Volatilidade marca sessão de ajuste de posição de olho no coronavírus

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Foto: Krzysztof Baranski/ freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa fechou em leve queda de 0,24%, aos 104.808,83 pontos, com investidores fazendo ajustes de posições depois de uma sequência de seis pregões de alta, na qual o índice acumulou quase 12% de valorização.

O cenário externo segue mostrando bom humor amparado por esperanças sobre vacinas contra o coronavírus e uma definição nas eleições norte-americanas, mas os mercados acionários já perderam ímpeto, além de balanços corporativos e declarações polêmicas na cena política local também terem pesado para os negócios. O volume total negociado foi de R$ 33,4 bilhões.

“Com certeza há um pouco de ajuste depois de altas fortes, também estamos acompanhando lá fora. No geral, os mercados ainda estão otimistas, mas as Bolsas norte-americanas não mostram a mesma força dos últimos dias”, disse o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos. O índice norte-americano Dow Jones fechou em leve queda, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq subiram.

O analista lembra que tem ocorrido uma rotação de setores nos últimos pregões, movimento que tem escala global. De um lado, estão os papéis de setores que já subiram bastante durante a pandemia, como as ações de e-commerce e tecnologia, e, do outro lado, papéis que sofreram mais impacto da covid-19, como os energia e petróleo, shoppings, aviação, bancos, entre outros.

Ontem e anteontem, investidores voltaram a comprar as ações dos setores descontados, movimento que mostra certo ajuste hoje, lembrando que agora investidores também podem voltar a analisar outros fatores, monitorando ainda o avanço da segunda onda da pandemia, que pode fazer estragos antes de uma vacina aparecer.

No Brasil, declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro, sobre os Estados Unidos e vacinas, ainda trouxeram certo desconforto para o mercado, tendo como pano de fundo um cenário fiscal ainda preocupante. Analistas também citam falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, alertando sobre uma possível volta da hiperinflação.

Entre as ações, as maiores quedas do índice foram da Braskem (BRKM5 -6,56%), da Ultrapar (UGPA3 -6,82%) e da Hering (HGTX3 -4,31%). A Braskem refletiu seus dados do terceiro trimestre, que tiveram alguns pontos positivos, mas mostraram provisão adicional, enquanto Ultrapar devolveu ganhos de ontem. Também recuaram papéis de peso como os da Petrobras (PETR4 -0,86%).

Na contramão, as maiores altas foram dos papéis da Via Varejo (VVAR3 5,60%), do BTG Pactual (BPAC11 5,31%), da B3 (B3SA3 2,40%) e da Marfrig (MRFG3 3,03%). O balanço da Via Varejo será conhecido ainda hoje, enquanto do B3 amanhã.

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos aos indicadores de preços ao consumidor e pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos, além dos dados do setor de serviços no Brasil.

O dólar comercial fechou em alta de 0,53% no mercado à vista, cotado a R$5,4190 para venda, em mais uma sessão de forte volatilidade e amplitude, seguindo o exterior, onde a moeda ganhou terreno ante as moedas pares e de países emergentes em recuperação após as perdas recentes.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, ressalta o movimento volátil da moeda ao longo da sessão, no qual renovou mínimas na primeira parte dos negócios pela “presença de exportadores vendendo” moeda no mercado à vista, se descolando do exterior.

“Também apoiado na melhora do humor interno após a autorização da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para a retomada dos testes pelo Instituto Butantan para o desenvolvimento da vacina CoronaVac, contra a covid-19”, acrescenta. Os testes clínicos da vacina haviam sido suspensos na segunda-feira à noite.

Ao longo da tarde, a divisa norte-americana seguiu volátil, mas voltou a acompanhar o exterior, principalmente, após o peso mexicano ampliar as perdas frente ao dólar em correção em meio aos ganhos recentes.

Amanhã, em dia de agenda de indicadores esvaziada, mais uma vez, a economista da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, ressalta que o movimento tende a ser “mais do mesmo”, caso não haja novidades para o mercado. “O espaço para a recuperação do real é limitado pela pendência de clareza sobre o cenário fiscal. Estamos à mercê de fatos não previsíveis”, avalia.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo a trajetória exibida desde a abertura do pregão, com o ritmo de colocação de prêmios ganhando força ao longo da curva a termo, em meio aos ruídos políticos e riscos fiscais. Os dados abaixo do esperado das vendas no varejo em setembro mostraram desaceleração no ritmo da retomada, levantando dúvidas quanto à extensão do auxílio emergencial.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,41%, de 3,30% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,95%, de 4,82% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,69%, de 6,50%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,48%, de 7,24%, na mesma comparação.

Com o retorno dos investidores para ativos que estão se saindo melhor durante a pandemia do novo coronavírus a exemplo da tecnologia, o S&P 500 e o Nasdaq voltaram a subir, encerrando a sessão em alta, enquanto o Dow Jones terminou o dia próximo da estabilidade, com leve variação negativa.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,08%, 29.392,6397,63 pontos

Nasdaq Composto: +2,01%, 11.786,43 pontos

S&P 500: +0,76%, 3.572,66 pontos