Ânimo com Copom dura pouco e Bolsa fecha em leve queda em meio a exterior negativo, dólar sobe 1,91%

667
Imagem perspectiva mercados
Indicadores da Bolsa de Valores

São Paulo -A Bolsa fechou em leve queda, devolveu os ganhos da manhã após o otimismo com o corte de 0,50 ponto porcentual da taxa básica de juros (Selic), com o cenário externo mais desafiador, piora do setor bancário na expectativa do resultado do Bradesco e à espera do balanço de Petrobras (PETR3 e PETR4, ambos após o fechamento do mercado.

Os papéis da Dexco (DXCO3), Suzano (SUZB3), Petrorio (PRIO3) e 3RPetroleum (RRRP3) foram destaque de alta refletindo os resultados no 2T23 reportado ontem após o fechamento do mercado. A Suzano também foi beneficiada pela alta do dólar. Enquanto a CSN (CSNA3) caiu 1,42% com o mercado reagindo ao resultado reportado na véspera, pressionada pela alavancagem.

As ações de peso no índice subiram como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR4), mas não conseguiram ajudar na alta do índice. Com o corte da Selic, as ações sensíveis a juros chegaram a subir, mas algumas acabaram fechando em queda como as varejistas.

O principal índice da B3 caiu 0,22%, aos 120.585,77 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 0,22%, aos 121.055 pontos. O giro financeiro foi de R$ 27 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que “euforia com a decisão do Copom blindou o Ibovespa contra o sentimento negativo do exterior, mas o índice se afastou da máxima-122.619,14 pontos- até entrar em campo negativo na última hora do pregão, à medida que os investidores também buscaram ser cautelosos. A mudança de sinal das ações dos bancos ajudou para redução do ritmo do Ibovespa, em parte explicado pelo aguardo do balanço do Bradesco”

Nishimura disse que as ações da Eletrobras (ELET3 e ELET6) caíram na sessão de hoje “pressionadas por declarações de membros ligados ao governo de que as obras de Angra 3 podem ficar de fora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”. O PAC será divulgado no próximo dia 11 e a Eletrobras é sócia da Eletronuclear, controladora de Angra 3.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que a Bolsa abriu com ‘gap’ de alta com o mercado mais animado com o corte de 0,50 pp na Selic e os papéis mais sensíveis a juros foram beneficiados, mas “devolveu os ganhos por conta do cenário externo que não ajudou diante da preocupação com juros altos lá fora, rebaixamento da nota EUA e estamos em meio à temporada de balanços, a expectativa fica para o resultado da Petrobras e do Bradesco, após o fechamento”.

Bruna Sene, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos, a Bolsa sobe, mas é limitada pelo exterior, câmbio e volatilidade das ações que reportaram resultados.

“A Bolsa chegou a ter uma abertura positiva reagindo ao Copom depois ficou volátil e voltou a subir. Ela está sendo ofuscada pela questão do exterior com o rebaixamento da nota de crédito dos EUA e espera pelo payroll e o câmbio aqui pode estar limitando a alta [do Ibovespa] por causa do carry trade, as ações estão reagindo aos resultados corporativos, muitas estão se ajustando; o setor que melhor reage ao corte dos juros é o ciclo, principalmente as construtoras que já vinham com a expectativa nessa redução”.

Mais cedo, Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o Ibovespa está “sentindo o impacto das notícias lá de fora, o minério caiu forte e era esperado a queda da Vale; aqui havia expectativa de queda de juros, não era consenso corte de 0,50 ponto porcentual (pp), mas de 0,25 pp. A medida que o mercado vai absorvendo a notícia do corte mais agressivo de 0,50 pp e colocando as informações do mercado externo, vai devolvendo. O destaque fica para as ações sensíveis à curva de juros, que está caindo e favorece às varejistas”.

Mais cedo, o sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse o corte da Selic favorece a Bolsa no curto prazo, mas o otimismo vai depender do cenário externo.

“A queda da Selic de 0,50 ponto porcentual (pp) deve ajudar a Bolsa no curto prazo, especialmente, porque o comunicado deixou claro que as próximas quedas devem vir na mesma magnitude de 0,50 pp, salvo se tiver alguma alteração na inflação ou atividade econômica, mas pode ser abafada pelo mercado externo-ainda reflexo do downgrade dos EUA, os pedidos de seguro de emprego nos Estados Unidos vieram abaixo do esperado e está em compasso de espera para o payroll”.

