Analistas avaliam impacto da elevação da tarifa de importação de aço para siderúrgicas

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Aço

São Paulo, 24 de abril de 2024 – O BTG Pactual divulgou um relatório sobre o setor de siderurgia, destacando a decisão do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex) que deliberou elevar para 25% o imposto de importação de 11 tipos (NCMs, nomenclaturas de importação) de aço e estabelecer cotas de volume de importação para esses produtos de maneira que a tarifa só sofrerá aumento quando as cotas forem ultrapassadas. Serão avaliadas, ainda, outras quatro NCMs que poderão receber o mesmo tratamento. A medida vale por 12 meses.

“Durante meses, a indústria siderúrgica brasileira tem lutado com o aumento da importação de aço chinês, pressões sobre os preços e fraca procura. Esses desafios fizeram a rentabilidade do setor recua fortemente. O anúncio do governo sobre a implementação de cotas de importações e aumentos tarifários é uma medida que acreditamos que poderia ajudar a restaurar a lucratividade do setor (embora o momento e a extensão sejam altamente questionáveis)”, comentou o BTG.

O banco de investimentos ressaltou que o Brasil não está sozinho nesta luta, pois muitos países estão adotando medidas semelhantes em resposta à enxurrada de importações baratas (chinesas). Segundo a analise, a indústria já sofreu reduções significativas de capacidade e demissões, o que levou a esta resposta.

“Em em termos práticos, isto representa uma oportunidade para os produtores siderúrgicos locais recuperarem parte do mercado das importações e ajustar gradualmente os preços. Embora este movimento ainda seja tímido, ele deve trazer um alívio para os players da indústria”, explicou o BTG.

Ontem, após o anúncio do Comitê, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, lembrou que foi verificado que nos últimos anos, especialmente no ano passado, um grande aumento de importação em alguns itens, alguns produtos do aço, chegando a mais de mil por cento em alguns casos. A análise chegou a uma média de quanto aumentou em 2020, 2021 e 2022 a acrescentou mais 30% acima.

“Até esse limite, não houve alteração, fica como está hoje. Já a importação que for superior a 30% da média dos últimos 3 anos e 2020, 21 e 22, a alíquota passará para 25%”, explicou Alckmin. “A nossa análise é de que nós vamos ficar, em grande parte, dentro da cota sem nenhuma alteração. Mas o que extrapolar 30% acima da média, aí sim, aplica a nova alíquota de importação.”

O BTG disse ainda que tem visto a Gerdau como uma oportunidade de negociação, mas ainda com uma recuperação tímida no Brasil, com previsão de margens Ebitda oscilando em torno de 8%, perto de mínimos históricos (em comparação com níveis intermediários de 18-20%), sugerindo desvantagem limitada.

“No entanto, ainda precisávamos de mais informações sobre seu programa de redução de custos e de ganhar confiança de que o ambiente de negócios no Brasil melhorou. Além disso, nos EUA, os resultados permanecem fortes, com spreads de metal saudáveis e uma perspectiva sólida de demanda. A América do Norte agora contribui quase dois terços da sua geração de Ebitda, mas a empresa continua a ser vista principalmente como uma aposta brasileira (os pares dos EUA negociam com Ebitda de 7x a 9x, enquanto a Gerdau negocia perto de 4x). Vemos as ações sendo negociadas a 4x Ebitda 2024, com rendimentos FCF implícitos entre 9% e 10%, e com pouca dívida”, detalhou o BTG.

Sobre a Usiminas, a análise apontou que as recentes orientações sobre custos trazem riscos negativos relevantes para as estimativas de consenso para 2024. Para a CSN, o BTG disse continuar preocupado com um caminho de desalavancagem muito mais lento do que o previsto.

Para BofA, elevação de tarifas de importação do aço favorece Usiminas e CSN

O Bank of America (BofA) avalia que a elevação de tarifas de importação do aço pelo governo federal anunciada ontem é marginalmente positiva para as siderúrgicas brasileiras, mas o potencial de ganho de participação de mercado e poder de precificação é limitado. A análise vê a Usiminas e a CSN como os mais beneficiados pela medida, citando que, em termos de exposição à receita, a primeira teve 81% de sua receita proveniente das vendas domésticas de aço em 2023, a segunda, 36% e a Gerdau 34%.

“No geral, consideramos o anúncio marginalmente positivo para as siderúrgicas brasileiras, que têm lutado com uma demanda interna fraca (demanda interna estável no acumulado do ano), lucratividade fraca, com margens abaixo das médias históricas e poder de precificação limitado. No entanto, presumindo que as importações sejam limitadas à média de 2020-22, implica que as importações de aço acabado caiam cerca de 500 kt em relação aos níveis de 2023 (2,1% da procura aparente para 2023)”, comentam os analistas do BofA. “Dado que a grande maioria dos produtos abrangidos pelas novas medidas são aços planos, a Usiminas e a CSN são as que mais ganham”, acrescentam.

Eles ressaltam que o valor de 500kt superestima o impacto, pois nem todos os produtos se enquadram no âmbito das medidas anunciadas. Assim, mesmo no melhor cenário, o impacto seria limitado a aproximadamente 2% do consumo aparente de aço. “Portanto, embora a medida anunciada deva permitir que as siderúrgicas capturem alguma parte das importações, uma recuperação substancial da procura interna ainda é necessária, na nossa opinião, para gerar ganhos de quota de mercado mais significativos e para aumentar o poder de fixação de preços.”

Atualmente, o BofA vê os preços domésticos da BQ no Brasil com um prêmio de 9,7% em relação à bobina a quente (BQ) importada da China e o vergalhão brasileiro com um prêmio de 5,8% em relação ao vergalhão importado da China, o que está próximo dos níveis normalizados e, portanto, reduz a probabilidade de aumentos de preços neste momento. “Notamos também que as quotas e tarifas de importação mais elevadas anunciadas são válidas apenas por 12 meses, o que também limita o benefício destas medidas.”

Por volta de 14h40 (horário de Brasília), as ações das siderúrgicas operavam em queda: Usiminas (USIM5) caía 3,84%, a R$ 8,76, Gerdau (GGBR4) recuava 2,12%, a R$ 18,42 e CSN (CSNA3) perdia 0,62%, a R$ 14,33.

Com Cynara Escobar / Safras News

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