, o que pode levar a alta na inflação no segundo semestre no comparativo.

 

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