Bolsonaro agiu para fragilizar governadores, diz Witzel à CPI da covid

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O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. (Foto: Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado)

São Paulo – O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse que o presidente Jair Bolsonaro agiu com o objetivo de fragilizar os governadores e que seu processo de impeachment ocorreu como consequência desta estratégia.

“O presidente deixou governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 450 mil mortos tem nome, endereço, e tem que ser responsabilizado”, disse Witzel à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga erros e omissões do governo federal no combate à pandemia de covid-19. “Quantos crimes de responsabilidade esse homem vai ter que cometer até que alguém pare ele?”

“A narrativa que foi criada foi de que governadores vão destruir os empregos, porque sabia o presidente que isolamento social traria consequências graves na economia”, acrescentou Witzel, acrescentando que “se tivesse o governo adquirido os respiradores, liderado o combate à pandemia de forma séria, contundente, tenho certeza que não teríamos chegado onde nós chegamos”.

Ele disse também que seu processo de impeachment foi motivado pela estratégia do governo federal de enfraquecer os governadores “Na primeira busca e apreensão [que sofri], eu disse: ‘eu sou o primeiro, outros virão’. E estamos assistindo.”

“Por trás do meu impeachment estão aqueles que se aliaram a esse discurso de perseguição aos governadores. Eu só fui o primeiro.”

O ex-governador fluminense disse que o nível de cooperação com o governo federal com os estados na pandemia era “praticamente zero”. Ele exemplificou dizendo que tentou pedir ajuda ao Exército para a montagem de hospitais de campanha no Rio de Janeiro, e que teve uma sinalização inicial positiva por parte da instituição, mas que a colaboração não avançou.

“Não tivemos apoio das forças armadas. Nós temos expertise como militares de fazer isso de forma rápida”, disse ele, acrescentando que a responsabilidade neste caso é “não do Exército, mas de quem manda no Exército”.

Witzel considerou que o suporte financeiro do governo federal aos estados veio com atraso, em particular no que diz respeito ao auxílio emergencial. “Se você pede para ficar em casa porque é necessário, e população não tem resposta do auxíiio emergencial na mesma agilidade em que as medidas de combate à pandemia eram acionadas, evidentemente que tem dificuldade”, afirmou.

MORO E RETALIAÇÃO

Witzel disse que a perseguição a seu governo por parte de Bolsonaro se estendeu inclusive ao escalão de ministros – segundo ele, Paulo Guedes, da Economia, disse que não poderia conversar com o ex-governador, e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que deixou o cargo acusando Bolsonaro de interferir na Polícia Federal, agiu para contrariar o interesse do governo do Rio de Janeiro a mando do presidente.

“Houve por parte do governo federal retaliações ao estado do Rio de Janeiro”, disse Witzel à CPI.

No episódio envolvendo Moro, Witzel relatou que pretendia manter no Rio de Janeiro um delegado federal cedido ao estado, Bernardo Barbosa, que atuava como controlador-geral fluminense e estava investigando corrupção no setor de saúde. Em conversa com Moro, disse o ex-governador, o então ministro da Justiça exigiu contrapartidas para manter o delegado no Rio de Janeiro.

Segundo Witzel, Moro teria dito: “o chefe falou para você parar de falar que quer ser presidente, e se você não parar de falar que quer ser presidente, infelizmente a gente não vai poder te atender em nada”. O ex-governador acrescentou: “Aí ministro Moro falou que ia pedir de volta os delegados porque estava sendo determinação do governo federal”.

“O delegado é do governo federal, pode pedir de volta quando quiser, mas não nestas condições. Não havia justificativa para pedir de volta Bernardo Barbosa”, acrescentou Witzel.

Assista a reunião na íntegra: