PRÉVIA BCE: Aumento de juros deve acontecer apenas em julho

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Eurotower, sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt / Foto: BCE

São Paulo – Apesar dos níveis recordes de inflação na zona do euro e da pressão cada vez maior para um aperto monetário, o Banco Central Europeu (BCE) não deve elevar as taxas de juros na reunião desta quinta-feira (9). Embora analistas acreditem que uma alta de juros deva ser realizada o quanto antes, a expectativa é que isso aconteça apenas em julho.

“Uma nova deterioração das perspectivas de inflação justifica uma ação imediata, enquanto dados recentes sobre a economia permanecem sólidos o suficiente para facilitar algum aperto”, dizem os especialistas do Robobank.

A inflação recorde de 8,1% na zona do euro em maio e as crescentes pressões sobre os preços aumentaram as expectativas por aumentos maiores pelo BCE, com várias autoridades dizendo que estão abertas a uma elevação de 0,50 ponto percentual em vez de 0,25, como esperado anteriormente.

“Nas últimas semanas, funcionários do BCE inundaram a mídia internacional com comentários e opiniões sobre o que o BCE deveria fazer a seguir. Com base em todos esses comentários, fica claro que o banco central definitivamente passou da fase de discutir se e até quando as taxas de juros devem ser aumentadas. A única discussão parece ser se o BCE deve começar com uma alta de 0,25 ponto em julho ou uma alta de 0,50 ponto”, diz o chefe global de macro do ING, Carsten Brzeski.

A justificativa para uma subida em junho é muito clara e o único argumento contra é o “sequenciamento” do BCE – o compromisso em terminar as compras líquidas de ativos antes de subir as taxas -, diz. Desta forma, “uma subida de taxas na próxima semana afetaria a credibilidade e orientação do BCE”, afirma Brzeski.

Na mesma linha, vai o analista da CMC Markets, Michael Hewson. “O maior desafio para o BCE esta semana será tentar justificar por que estão esperando até julho para agir, dada a urgência da situação. Se alguma coisa, eles estão cometendo o mesmo erro que o Federal Reserve fez no início deste ano, ao persistir com uma política monetária muito fácil e, em seguida, ter que apertar ainda mais agressivamente”, diz.

Na reunião desta semana, o mercado vai se concentrar na possibilidade de um aumento de 50 pontos-base (ou 0,50 ponto percentual) da taxa de juro e, caso aconteça, quando poderá ser implementada, dizem analistas do Danske Bank.

Os especialistas do banco preveem que o BCE aumente a taxa de depósito em 25 pontos-base a cada reunião a partir de julho até março de 2023, mas veem riscos “claramente” inclinados para um aumento de 50 pontos-base na segunda metade de 2022.

Na reunião de junho, os analistas não preveem nenhum compromisso do BCE sobre o tamanho do aumento das taxas, enquanto quaisquer dicas sobre ferramentas que o BCE possa aplicar para lidar com a fragmentação do mercado também vão estar sob observação.

Para a reunião de julho, contudo, a alta já é dada como certa, embora haja divergências sobre a velocidade do aperto monetário devido à volatilidade que a alta dos juros pode provocar no rendimento dos títulos do Tesouro, afirma Pietro Baffico, economista para Europa da abrdn. Segundo ele, a divergência de visões, a desaceleração econômica, e a flexibilidade do BCE deverão se traduzir em mais volatilidade de mercado para juros e títulos do Tesouro.

“O crescente risco de recessão pode também levar os investidores a precificar diferentes prêmios para os títulos europeus, ampliando os spreads, com o BCE eventualmente tendo que intervir”, ressalta Baffico.

O BofA Securities espera agora que o BCE aumente as taxas de juros em 1,50 ponto percentual este ano, incluindo movimentos de 0,50 ponto em julho e setembro. “Nossa previsão já era mais ‘hawkish’ [inclinada a reduzir estímulos] do que o consenso, e é ainda mais agora. Continuamos a nos preocupar que isto seja muito e rápido demais”, dizem os analistas.

O Barclays, por sua vez, disse que agora espera que o BCE aumente os juros em 0,25 ponto em cada reunião de julho a dezembro. O banco espera mais uma alta depois disso no primeiro trimestre do próximo ano, o que elevaria a taxa de depósito do BCE para 0,75%.

O BCE deve encerrar seu programa de compra de ativos (APP, na sigla em inglês) já na reunião desta semana. A presidente da instituição, Christine Lagarde, sinalizou em outras reuniões que um aumento de juros viria algum tempo depois do fim das compras de ativos o que reforça as expectativas por um aperto na política monetária na reunião de julho.

“Embora não existam razões técnicas para que o BCE não possa aumentar as taxas de política ao mesmo tempo que encerra o programa de compra de ativos, o BCE investiu tanto em seu sequenciamento de políticas normalização ou seja, a orientação de que as taxas só serão aumentadas após o término das compras líquidas que romper com essa orientação em junho seria, sem dúvida, tão ruim para a credibilidade do BCE quanto uma superação ligeiramente mais longa da inflação”, diz o Robobank.