Tensão entre EUA e China faz Bolsa cair 2%; dólar sobe

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São Paulo – O Ibovespa conseguiu no final da sessão aliviar um pouco da pressão de baixa, mas não foi o suficiente para evitar a queda de 2,02% aos 78.876,22 pontos. O recuo veio da tensão entre os Estados Unidos e a China, com o presidente norte-americano, Donald Trump, voltando a acusar o país asiático de criar o novo coronavírus em laboratório.

“Mercado está caindo pressionado por cautela internacional com tensões entre Estados Unidos e China. Tem também uma reprecificação das ações após o feriado de sexta-feira no Brasil. Mas o fator principal é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmando que o acordo comercial com a China agora é de importância secundária diante da pandemia de coronavírus e ameaçou novas tarifas sobre Pequim, elevando as tensões entre os dois países”, afirmou Régis Chinchila, analista de investimentos da Terra Investimentos.

Donald Trump afirmou que a China cometeu “um enorme erro” ao não informar mais cedo sobre a pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, os norte-americanos estão investigando a situação e, caso necessário, darão uma resposta.

“Eu acho que eles cometeram um grande erro que não querem admitir”, afirmou Trump em entrevista ao canal Fox News em evento no Lincoln Center, em Washington. O presidente afirmou que caso necessário, poderá avaliar a aplicação de penalidades tarifárias sobre o país como resposta.

Chinchila explica ainda que existe um fator extra no Brasil. “Aqui, tensões políticas também causam aversão ao risco. Investidores atentos aos desdobramentos do depoimento do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, e as questão entre Bolsonaro [Jair], versus o STF [Superior Tribunal Federal], versus o Congresso, versos as manifestações”, disse ele.

“Semana promete ser tensa com eventuais vazamentos de Moro [Sergio, ex-ministro da Justiça], clima político complicado e covid-19. Além disso, decisão inglesa de juros e ajudas, Copom e produção industrial, payroll nos Estados Unidos e acusações contra China”, firmou Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, em sua conta no Twitter.

Entre as maiores quedas do Ibovespa, as três principais são do setor de aviação. O maior recuo ficou com as ações preferenciais da Azul (AZUL4), com retração de 12,70%, seguido pelas ações preferenciais da Gol (GOLL4), com perda de 10,52% e as ações ordinárias da Embraer (EMBR3), com recuo de 10,48%. Por outro lado, a maior alta do dia ficou com a ação preferencial da Telefônica Brasil (VIVT4), com avanço de 5,87%.

O dólar comercial fechou em alta de 1,61% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5250 para venda, em dia de forte oscilação, refletindo o viés negativo no exterior após as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevando o tom contra a China em relação à pandemia do novo coronavírus e com ameaças quanto ao acordo comercial firmado com o país asiático no começo do ano. Além da correção na volta do feriado prolongado.

“O dólar exibiu forte valorização e intensa volatilidade, chegando a trabalhar de forma pontualíssima acima dos R$ 5,60, em meio à ameaças do presidente norte-americano, Donald Trump, de que iria revisitar as medidas comerciais contra a China, como punição por seu suposto papel na pandemia do novo coronavírus”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

Ele acrescenta que o ambiente político local “desfavorável”, em meio ao apoio do presidente Jair Bolsonaro em manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional no fim de semana, fortaleceram a alta da moeda que chegou a ficar acima de 3%.

Amanhã, à véspera da decisão de política monetária do Banco Central brasileiro, a tendência é de alta da moeda, segundo o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz.

“Um possível corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic já está precificado pelo mercado, assim como indicadores domésticos e do exterior mais fracos refletindo os efeitos da pandemia. Mas não há notícias positivas que possam provocar a desvalorização da moeda”, avalia.