Planos de IPO e follow-on são retomados; veja quais são os próximos

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São Paulo – Passado o pior da crise causada pela pandemia do novo coronavírus e diante do cenário de ampla liquidez nos mercados, as empresas brasileiras retomaram seus planos de abertura de capital (IPO) e ofertas subsequentes de ações (follow-on), que haviam sido interrompidas durante o período de maior turbulência nos mercados.

Atualmente, há 22 pedidos de IPO em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo menos cinco novos follow-ons já foram anunciados, com investidores pessoa física aumentando consideravelmente sua participação nas ofertas, o que faz analistas reforçarem que é importante ser mais seletivo na hora de aproveitá-las, se informando sobre a empresa e suas intenções ao captar recursos no mercado.

Neste ano, já foram feitas 15 ofertas de ações (sete IPOs e oito follow-ons), que somaram R$ 41,1 bilhões captados. Mais da metade deste valor, no entanto, foi captado em oferta secundária da Petrobras (R$ 22 bilhões). A oferta mais recente concluída foi o IPO da Ambipar, que captou R$ 1,1 bilhão. O número de estreias de empresas na Bolsa já é maior do que o de 2019, quando cinco companhias fizeram IPO.

Para o especialista em ações da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães, vários fatores permitem que as empresas voltem a captar em Bolsa. “A taxa de juros está muito baixa, vai ter recursos vindo para a Bolsa, há liquidez, e a volatilidade também já diminuiu comparado à março e abril. Além disso, as empresas estão vendo oportunidades de crescimento e de investimento”, disse.

O gestor da RJI Investimentos, Rafael Weber, também destaca que o mercado já não assusta e que muitas empresas estão buscando as ofertas não só para se protegerem em meio a um período de crise, mas para expandir e ganhar espaço frente à concorrência. “No momento é importante ter um colchão de liquidez, manter o equilíbrio fiscal, mas temos visto muitas empresas querem é acelerar os seus planos de investimentos, ganhar ‘market share’ em cima de concorrentes mais fragilizados, vendo espaço até para aquisições”, afirmou.

Analisar onde serão colocados os recursos captados, se serão usados para expansão, por exemplo, é um dos fatores que os especialistas recomendam que investidores prestem atenção para saber se vale a pena apostar na empresa e entrar em uma oferta.  “É preciso analisar caso a caso, vimos alguns em que a empresa precisava de liquidez e foi ao mercado, mas outras que já tem liquidez melhor e querem crescer. É preciso olhar o tamanho da dívida, os planos de expansão. Se for uma construtora, como temos visto muitas captando por exemplo, se ela irá usar o dinheiro para comprar terrenos, se vale a pena fazer isso agora, etc”, afirmou o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.

O analista ainda destaca que, com muitas ofertas e elevada liquidez, a demanda tem sido forte e muitas delas têm sido precificadas no topo da faixa sugerida e com pouco desconto. “Não tenho visto grandes pechinchas, às vezes não justifica o risco”, disse.

Para Weber, além do objetivo com a oferta, é importante também conhecer a história da empresa e dos controladores, além de aspectos como a governança corporativa e o relacionamento com os acionistas minoritários. Outro fator destacado é o potencial do setor em que a empresa está inserida.

CONSTRUÇÃO E VAREJO SE DESTACAM

As empresas dos setores de construção civil e varejo estão entre as que lideram ofertas. No segmento imobiliário, depois da Mitre e da Moura Dubeux abrirem capital no início do ano, a incorporadora You Inc anunciou esta semana que pode captar cerca de R$ 1 bilhão. No final do mês será a vez, da Riva 9 Empreendimentos Imobiliários, que pertence à Direcional Engenharia.

Nas últimas semanas, a Lavvi Incorporadora, joint venture formada entre a Cyrela e a RH Empreendimentos, também confirmou que abrirá o capital. Outras duas empresas na qual a Cyrela é acionista também devem estrear na Bolsa em breve, a Cury e a Plano&Plano. Já a construtora Even informou que está preparando o terreno para realização do IPO da sua subsidiária Melnick Even Desenvolvimento Imobiliário (MEDI).

Para o especialista da Levante, ter o selo de uma construtora de peso, como a Cyrela, pode ser interessante, e o setor de construção parece não estar sendo tão afetado pela crise, mas é importante ser seletivo. “A demanda por imóveis pode sair mais forte que entrou, com juros mais baixos e o nível de poupança mais alto, mas já há muitas empresas no mercado, será que cabe mais?”, alerta. No caso da Riva 9, por exemplo, Guimarães não recomenda a entrada no IPO, vendo mais retorno em investir diretamente nas ações da Direcional, sua controladora.

Já no segmento varejista, analistas destacam IPOs como os da rede de pet shop Petz, em uma área com potencial, e do grupo Soma, dono de marcas de roupas já consolidadas como a Farm. Além disso, há diversas opções no varejo farmacêutico, como a da rede cearense de drogarias Pague Menos e a d1000 Varejo Farma, do grupo Profarma, que reúne as marcas de drogarias Drogasmil, Farmalife, Drogarias Tamoio e Drogaria Rosário. Ainda há, no varejo de construção, as Lojas Quero-Quero.

As varejistas ainda estão fazendo follow-ons. Entre as redes maiores, Via Varejo e Centauro já fizeram oferta no primeiro semestre, sendo a vez agora das Lojas Americanas nesta semana. Ainda no varejo farmacêutico, a rede de drogarias Panvel confirmou que fará uma oferta secundária que pode chegar a R$ 1,2 bilhão. “Estou otimista com a Panvel, é uma rede consolidada no Sul, que pode se expandir em outras regiões do Brasil. Pode também ser interessante olhar além dos setores principais da Bolsa e abrir o leque”, destaca Weber.

Danielle Fonseca / Agência CMA

Edição: Eduardo Puccioni (e.puccioni@cma.com.br)