Powell reafirma acomodação mesmo em cenário de aceleração da inflação

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) forneceu novos sinais de que manterá a acomodação monetária até que a economia dos Estados Unidos tenha se recuperado completamente dos efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus ainda que haja uma aceleração da inflação nos próximos meses.

“A compra de ativos continuará pelo menos no ritmo atual até que haja progresso na direção das metas. O Fed continuará fornecendo apoio à economia até que o trabalho este completo”, afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell, durante um evento virtual promovido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Além de manter a taxa de juros próxima de zero desde março do ano passado, o banco central norte-americano vem adquirindo US$ 120 bilhões em títulos do Tesouro e em hipotecas a cada mês para apoiar a recuperação da economia na direção de seu mandato duplo.

Segundo Powell, essa recuperação está acontecendo em ritmo mais acelerado do que o antecipado graças à combinação de estímulos fiscais amplos e ao processo de vacinação contra a covid-19 em curso no país. Ele alertou, no entanto, para os riscos que as mutações do coronavírus representam nesse processo.

“O apoio fiscal e a vacinação estão apoiando a recuperação da economia, mas essa recuperação está incompleta e desigual”, afirmou ele, citando o setor de serviços, que foi duramente atingido pelas medidas restritivas adotadas para conter a disseminação do novo coronavírus.

MANDATO DUPLO

Falando no evento do FMI, Powell voltou a reafirmar que o Fed continuará trabalhando para atingir o mandato duplo. Neste sentido, ele lembrou que ainda existem milhões de pessoas fora do mercado de trabalho mesmo com sinais de retomada nas contratações.

Em março, a economia norte-americana superou as previsões e criou 916 mil vagas, enquanto a taxa de desemprego caiu de 6,2% para 6,0%, segundo dados do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos divulgados na semana passada.

“Ainda temos cerca de 9 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. É uma preocupação muito grande para o Fed que essas pessoas fiquem muito tempo sem trabalho e que os danos da pandemia no emprego se tornem permanentes. Esse é um ponto que olhamos com muita atenção”, afirmou Powell.

Sobre a inflação, o chefe do Fed voltou a afirmar que deve haver uma aceleração, mas que esse movimento será transitório, portanto, o banco central norte-americano não vai agir para conter esse avanço.

Questionado sobre o significado de transitório, Powell respondeu: “Transitório na inflação é quando não vemos a taxa subindo além da meta de 2% por anos e anos seguidos. E não vemos isso aqui nos Estados Unidos. A inflação não se manterá acima da meta persistentemente. A tendência de inflação baixa no país não mudou”.

Segundo ele, a aceleração da inflação é atribuída ao processo mais rápido do que o antecipado de retomada da economia norte-americana. Esse movimento tem levado a um salto nos juros dos títulos do Tesouro em meio às expectativas de que o Fed será forçado a elevar a taxa de juros antes do previsto.

Na ata da reunião de março, divulgada ontem, os membros do comitê de política monetária reforçam a premissa de manter a taxa básica próxima de zero até pelo menos 2023.

“O Fed tem ferramentas para conter a aceleração persistente da inflação para além da meta de 2% e uma dessas ferramentas é o aumento da taxa de juros, mas, sinceramente, não vemos que este seja o caso nos Estados Unidos”, afirmou.

“Vimos as cadeias de suprimentos passarem um aperto com a retomada econômica antecipada, o que pode contribuir com essa aceleração da inflação, mas tenho certeza de que a cadeia de suprimentos vai se adaptar a reabertura e as coisas voltarão ao normal no próximo ano”, acrescentou.