Sinalização de inflação nos EUA faz bolsa cair e dólar subir

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – O Ibovespa fechou em queda em um dia esperado pelos investidores em que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) decidiu manter a taxa de juros do país inalterada-entre zero e 0,25%, no entanto, sinalizou uma expectativa de aumento na inflação provocando um recuo forte na Bolsa. Os investidores ficaram em compasso de espera para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que divulga a taxa básica de juros do País.

O principal índice da B3 chegou a baixar mais de 1,00% e encerrou os negócios com baixa de 0,63%, aos 129.259,49 pontos. A mínima intraday foi de 128.345,03 pontos. O volume financeiro atingiu R$ 90,9 bilhões em um dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa.

Para o especialista e sócio da Valor Investimentos, Davi Lellis, “a decisão [do banco central norte-americano] vai em linha com o discurso que eles têm adotado até então, onde a inflação não é tão preocupante assim e eles podem fazer um ajuste um pouco mais leve, mais gradual”.

Lellis afirma que alguns integrantes acreditam que o Fed tem de elevar a taxa de juros antes de 2023 e deve ser diminuído o ritmo de estímulos financeiros para a economia.

O especialista e sócio da Valor Investimentos explica que o Fed elevou a expectativa de inflação em um ponto porcentual e impactou negativamente o Ibovespa e as bolsas no exterior. “O Ibovespa e os mercados globais sentiram essa preocupação inflacionária”. Mas no comunicado indica que a inflação é “transitória”, como tem feito nos últimos meses.

No início da tarde, o Ibovespa caía pressionado pelas ações da Vale e das commodities ligadas ao minério de ferro após a China indicar que pretende vender parte das reservas nacionais dos principais metais para conter o aumento nos preços. Os papéis da Vale e siderúrgicas tiveram expressiva queda.

Para José Claudio de Oliveira, operador de renda variável da Commor Corretora, as ações da Vale, que representam quase 14% do índice estão pressionando o Ibovespa na sessão de hoje e empurram as outras commodities. “O mercado está mais setorial e trabalhando com cautela”, afirma.

O dólar comercial fechou em alta de 0,35% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0600 para venda, em sessão de forte volatilidade em meio à decisão de política monetária do Fed, que revisou a previsão de elevação de juros do país, para 2023. As revisões para cima dos números para o crescimento econômico dos Estados Unidos e para a inflação este ano e em 2022 resultaram em fortalecimento global da moeda norte-americana e no avanço dos rendimentos das taxas futuras dos títulos do governo norte-americano, as treasuries.

O CIO e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, ressalta que o mercado reagiu de forma mais negativa à decisão com a alteração do “timing de normalização monetária”, no qual o Fed indicou que poderá promover duas altas de juros em 2023. “Acho normal diante do nível de preços atuais e da rodada recente de apreciação [dos ativos], mas acho que parte dessa mudança do Fed já deveria ser esperada diante dos dados recentes”, avalia.

Para a equipe econômica da XP, a decisão mais “hawkish” (dura) do Fed, na qual projetou duas altas de juros até o fim de 2023 e elevou as projeções para a inflação do país neste ano de 2,4% para 3,4%, fez o dólar disparar globalmente, em conjunto com o avanço das treasuries, com o vencimento de 10 anos (T-Note) saindo de 1,48% para 1,58%.

O economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli, acrescenta que, mesmo com a autoridade monetária afirmando que manterá estímulos monetários e ainda assim, revisando para a inflação para cima, o presidente do Fed, Jerome Powell, comentou que a instituição poderá reagir à pressão inflacionária. “O mercado ficou cauteloso com a sinalização de que eles podem atuar, não necessariamente em alta de juros, mas com a retirada de estímulos, como a compra de títulos. Isso refletiu negativamente nos ativos globais”, ressalta.

Antes da divulgação do comunicado do Fed, o real “viveu um dia de glória” ao romper o nível psicológico que perdurava há alguns dias ao redor de R$ 5,02. A moeda renovou mínimas sucessivas e chegou a R$ 4,99, no menor valor intraday desde 10 de junho de 2020.

“Foi um fluxo de ingresso de recursos estrangeiros no país pesado, associado às vendas de exportadores e ainda, um robusto desmonte de posições compradas, liquidadas por ordens de stop-loss [perda máxima aceitável]”, explica o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.

Daqui a pouco, sai a decisão do Copom do Banco Central (BC) com aposta majoritária de alta da taxa Selic em 0,75 ponto percentual (pp), a terceira seguida. Para o sócio da Aplix Investimentos, Yuri Veras Cavalcante, a decisão do Fed não deverá interferir no comunicado do Copom.

“O BC está reunido desde ontem, então, o Fed não deve interferir aqui. Se a decisão do Copom vier em linha com o esperado pelo mercado, pode ser que a gente veja uma pequena vantagem, uma vez nós estaremos direcionando um pouco mais a inflação do que os Estados Unidos neste momento”, destaca. Para os analistas, com a agenda de indicadores mais enfraquecida, os ativos reagirão ao Copom e ainda, às novas leituras em relação à política monetária do Fed.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em leve alta depois de mudarem de direção com o anúncio da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O Fed manteve inalterados tanto a taxa básica de juro quanto

o volume de seu programa de compra de ativos, mas ajustou levemente sua taxa de recompra de títulos.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 5,430%, de 5,395% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,010%, de 6,975%; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,99%, de 7,98% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,43%, de 8,42%, na mesma comparação.

A sinalização de que o comitê de política monetária do banco central dos Estados Unidos passou a considerar adequado juros maiores que os atuais a partir de 2023 – em comparação à previsão anterior, de juros estáveis ao longo dos próximos anos – fez com que os principais índices de ações do país fechassem em queda e as taxas dos Treasuries, em alta.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,77%, 34.033,67 pontos

Nasdaq Composto: -0,24%, 14.039,70 pontos

S&P 500: -0,53%, 4.223,70 pontos