Otimismo externo com eleição e Fed faz Bolsa subir e dólar cair

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Foto: Myles Davidson / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta pelo terceiro pregão seguido, com ganhos de 2,94%, aos 100.751,40 pontos, seguindo as Bolsas nos Estados Unidos, já que investidores estão vendo com bons olhos a possível vitória do candidato democrata Joe Biden na corrida presidencial do país. O índice também acelerou ganhos no fim do dia após o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) indicar que pode oferecer mais apoio monetário para a recuperação da economia.

Entre as ações, as da Cosan e da Ultrapar passaram a subir com mais força e impulsionaram o Ibovespa reagindo ao balanço da Ultrapar, que veio acima do esperado pelo mercado e trouxe perspectivas positivas para o setor de combustíveis. O volume total negociado hoje foi de R$ 32,9 bilhões.

Para o analista da Necton Corretora, Glauco Legat, apesar de a disputa ainda estar bastante acirrada, Biden tem se mostrado o favorito e alimenta esperanças de um pacote de estímulos mais robusto para ajudar a economia do país, após impactos da pandemia de coronavírus. Porém, acredita que independente de quem seja o favorito no momento, “o mercado queria subir” e é preciso olhar o resultado também das eleições no Senado e na Câmara dos Deputados.

Já para os analistas da Commcor Corretora, a leitura para o bom humor aparenta derivar de “uma iminente combinação de presidência democrata e Senado de maioria republicana, o que tende – no papel – a trazer algum equilíbrio entre os extremos”, afirmam em relatório. A tendência é que os republicanos mantenham a maioria no Senado, enquanto os democratas devem manter a maioria na Câmara dos Deputados, o que poderia levar à aprovação de um pacote de ajuda, mas impedir medidas dos democratas mal vistas pelo mercado, como aumentos de impostos.

Esse apoio fiscal do governo e também o apoio monetário serão necessários para a recuperação da economia do país, acredita o presidente do Fed, Jerome Powell. A decisão do Fed, divulgada nesta tarde, não trouxe grandes novidades sobre a taxa de juros, que foi mantida, mas sinalizou que a autoridade pode estar se preparando para mais estímulos monetários, além de reiterar que será preciso também o apoio do governo, evitando comentários sobre as eleições.

Entre as ações, as maiores altas do Ibovespa foram das ações da Ultrapar (UGPA3 15,09%) e da Cosan (CSAN3 10,12%), além dos papéis de companhias de aviação, Azul (AZUL4 9,89%) e da Gol (GOLL4 9,49%).

“O resultado da Ultrapar foi positivo e puxado pelo Ipiranga, o que puxou a Cosan e o setor como um todo”, disse Legat. Os resultados da companhia ainda fizeram bancos como o Credit Suisse elevar a recomendação dos papéis para compra. Já o setor de aviação acompanha os seus pares no exterior em um dia de busca por risco.

Amanhã, investidores devem continuar a acompanhar as eleições norte-americanas de perto, em busca de uma definição nos últimos estados que ainda fazem contagem de votos, como Georgia, Nevada e Pensilvânia. Além disso, o destaque na agenda de indicadores são os dados de emprego nos Estados Unidos, conhecidos como payroll.

O dólar comercial fechou em forte queda de 1,96% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5460 para venda, renovando a maior queda percentual diária desde o fim de agosto e no menor valor de fechamento desde 9 de outubro – quando ficou em R$ 5,5270 – refletindo a expectativa do mercado com uma possível vitória do candidato democrata, Joe Biden, na corrida presidencial norte-americana, enquanto estados ainda apuram os votos.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, ressalta que foi mais uma sessão de muita expectativa em torno do resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, no qual Biden se aproxima da vitória, embora, matematicamente, ainda exista a possibilidade de trunfo do atual presidente, Donald Trump, que tenta a reeleição.

“O otimismo nos mercados globais aponta para uma vitória de Biden, com impacto direto sobre a precificação dos ativos”, comenta Gomes. Ao longo da sessão, a moeda operou com queda firme de mais de um 1% e renovou mínimas sucessivas a R$ 5,5350, com recuo de mais de 2% após a decisão de política monetária do Fed, no qual a taxa de juros foi mantida na faixa entre zero e 0,25%.

A equipe econômica do banco Société Générale destaca que o presidente do Fed, Jerome Powell, e membros da autoridade monetária defenderam uma política fiscal adicional para apoiar a economia norte-americana.

“Acreditamos que mais estímulos também seriam úteis, mas o desempenho econômico medido pelo PIB [Produto Interno Bruto] e pelo emprego desde maio de 2020 tem sido melhor do que o esperado e não há evidências de desaceleração ou estagnação da recuperação econômica do país”, avaliam os analistas.

Já os economistas da corretora Commcor reforçam que Powell demonstrou preocupação com eventuais impactos duradouros (da pandemia do novo coronavírus) sobre o mercado de trabalho. “A exemplo do desalento, o que poderia comprometer tendências de mais longo prazo pelo lado da oferta da economia”, dizem.

Para a analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira, o dólar deverá manter o ritmo de queda amanhã, ainda com investidores atentos à apuração da eleição norte-americana, além de digerir a decisão do Fed. Na agenda de indicadores, o destaque fica para o relatório de empregos dos Estados Unidos, o payroll, com dados de outubro. A expectativa é a criação de 605 mil vagas de trabalho e a taxa de desemprego de 7,8%, segundo levantamento da Agência CMA.

Segundo o especialista de investimentos da Portofino, Thomás Gilbertoni, o payroll deverá vir mais fraco do que o esperado visto o indicador de emprego no setor privado (ADP), no qual apontou ontem a abertura de 365 mil vagas em outubro, ante expectativa de 600 mil novas vagas.

“Os pedidos de seguro-desemprego ficaram um pouco acima do esperado hoje [751 mil pedidos até 31 de outubro ante projeção de 714 mil pedidos]. A gente vê a economia norte-americana patinando com a volta do coronavírus por lá. A percepção é de que a economia lá começa a perder atratividade”, observa.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, mantendo a trajetória vista desde a abertura do pregão, em meio ao renovado apetite por risco no exterior, com os investidores se antecipando ao resultado eleitoral nos Estados Unidos. A queda acelerada do dólar, que testa a faixa de R$ 5,55, bem como a demanda elevada por títulos públicos em leilão favorece a retirada de prêmios, relegando os riscos fiscais no Brasil.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,45%, de 3,46% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,03%, de 5,06% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,66%, de 6,76%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,42%, de 7,55%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em alta, abrindo caminho para os ganhos semanais mais acentuados desde abril, com os investidores apostando nas perspectivas reduzidas de impostos corporativos mais elevados e uma regulação menos severa sob um Congresso dividido.

Veja abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +1,95%, 28.390,18 pontos

Nasdaq Composto: +2,59%, 11.890,18 pontos

S&P 500: +1,94%, 3.510,45 pontos