Acordo Mercosul-União Europeia é prioridade e deve estar baseado na confiança mútua e não em ameaças, diz Lula

731
Presidente participa da terceira Cúpula CELAC-UE, em Bruxelas.

São Paulo – O presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a redução das desigualdades nas relações comerciais entre Europa e os países da América Latina e Caribe, com transferência de tecnologia, e a regulamentação de plataformas digitais para combater os crimes na internet e ameaças à democracia.

“Compartilhamos uma longa história de laços com a Europa. Temos que encontrar caminhos para superar as lacunas de desenvolvimento entre as regiões. Precisamos reajustar o troca que condena a América Latina e Caribe ao fornecimento de matérias-primas. A Europa é exemplo de democracia e, como mostrou após a Segunda Guerra, que podemos superar as diferenças regionais”, disse Lula, em discurso na cúpula da Celac em Bruxelas, na Bélgica, nesta segunda-feira.

Lula voltou a dizer que a floresta amazônica não pode ser vista apenas como um santuário ecológico e que um acordo de cumprimento da sua preservação não pode ser feito sob ameaças dos países europeus. “O mundo precisa se comprometer com o viver bem dos povos da Amazônia”, disse.

O presidente brasileiro reafirmou a intenção de “assegurar uma relação comercial justa, sustentável e inclusiva”, e defendeu a conclusão do Acordo Mercosul-União Europeia como “uma prioridade” e que “deve estar baseada na confiança mútua e não em ameaças.”

“A defesa de valores ambientais, que todos compartilhamos, não pode ser desculpa para o protecionismo. O poder de compra do Estado é uma ferramenta essencial para os investimentos em saúde, educação e inovação. Sua manutenção é condição para industrialização verde que queremos implementar”, disse.

Lula disse que “proteger a Amazônia é uma obrigação” e reafirmou o compromisso de eliminar seu desmatamento até 2030.

Em relação à guerra entre Ucrânia e Rússia, Lula voltou a repudiar o uso da força no conflito e que isso vem sacrificando as populações dos dois países. Ele voltou a criticar o emprego de recursos pela Otan ao conflito.

“Em 2021, quando discursei no parlamento europeu, o mundo vivia os desafios da pandemia. Mas o mundo parece não ter aprendido, os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres. Milhões passam fome. Ainda há quem negue a crise climática. Os países desenvolvidos não cumpriram o compromisso de repassar recursos aos países mais pobres e gastou US$ 2,4 trilhões para intensificar a guerra”, criticou Lula.

Lula também destacou a volta do encontro, que não ocorria há oito anos e que um dos primeiros atos de política externa do seu terceiro mandato “foi determinar o nosso retorno à CELAC, foro em cuja criação o Brasil teve grande participação.”

“Desde sua formação, a CELAC formou consensos importantes como a proclamação da América Latina e Caribe como uma Zona de Paz, em 2014. Também atuou prontamente durante a pandemia da COVID-19 e não se omitiu face aos desafios da fome e dos ilícitos transnacionais.

Lula disse que os diálogos com União Europeia, China, India, União Africana e Associação das Nações do Sudeste Asiático “demonstram a pluralidade de interesses de nossa região.”

“Com a Europa compartilhamos uma longa história e laços econômicos e sociais”.