Meta é concluir revisão estratégica do BCE até final de 2020, diz Lagarde

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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que iniciará o processo de revisão estratégica em janeiro e que pretende conclui-lo no final de 2020. Embora não tenha dado detalhes sobre possíveis mudanças, elas podem alterar o objeto de manter a inflação um pouco abaixo de 2% ou de estabelecer limites para o uso de taxas de juros negativas ou compras de títulos em larga escala.

“O caminho para atingir o mandato [de estabilidade de preços] será alvo de debates e também avaliaremos que ferramentas funcionam melhor para entregarmos esse mandato”, afirmou Lagarde em entrevista coletiva após decisão de política monetária que manteve inalterados os juros e o programa de compra de ativos do BCE.

“As mudanças climáticas e a desigualdade também estarão no processo de revisão estratégica. Vamos analisar todos os assuntos”, acrescentou.

Alguns membros do BCE manifestaram crescente preocupação com os efeitos colaterais de anos de políticas monetárias excessivamente acomodatícias. Em uma aparição diante dos parlamentares europeus em setembro, Lagarde admitiu esses temores e sugeriu que o BCE realizará uma revisão prolongada de sua estratégia e suas ferramentas.

“Já se passaram 16 anos desde que a estratégia atual foi estabelecida. Embora não haja um momento ideal para iniciar um processo de revisão, acredito que agora, sob um novo comando e um novo ciclo, o momento é apropriado”, afirmou Lagarde.

Lagarde disse ainda que deseja ver um maior consenso na zona do euro diante da divisão sobre as políticas da instituição. “Consultarei o conselho antes de tomar qualquer decisão”, afirmou.

Os membros do BCE estão esperando para ver o impacto do pacote de descontos nas taxas de juros e nas compras de títulos em grande escala anunciadas em setembro. Essas medidas foram promovidas sob o mandato do ex-presidente do BCE, Mario Draghi, apesar da forte resistência de alguns membros do comitê de política monetária do banco, formado pelos 19 governadores nacionais dos bancos centrais da zona do euro.

Alguns deles temem que as políticas de dinheiro fácil do BCE prejudicarão instituições financeiras e subsidiarão governos de maneira desnecessária. Para abrandar esses temores, Lagarde pediu hoje que países que tenha espaço fiscal, usem esses recursos de maneira oportuna e chamou governos locais a adotarem reformas estruturais e fiscais em conjunto com as ações do BCE.

“Essas seriam medidas muito bem-vindas e que apoiariam o crescimento, que hoje é fraco, e a aceleração a inflação”, acrescentou.

DECISÃO DE POLÍTICA MONETÁRIA

Na decisão de hoje, o BCE manteve sua política monetária inalterada, em linha com as expectativas do mercado, na primeira reunião conduzida por Lagarde.

O BCE manteve a taxa básica de juros em zero, a taxa de depósitos em -0,5% ao ano e a taxa da linha mantida com bancos comerciais para concessão de liquidez de curto prazo em 0,25% ao ano.

Além disso, o BCE reiterou que as principais taxas de juros devem permanecer “em seus níveis atuais ou mais baixos até que as perspectivas da inflação convirjam de forma robusta para um nível suficientemente próximo, mas abaixo de 2%”.

Com relação às compras de ativos, reiniciadas no dia primeiro de novembro em ritmo mensal de 20 bilhões de euros, o BCE disse esperar que continuem “pelo tempo necessário para reforçar o impacto acomodatício de suas taxas de política e terminem pouco antes de começar a aumentar as principais taxas de juros”.

O BCE disse ainda que continuará reinvestindo o valor principal dos títulos que atingirem o vencimento por um longo período após a primeira alta nos juros, e “enquanto for necessário para manter condições favoráveis de liquidez e um amplo grau de acomodação monetária”.

PROJEÇÕES ECONÔMICAS

O BCE revisou para baixo sua projeção de crescimento para a economia da zona do euro para o ano que vem, e também rebaixou sua previsão para a taxa de inflação.

A previsão para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro para 2020 caiu para 1,1%, após a projeção de crescimento de 1,2% divulgada anteriormente, em setembro. Para 2021, a projeção foi mantida em 1,4%. O BCE divulgou projeção de alta de 1,4% em 2022. Para 2019, o PIB deve crescer 1,2%, ante projeção anterior de alta de 1,1%.

Com relação à taxa de inflação da zona do euro, o BCE revisou a estimativa de 2020 para cima, de 1,0% para 1,1%, após manter a projeção inalterada este ano em 1,2%. Para 2021, houve revisão foi para baixo, de 1,5% para 1,4%, “impulsionado principalmente pela trajetória futura esperada dos preços da energia”, disse Lagarde. Em 2022, os preços devem subir 1,6%.