Possível colapso na saúde faz Bolsa cair; dólar recua com atuação dos BCs

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São Paulo – Após operar a maior parte do pregão em alta e tentar uma recuperação, o Ibovespa voltou a cair com mais força no fim do dia e fechou em queda de 1,84%, aos 67.069,36 pontos. O índice refletiu as falas do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, sobre a curva do contágio de coronavírus no Brasil e a possibilidade de colapso do sistema de saúde em abril, além de acompanhar o aumento das perdas das Bolsas norte-americanas. O volume total negociado foi de R$ 33,3 bilhões.

Na semana, que contou com o sexto circuit breaker desde o recrudescimento da pandemia, se igualando ao número de vezes em que o mecanismo foi acionado durante a crise financeira mundial de 2008, a queda do Ibovespa foi de 18,8%.

Segundo um operador de renda variável, as declarações do ministro da Saúde trouxeram preocupação ao prever que a alta do número de casos do vírus só deve perder força a partir de junho, podendo levar ao colapso do sistema de saúde em abril e trazer maiores impactos para a economia brasileira do que o previsto inicialmente.

“A gente imagina que ela (transmissão) vai pegar velocidade. Essa subida rápida vai durar o mês de abril, o mês de maio e o mês de junho é quando ela vai começar a ter uma tendência de desaceleração de subida. No mês de julho, ela deve começar o platô e em agosto esse platô vai começar a mostrar a tendência de queda”, detalhou o ministro.

Para o chefe de análise da Toro Investimentos, Rafael Panonko, é natural que continue a volatilidade nos mercados, mas acredita que o governo não tem respondido à altura diante dessa rápida aceleração prevista de casos. “No atual momento o governo não está tendo a visão da magnitude do problema”, disse, embora acredite que mais medidas possam ser tomadas na medida em que a situação se agrave.

Já no exterior, as Bolsas dos Estados Unidos também aprofundaram perdas no fim do pregão, encerrando com uma das piores sessões em três anos, pressionados pelo anúncio de novas medidas de restrição de circulação de pessoas, apesar das medidas tomadas por governos e bancos centrais para mitigar efeitos nas economias. Hoje, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, determinou que trabalhadores de atividades não essenciais permaneçam em casa em linha com o que a Califórnia já havia anunciado na noite anterior.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram da Telefônica Brasil (VIVT4 -9,37%), da Yduqs (YDUQ3 -9,39%) e da Embraer (EMBR3 -12,02%). Na contramão, as maiores altas foram da Azul (AZUL4 17,04%) e da Gol (GOLL4 15,20%), além da Smiles (SMLS3 12,19%), que mostraram altas expressivas tentando uma recuperação depois de vários dias entre as maiores quedas do índice.

O dólar comercial fechou em queda de 1,47% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0220 para venda, na quinta sessão seguida acima de R$ 5,00, assim fechando a semana acima deste nível pela primeira vez na história. O alívio na sessão acompanhou o exterior que reagiu aos estímulos anunciados por Bancos Centrais e governos ao longo da semana para enfrentamento do novo coronavírus.

“A melhora do humor dos investidores ficou apoiada nas ações de governos e Bancos Centrais ao redor do globo na tentativa de mitigar os efeitos nocivos da crise em curso, o que aliviou a pressão sobre o dólar com a melhora do mercado acionário lá fora”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.

Na semana, marcada por forte volatilidade e pela sustentação da moeda acima do patamar inédito de R$ 5,00, o dólar se valorizou em 4,01% e engata a quinta semana seguida de alta. Nos últimos dias, acompanhamos a iniciativa de vários países na Europa e nos Estados elevando medidas restritivas em meio ao avanço no número de casos confirmados do coronavírus.

“Há muita incerteza acerca da magnitude do impacto do vírus sobre a atividade no segundo trimestre e sobre a velocidade de retomada no período seguinte. Nesse contexto, governos e bancos centrais ao redor do mundo lançaram mão de estímulos fiscais e monetários nesta semana, em um esforço conjunto para suavizar esse impacto”, ressalta a equipe econômica do Bradesco.

Na semana que vem, na agenda de indicadores tem dados do comércio, de serviços e de atividade em fevereiro aqui, nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa. Alguns dados já devem trazer impactos do coronavírus, principalmente, na economia europeia e asiática.

“O coronavírus seguirá precificando os ativos com qualquer notícia a respeito, além dos impactos”, comenta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.