Acima do Guidance, somos data dependentes, diz Galípolo sobre Banco Central

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São Paulo – O diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, disse hoje que, para além de perseguir a meta de inflação de 3%, o Banco Central é data dependente, ou seja: toma decisões com base nos dados sobre a economia brasileira que, em sua maioria, eles mesmo produzem. O especialista disse, ainda, que considera que o ritmo de cortes de 0,50 pontos base é moderado e tem dado certo, em palestra ministrada em evento promovido pelo Money Report, em São Paulo.

O diretor citou que a última comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom), fala de cortes no plural e foi essencial para reduzir a volatilidade. “A todo momento a gente vem reforçando que acima do guidance está o data dependence, ou seja, eu tenho o guidance, mas eu tô sempre dizendo que ele vai ocorrer se aquilo que a gente está imaginando se realizar.”

A retirada do plural da palavra ‘corte’, ele diz, significava uma uma possibilidade de redução ou de aceleração de ritmo – muito menos em função de uma mudança na comunicação do Banco Central e mais em como é que estava se lendo em torno do que estava acontecendo. “Eu acho que a coerência das ações e da comunicação da autoridade monetária no Brasil colaborou para ancorar tanto as expectativas dos economistas quanto as apostas do mercado em torno dessa projeção do que seriam as próximas ações do Banco Central.”

RITMO

O ritmo de corte de 0,50 pontos base por cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não é uma política monetária contracionista, ainda que estejamos em um processo de desinflação. Os analistas que são contra esse corte argumentam que as expectativas de inflação não estão ancoradas para os próximos anos – 2025 e 2026 – , além do diferencial de juros com os Estados Unidos, outra preocupação do mercado.

“Conforme você vai reduzindo esse diferencial de taxa de juros dos Estados Unidos, vira um polo de atração maior, ficamos menos atrativos e isso pode ter algum tipo de efeito no câmbio, e por consequência, na inflação .”

Para ele, esse diferencial está se aproximando de patamares historicamente baixos. “O comportamento do câmbio, no entanto, além do comportamento da taxa de juros longa, permanece bastante bom, bastante bem comportado. Basta dizer que a gente assistiu ali uma abertura das taxas dos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) no segundo semestre de 2023 de 100, 120 pontos base e mesmo assim o real se comportou bastante bem – a ponto de dezembro de 2023 ter sido a primeira vez, desde que o Brasil está no regime de câmbio flutuante, que não foi necessário o Banco Central fazer uma intervenção adicional no mercado de câmbio. Ou seja, em 25 anos foi a primeira vez que nós não fizemos uma intervenção adicional no mercado de câmbio em dezembro, onde as relações de mercado, demanda e oferta conseguiram equacionar e permitir que o câmbio se comportasse bem.”

“Por outro lado tem a ideia de que o mercado de trabalho segue aquecido, as expectativas estão desancoradas e o ciclo de flexibilização monetária não começou ainda nas economias avançadas. É nesse mix que eu acho que a escolha, por enquanto, do nível de 50 pontos base de corte se revelou uma escolha ponderada que está entregando frutos positivos”, conclui.