Farto também disse o mercado vai ficar atentos aos balanços relevantes de hoje após o fechamento. “Em relação à Petro, queremos ver se tem algum guidance para a política de preços, que está defasada na comparação com o mercado internacional e tem Bradesco; outro ponto que ressalto é que a queda [da Selic] foi unânime , mas não pela magnitude, o voto do Campos Neto foi voto de minerva e por uma queda mais agressiva, isso deve esfriar a relação mais de provocação [do governo] contra RCN, mas quero ver se RCN estaria mais inclinado a ceder pressões do executivo, imagino que não, mas vamos ver como o mercado vai interpretar”.

Os analistas da Commcor Corretora disseram que o Copom deu início ao ciclo de queda de juros com o voto minerva do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e decidiu no corte maior de 0,50 ponto porcentual (pp).

“Era amplamente esperado uma redução, o que não era tido como consenso era a magnitude dessa primeira queda, visto que as principais apostas do mercado giravam em torno de 25 e 50 pontos base, com a maioria se concentrando em 25pb. Vale destacar que o voto do presidente do BC e de ambos os indicados pelo governo (Aílton Aquino e Gabriel Galípolo) foram os mesmos, o que indica uma aproximação entre o governo e a política monetária. Dentre os argumentos vistos no comunicado para a decisão, o Comitê destacou a melhora do quadro inflacionário devido ao aperto econômico alinhado a melhora das expectativas de inflação para prazos mais longos. Apesar de que este corte de 50pb possa alimentar uma busca por risco, em especial pelas ações do Ibovespa, o cenário externo dessa manhã não é positivo e pode limitar os possíveis ganhos dos papéis locais durante o dia”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,91%, cotado R$ 4,8971. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as indefinições que envolvem a economia dos Estados Unidos e o corte na Selic (taxa básica de juros).

De acordo com o economista-chefe da G5, Luis Otávio Leal, existe pressão concentrada nas moedas emergentes, já que o DXY (cesta de moedas desenvolvidas) está quase no zero: “Está pesando que as economias emergentes começaram a cortar os juros”, diz.

Questionado sobre a parcela da claudicante recuperação da economia chinesa no movimento do câmbio nesta quinta, Leal é taxativo: “Tenho a sensação de que, cada vez mais, a China será um problema e não uma solução”, dispara.

Segundo o economista da Guide Research Victor Beyruti, a abertura da curva de juros nos Estados Unidos gerou um clima de aversão global ao risco.

Beyruti entende que o corte na Selic tem menos influência no movimento de hoje, que é impactado majoritariamente por fatores externos.

No começo da noite de ontem o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou o corte de 0,50 ponto percentual (pp) na Selic, que foi a 13,25%.

Para o analista da VG Research Luan Alves, o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu parte do mercado, e que até o final do ano devemos ter uma agenda negativa para a moeda brasileira, já que o Banco Central (BC) deve seguir com o corte de juros, enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tende a fazer o movimento contrário: “Isso traz uma pressão vendedora pro real”, avalia.

Alves, contudo, sublinha que a moeda brasileira está em linha com seus pares emergentes ligados às commodities, e que recuperação claudicante da economia chinesa e o temor de recessão nos Estados Unidos reforçam este cenário. As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em forte queda, com mercado ainda digerindo a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de cortar 0,50 p.p da Selic (taxa básica de juros), a primeira queda em três anos.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,450 % de 12,625% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,480 % de 10,675%, o DI para janeiro de 2026 ia a 9,945 %, de 10,035 %, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,070% de 10,075% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta quinta-feira em queda, pressionados pelo aumento dos títulos do Tesouro norte-americano, que desencadeou uma fuga dos ativos de risco. O S&P 500 registrou sua terceira queda consecutiva após os Treasuries atingirem um patamar próximo a 4,189%, o mais alto desde novembro de 2022.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,19%, 35.215,89 pontos
Nasdaq 100: -0,10%, 13.959,7 pontos
S&P 500: -0,25%, 4.501,89 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes/ Agência CMA