Presidente do Fed diz que nova onda de covid-19 é risco para a economia

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – O aumento expressivo de casos de covid-19 nos Estados Unidos representa um risco para a economia nos próximos meses, disse o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. Segundo ele, ainda é cedo para dizer como o progresso em relação a uma vacina influencia nas perspectivas.

“Estamos vendo novos casos e o aumento de hospitalizações. Os estados começaram a impor algumas restrições de atividades. A preocupação é que as pessoas percam a confiança nos esforços para controlar a pandemia, já há sinais nessa direção, e sem a confiança não há como fazer com que as pessoas e empresas retomem suas atividades”, afirmou.

As declarações dadas em uma webcast sobre economia ocorrem depois que a norte-americana Moderna informou ontem que os dados preliminares de testes da fase três mostram que sua vacina é mais de 94% eficaz na prevenção do novo coronavaírus.  A notícia somou-se aos relatos da Pfizer e BioNTech, que na semana passada informaram que sua candidata a vacina tinha eficácia de 90%.

“Certamente são boas notícias, especialmente em médio prazo. No curto prazo existem desafios e incertezas significativas”, disse Powell, listando a produção, a distribuição e a vacinação em larga escala como fontes de dúvidas sobre a vacina contra a covid-19.  “No melhor dos casos, a vacinação generalizada ocorrerá em alguns meses”, completou.

APOIO MONETÁRIO E FISCAL EXTRA

Diante desse cenário mais sombrio, Powell voltou a defender uma nova rodada de estímulos para apoiar a economia e reafirmou o compromisso do Fed em fornecer mais ajuda monetária. Ele afastou neste momento as preocupações com a trajetória fiscal insustentável dos Estados Unidos, afirmando “que agora não é o momento para lidar com uma questão que pesa sobre o país há anos”.

“Vamos usar todas as nossas ferramentas para apoiar a economia e atingir o mandato estabelecido pelo Congresso, que é pleno emprego e estabilidade de preços. Não vamos parar até que nosso trabalho esteja concluído”, afirmou.

Essa ajuda extra do Fed, no entanto, não deve vir agora, segundo Powell. “Não vejo a necessidade de compensarmos o crédito privado agora. O Fed fez isso em março, quando a crise se agravou e prejudicou o fluxo de crédito para a economia. Não estamos vivendo o mesmo momento agora”, disse ele, elogiando a performance dos bancos na crise. “Os bancos estão indo bem até agora nesta crise. Temos regras e não é o caso de sermos complacentes, mas os bancos têm capital, reservas e temos liquidez”, acrescentou.

Desde março, o banco central norte-americano vem mantendo a taxa de juros na faixa entre zero e 0,25% ao ano. Segundo projeções do comitê de política monetária, esse patamar deve continuar por pelo menos três anos, até 2023.

“Vamos telegrafar cada ação para não pegarmos o mercado de surpresa. Nossa intenção não é surpreender ninguém”, afirmou Powell.

Ele foi questionado sobre o tamanho do balanço de ativos do Fed, que poderia pesar na economia em longo prazo. Sobre isso, ele disse: “não vamos mexer agora no balanço na direção de normalizá-lo. A compra de ativos exerce um papel importante no apoio da economia”.

O Fed tem comprado US$ 120 bilhões em títulos do Tesouro e em hipotecas a cada mês e, segundo especialistas consultados pela Agência CMA no início de novembro, a tendência é de que essas compras aumentem em dezembro, quando o comitê voltar a reunir, como uma forma de apoio monetária adicional à economia norte-americana.