Mover taxas mais devagar nos dá espaço para sentir qual o pico apropriado, diz Powell

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que a grande questão agora é saber até onde aumentar a taxa básica de juros.

Segundo ele, um ritmo mais lento de aumentos ajudaria o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) a avaliar com mais calma esse número, mas cortes estão fora de cogitação até uma redução sustentada da inflação.

“Antes, a questão era apertar o mais rápido possível a política monetária. Agora que chegamos a uma faixa suficientemente apertada, o ponto é saber quando será o pico da meta em que iremos parar e quanto tempo devemos ficar lá”, explicou Powell em coletiva de imprensa após decisão de política monetária do Fed que, unanimamente, preferiu aumentar as taxas em 0,5 ponto percentual (pp) para 4,25% e 4,5%.

PICO DA TAXA DE JUROS

O presidente do banco central disse que, atualmente, a melhor previsão de pico da taxa de juros pode ser vista na previsão do Fed divulgada hoje. Segundo o documento, a maioria dos membros espera que ameta para a taxa de juros chegue a aproximadamente 5% em 2023.

“Não posso dizer se vamos aumentar ou diminuir esse número, mas ele é nossa expectativa baseado nos dados que temos agora”, explicou Powell. Segundo ele, será preciso manter as taxas no pico por algum tempo. “As consequências do aperto monetário demoram para ser sentidas”, disse.

É por isso que os últimos dados de inflação de outubro e novembro, que vieram mais suaves do que o esperado, não afetaram a decisão do Fed. “São certamente bem-vindos e indicam que estamos no caminho certo, mas precisaremos de mais evidências”.

Ele explicou que é provável que o ritmo de aumentos da taxa seja menor, já que dessa forma fica mais fácil para o Comitê ver quais os efeitos do aperto e quando ele atingirá seu pico.

INFLAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO

Segundo Powell, a inflação sobre serviços imobiliários deve começar a moderar no meio do ano que vem. “A grande questão é quando o setor de serviços não imobiliários irá ser afetada por nossa política”, explicou, dizendo que a área é ligada intimamente com o desequilíbrio atual no mercado de trabalho.

“Ainda há muito mais procura do que oferta. A população economicamente ativa diminuiu, são 3,5 milhões a menos do que deveria ter se olharmos para os números de antes da pandemia”, disse Powell, citando aposentadoria precoce, mortes por covid, questões de saúde e menor migração de estrangeiros como os principais motivos para isso.

Devido à diferença entre o número de vagas disponíveis e a quantidade de pessoas procurando emprego, o presidente do Fed diz que uma queda na abertura de vagas não resultará em muitas demissões. “À medida que estreitamos a política monetária, a taxa de desemprego deve subir um pouco, mas não em niveis de recessão”, disse Powell. “Gostaria que houvessse uma forma de baixar os preços sem afetar o emprego, mas esse é nosso melhor plano”.

Questionado se a revisão de projeção de crescimento para 2023 de 1,2% para 0,5% é indicativo de recessão, Powell disse que não. “Não é um número negativo, só um número menor. Acreditamos ainda que uma recessão tecnicamente não deve ocorrer”, disse o presidente do Fed, afirmamndo que o caminho para o “pouse leve” se tornou mais estreito, mas não impossível.