Temor com surto de coronavírus volta a pesar sobre os mercados

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda pelo terceiro pregão seguido – com perdas de 1,05%, aos 112.570,30 pontos mostrando uma correção diante do possível prolongamento da paralisação da economia chinesa em função do surto de coronavírus, o que pode impactar também a economia doméstica, já que a China é o maior parceiro comercial do Brasil.

Esse temor em relação à economia chinesa, somado à proximidade do vencimento de opções do índice, na próxima quarta-feira (12), fez com que o Ibovespa descolasse da alta das Bolsas norte-americanas e fechasse do menor patamar desde o dia 16 de dezembro (111.896,04 pontos). A queda só não foi maior devido à alta de ações de bancos como do Itaú Unibanco, que divulgará hoje seu balanço do quarto trimestre. O volume total negociado foi de R$ 28,3 bilhões, considerado elevado.

“A questão do coronavírus segue afetando a Bolsa e parece que teremos revisões do PIB do Brasil também”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila. O analista lembra que apesar da retomada das atividades previstas para hoje na China, ainda há diversas indústrias e serviços fechados, o que pode atrapalhar empresas brasileiras e culminar com revisões para baixo do PIB brasileiro.

Para Chinchila, a questão do coronavírus ainda pega a economia brasileira em um momento em que não firmou uma recuperação e no qual a Bolsa teve um aumento de investidores, parte deles menos experientes e mais suscetíveis a crises.

Já o operador de renda variável da Commcor, Ari Santos, lembra que a proximidade do vencimento de opções sobre o Ibovespa também pode estar trazendo maior pressão vendedora ao índice.

As ações da Vale (VALE3 -3,66%), que têm grande peso no Ibovespa, fecharam com fortes perdas. Já as maiores quedas do índice foram das ações do IBR Brasil (IRBR3 -16,01%), que refletiram nova carta a cotistas da gestora Squadra, que mostrou desconfiança dos números contábeis da empresa. Além das ações da Marfrig (MRFG3 -6,22%) e da CVC (CVCB3 -5,71%).

A queda do Ibovespa só não foi maior devido aos papéis de bancos, que ficaram entre as maiores altas. É o caso do Itaú Unibanco (ITUB4 2,07%), que avançou na expectativa de bons resultados hoje após o fechamento do mercado, da Itausa (ITSA4 2,74% ) e do Santander (SANB11 2,07%).

Amanhã, investidores devem ficar atentos ao depoimento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, às 12h no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados norte-americana.

Para a Itaú Corretora, ao perder um suporte técnico nos 112.800 pontos, o Ibovespa pode “acelerar o movimento de queda em direção aos suportes em 111.700 e 110.100 pontos” no curto prazo.

O dólar comercial fechou praticamente estável, com ligeira alta de 0,02% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3230 para venda, no maior valor de fechamento após renovar máximas históricas intraday a R$ 4,33, em sessão de fortes oscilações com investidores exibindo cautela em meio aos desdobramentos do coronavírus.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a volatilidade da moeda no qual operou sem direção única ao longo do pregão. “Abriu em queda seguindo o movimento externo, mas passou a subir respondendo a um cenário de cautela na expectativa de sinais mais claros sobre o tamanho do impacto do surto do coronavírus sobre a economia da China e de seus parceiros comerciais, como o Brasil”, comenta.

Rugik acrescenta que a chuva na grande São Paulo também afetou as operações do mercado financeiro no qual refletiu em menor liquidez, com o volume de negócios “abaixo da média para uma segunda-feira”.
Apesar das oscilações próximas à estabilidade, a moeda renovou máximas sucessivas em mais uma sessão deixando a moeda local ainda mais desvalorizada.

Para o diretor da Correparti, se os próximos resultados dos indicadores dos Estados Unidos ficarem acima do esperado, a tendência é de que moeda siga apreciadas nesse nível no curto prazo.

“As vendas no varejo e a produção industrial podem ratificar a robustez da economia norte-americana após o forte relatório de empregos [payroll], acima do esperado”, diz. Nesta semana, serão divulgados os resultados desses indicadores em janeiro, além da inflação norte-americana.

Amanhã, em agenda de indicadores mais esvaziada, quem fica no radar dos investidores são os Bancos Centrais (BCs). Enquanto lá fora, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, dará depoimento no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados, aqui, sai a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada.

Após o BC promover o quinto corte seguido da taxa básica de juros (Selic), no piso histórico de 4,25% ao ano, e sinalizar que avalia manter a taxa nesse patamar, o mercado deverá analistas os detalhes do documento, diz o operador de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello.

“Vamos observar até porque o Banco Central reduziu a estimativa de inflação hoje”, comenta se referindo às estimativas do mercado divulgadas hoje no Boletim Focus no qual a projeção de inflação caiu pela sexta vez seguida, de 3,40% para 3,25%, de 3,58% há um mês.