Às vésperas do feriado, Bolsa fecha em queda de 1,14% e dólar sobe com pessimismo externo

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São Paulo- Às vésperas do feriado da Independência no Brasil, a Bolsa fechou em queda expressiva, perto da mínima do dia-115.983,53 pontos-, acompanhando o mau humor do mercado externo após indicadores piores na Europa e, principalmente nos Estados Unidos, e o receio de aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). A alta do petróleo também ficou no foco dos agentes financeiros porque pressiona a inflação.

Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 0,48% e 0,44% acompanhando a valorização do petróleo. A Vale (VALE3) caiu 1,59%. A ação da Vamos (VAMO3) liderou as quedas no Ibovespa de 7,09%, após o JP Morgan cortar a recomendação de compra para neutra e reduzir o preço-alvo.

Na zona do euro, as vendas no varejo caíram 0,2% em julho e na Alemanha, as encomendas à indústria também recuaram 11,7% no mesmo período. Já nos Estados Unidos, o PMI de serviços registrou queda de 50,5 pontos em agosto na leitura revisada.

O principal índice da B3 caiu 1,14%, aos 115.985,34 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 1,39%, aos 117.360 pontos. A máxima no interdiário foi de 117.907,71 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,5 bilhões. Em Nova York, as bolas fecharam no negativo.

Caio Canez de Castro, sócio da GT, disse que a Bolsa caiu “por contaminação com o cenário negativo no exterior, principalmente pela incerteza com relação à decisão de taxa de juros nos EUA. O preço do petróleo que tem subido devido à restrição na oferta também pressiona as expectativas de uma redução na taxa final de juros por lá, já que essa pausa temporária na alta dos juros americanos já está tida como certa. Além disso, a baixa liquidez e o feriado de amanhã reduzem o ímpeto ao risco pelos investidores”.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que o cenário macroeconômico internacional pesa sobre o Ibovespa. “O temor com a alta de juros globais por mais tempo que o esperado voltou a preocupar o mercado; na política local tivemos a aprovação do Desenrola que estabelece um limite para o crédito do rotativo e impacta os grandes bancos, as incertezas fiscais no Brasil e os indicadores da atividade nos EUA também contribuem com o desconforto dos investidores hoje, alguns dirigentes falaram sobre a necessidade de mais um aperto monetário e dados mais cedo da Europa também refletiram no mercado; apesar do cenário desafiador, as ações da Petrobras tentam limitar a queda do Ibovespa; acompanhando o rali dos preços do petróleo”.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o mau humor aqui é atribuído ao ambiente adverso lá fora. “A piora dos mercados é devido ao cenário macroeconômico externo, na Europa os dados fracos, nos Estados Unidos o mercado esperava com um soft landing, mas pode mudar se os subirem os juros, o quadro de recessão já existe, a dúvida é se será mais agressiva ou não, além disso aqui não tem nada animador para fazer a Bolsa subir com a preocupação com o fiscal”.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que a piora na Bolsa é atribuída preocupação com a economia global. “Na zona do euro, o varejo veio pior-caiu 0,2% em julho ante junho-, na Alemanha as encomendas caíram 11,7% em julho na base mensal, China tem mostrado dados piores e fica a expectativa de mais estímulos para estimular a economia local; nos Estados Unidos os dados estão fortes; o mercado estava trabalhando com início de corte de juros em março do ano que vem, se os indicadores continuarem fortes, esse quadro pode mudar e o Fed pode até subir os juros”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,16%, cotado a R$ 4,9841. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor com os rumos econômicos da China e zona do euro, além da precificação de que os juros norte-americanos permanecerão elevados por mais tempo.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “a nebulosidade global começou a influenciar o mercado financeiro local”.

Abdelmalack explica que as recentes altas dos juros das curvas de juros mais longas nos Estados Unidos foram prejudiciais para os ativos de risco, como o real.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o cenário global está dual. Os Estados Unidos mostram resiliência, com a atividade mais morna mas performando bem, enquanto, em contrapartida, a Europa está muito mal, ainda mais agora com a questão do petróleo”.

Borsoi salienta que embora a China seja difícil de entender, o problema imobiliário no país asiático é “muito grave”.

Já no âmbito doméstico, Borsoi acredita que o cenário é difuso, com as commodities ainda favorecendo a moeda brasileira, enquanto as incertezas fiscais seguem no radar: “A forma que o governo fez para aumentar as receitas foi muito ruim, baseada em medidas provisórias”, opina.

De acordo com o boletim da Ajax Research, “lá fora, dados mais fracos dados da zona do euro, em especial o volume de pedidos à indústria alemã em julho (-11,7% ante consenso de -4,3%), impactam negativamente os ativos de risco”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham majoritariamente em alta nesta véspera de feriado, depois que dados dos Estados Unidos mostraram que a economia está aquecida e teima em não arrefecer. Na leitura do analista Rafael Passos, da Ajax Asset, a divulgação do Livro Bege não impactou a curva de juros. O que faz preço é a divulgação dos dados econômicos da manhã, que mostraram uma atividade econômica resiliente nos Estados Unidos.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,390% de 12,370% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,605% de 10,615%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,275%, de 10,270%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,505% de 10,470% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, à medida que cresceram as preocupações de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa não ter terminado de aumentar as taxas de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,57%, 34.443,91 pontos
Nasdaq 100: -1,06%, 13.873 pontos
S&P 500: -0,69%, 4.465,48 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA