Ruídos no Tesouro dos EUA e 2ª onda da covid afetam mercados

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,58%, aos 106.042,48 pontos, acompanhando as Bolsas norte-americanas após ruídos trazidos pelo Tesouro norte-americano, que se recusou a prorrogar programas de empréstimo lançados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O avanço da segunda onda da pandemia de coronavírus e a questão fiscal doméstica também trouxeram cautela, apesar de expectativas de que uma vacina possa ser autorizada em breve.

No entanto, apesar da queda de hoje e após alguns pregões voláteis, o índice encerrou a semana com ganhos de 1,26%, na terceira semana seguida de alta.

Para o estrategista da Genial Investimentos, Felipe Villegas, a disputa entre o Tesouro e o Fed sobre programas de emergência na pandemia nos Estados Unidos abalaram os investidores já preocupados com o impacto econômico do vírus ressurgente, depois de “uma semana agitada” para Bolsa globais.

Além de encerrar programas de empréstimos, o Tesouro também pediu que o Fed devolva parte do dinheiro passado ao banco central, trazendo dúvidas sobre interferências políticas na decisão e sobre a capacidade de manutenção de estímulos. Porém, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, negou que a decisão tenha sido política e tentou minimizar a questão ao afirmar que ainda há muito dinheiro disponível para fornecer fundos se necessário.

Para o head de produtos da Speed Invest, Carlos Eduardo Pinheiro Corrêa, a questão trouxe ruídos, mas o principal gatilho para os mercados deve continuar a ser o noticiário sobre a pandemia e vacinas. A pandemia segue avançando em vários países e preocupa, mas a notícia de que a Pfizer pediu à organização equivalente à Anvisa norte-americana a autorização de uso de emergência de sua candidata à vacina contra a covid-19, traz esperanças.

“O mercado está volátil e isso faz parte, mas quanto mais perto chegarmos de uma vacina menor a preocupação com os impactos da pandemia. Há dúvida sobre o ritmo que a segunda onda vai avançar, mas há sinais de que uma vacina deve ser aprovada em breve”, disse.

Na cena doméstica, investidores digerem declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que ontem à noite levantou a hipótese de o País vender parte de suas reservas internacionais para reduzir a dívida pública, questão polêmica. “Ainda hoje, esse enorme ativo em moeda forte garante a solvência para os investidores internacionais. Se o investidor mudar de ideia e resolver tirar seu dinheiro do País, as reservas garantem que haverá dólares para ser entregues”, alertou o estrategista da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, em relatório.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram da Petro Rio (PRIO3 -6,06%), da Azul (AZUL4 -3,90%) e da Ecorodovias (ECOR3 2,44%), que devolvem altas recentes. Ontem, as ações da Petro Rio subiram mais de 20% após a compra de fatia em dois campos de petróleo.

Na contramão, as maiores alta foram da Cielo (CIEL3 3,44%), do Pão de Açúcar (PCAR3 4,55%) e do IRB Brasil (IRBR3 4,34%).

Nos próximos dias, investidores devem ficar atentos à reunião da cúpula do G-20 (grupo que reúne economias mais industrializadas e países emergentes, além disso, aguardarão a ata do Fed, depois dos ruídos e em meio a uma semana mais curta para o mercado norte-americano, em função do feriado de Ação de Graças.

O dólar comercial fechou em alta de 1,39% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3880 para venda, influenciado por um movimento local de proteção em meio à falta de sinalização do governo para o cenário fiscal brasileiro ao passo que o fim do ano se aproxima. Declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a possibilidade de vender reservas cambiais incomodaram parte do mercado. Na semana, a moeda se desvalorizou em 1,57%.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, explica que a alta da moeda veio da “realização de lucros” por parte de investidores estrangeiros na bolsa brasileira (B3), além de um incômodo com as falas de Guedes ontem à noite.

“Também teve um movimento de proteção em função da falta de solução para os problemas fiscais [do país], principalmente, após a fala do Guedes que não apresentou nenhuma novidade para a solução do problema”, comenta.

Esquelbek acrescenta que as declarações do ministro da Economia ao defender a ideia de vender as reservas cambiais – até ontem o valor era de US$ 355,3 bilhões – para abater a dívida pública levou “boa parte” do mercado doméstico a criticá-lo. “Declaração que traz um certo temor ao mercado, principalmente, em um momento em que se discute a independência do Banco Central”, pondera a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

Na próxima semana, os destaques ficam para o feriado de ação de graças nos Estados Unidos na quinta-feira, além da divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e para as leituras preliminares dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da atividade industrial e do setor de serviços da Alemanha, zona do euro e dos Estados Unidos.

Para Abdelmalack, da Veedha Investimentos, apesar de os últimos indicadores divulgados terem ficado secundários, as prévias de novembro ficam no radar do mercado já que devem mostrar os efeitos da adoção de novas medidas de isolamento social para tentar conter o avanço da covid-19 na Europa. A equipe econômica do Bradesco aposta que o PMI do setor de serviços deverá ser “negativamente influenciado” por essas medidas.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerram em alta firme, após passarem toda a parte matutina da sessão com leves oscilações positivas. O movimento de colocação de prêmios intensificou o ritmo em meio aos ganhos do dólar e às incertezas quanto à sustentabilidade da dívida pública diante da falta de progresso no cenário político, passadas as eleições municipais. Ainda assim, a liquidez baixa do dia distorceu o comportamento da curva local.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,36%, de 3,29% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,12%, de 4,98% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,95%, de 6,80%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,74%, de 7,60%, na mesma comparação.

A rápida disseminação da covid-19 nos Estados Unidos combinada com a decisão do Tesouro norte-americano de não estender os programas emergências do Federal Reserve (Fed, o banco central do país) alimentaram a dúvida dos investidores sobre a recuperação da economia e derrubaram os principais índices do mercado de ações norte-americano.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,75%, 29.263,48 pontos

Nasdaq Composto: -0,42%, 11.854,97 pontos

S&P 500: -0,67%, 3.557,54 pontos