Mercados reagem negativamente à proposta da reforma tributária

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Foto: Burak K / Pexels

São Paulo – Após cair mais de 2,00% na segunda metade do pregão e voltar aos 126 mil pontos, o Ibovespa à vista encerrou a sessão com recuo de 1,74%, aos 127.255,61 pontos, reagindo mal à reforma tributária em relação à tributação de dividendos e à alteração na tributação de fundos imobiliários.

A Bolsa reagiu mal à  A proposta foi entregue hoje pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O setor financeiro, Petrobras e as varejistas foram impactadas negativamente.

As ações do Bradesco (BBDC3 e BBDC4) perderam 2,55% e 3,12%. Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) baixaram 3,17% e 2,36%. Os papéis da Petrobras e (PETR3 e PETR4) caíram mais de 1,00%. As varejistas magazine Luiza (MGLU3), Lojas Americanas (LAME4) e Lojas Renner (LREN3) também registraram retração de mais de 1,00%.

Para a economista-chefe Simone Pasianotto, da Reag Investimentos a forte queda é atribuída às ações de bancos e Petrobras ,”com os investidores digerindo a proposta de reforma tributária, que propõe a tributação de dividendos.”

A economista comenta que o Ibovespa realiza lucros na sessão desta sexta-feira. “Aprofundou o movimento de acomodação que se prolongou nas últimas sessões e o volume financeiro é bastante modesto”.

Para ela, o mercado segue atento no Brasil à inflação aqui e no mundo. “Os números do IPCA-15 e o PCE nos Estados Unidos não trouxeram surpresa, mas acende um sinal de alerta.”

Para Rafael Passos, sócio da Ajax Capital, os papéis do setor financeiro, a reforma tributária e os depoimentos na CPI da covid impactam negativamente o índice. “O texto da reforma tributária influencia, principalmente em relação à tributação de dividendos. Os papéis pagadores de dividendos podem sofrer um pouco mais no curto prazo”.

Em relação à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid, os irmãos Miranda -o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF) e o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, estão prestando depoimento sobre a suspeita de irregularidade na compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal.

Mais cedo foi divulgado o Indice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) teve alta de 0,83% em junho, em comparação com o mês de maio, de +44%. O resultado saiu ligeiramente abaixo da mediana das estimativas do mercado, de 0,86%. No entanto, a taxa foi a maior no mês, +1,11%, desde 2018. O índice acumula alta de 4,13% no ano e nos últimos 12 meses, até junho, ganho de 8,13%.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Trabalho divulgou a renda dos norte-americanos em maio, que caiu 2,0% em relação ao mês de abril, uma retração de US$ 414,3 bilhões. O índice de preços para gastos pessoais (PCE, sigla em inglês) subiu 0,4% em maio ante abril, + 0,6%, e em relação a 2020, a alta foi de 3,9% em maio, após registrar ganho de 3,9% em abril. O PCE é o principal índice de referência para inflação usado pelo Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano).

O dólar comercial fechou em alta de 0,63%, cotado a R$ 4,9360 para venda, encerrando abaixo de R$ 5,00 pelo quarto dia seguido em sessão de forte volatilidade, com investidores locais reagindo negativamente à proposta de reforma tributária entregue hoje pela equipe econômica do governo federal ao Congresso, no qual apresenta mudanças na taxação de investimentos. Com isso, a moeda encerra a semana em queda de 2,66%.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que no início da tarde, a moeda norte-americana passou a subir fortemente em meio ao “desconforto” dos investidores com a proposta por parte do governo federal de tributação em bolsa, com a divisa renovando máximas sucessivas a R$ 4,97, após no início dos negócios chegar a operar abaixo dos R$ 4,90 pela primeira vez desde junho do ano passado.

O economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, avalia que os pontos que não foram bem recebidos pelos investidores foram os propõem que o pagamento em ações não poderia ser deduzido como despesa; a reorganização de empresas impediria o aproveitamento de deduções na venda de participações societárias e o ganho de capital indireto alteraria o planejamento tributário de algumas empresas.

“O mercado também não gostou da tributação de lucros e dividendos, do fim dos juros sobre capital próprio e o fim da isenção de imposto de renda dos investimentos de fundos imobiliários”, avalia.

Segundo ele, em contrapartida, o mercado parece ter aprovado a atualização da tabela do imposto de renda, a proposta de que operações de bolsa de valores teriam alíquota única e compensação de todas as operações e a renda fixa teria uma alíquota única de 15% independentemente do prazo.

A equipe econômica da XP pondera que a proposta ainda pode sofrer alterações e ajustes durante o processo de aprovação, até que chegue no texto final.

Com a agenda de indicadores pesada, a semana que marcará o fim do mês, do trimestre e do semestre pode ser de volatilidade, diz o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli, com os mercados ajustando as posições de investimento e atentos aos dados de atividade da China, Europa, além dos números produção industrial doméstica. Enquanto nos Estados Unidos, o destaque fica para os números do mercado de trabalho, em junho.

“O mercado vai acompanhar com lupa porque o Fed tem falado muito sobre o comportamento do mercado de trabalho. É um forte sinalizador de como a economia norte-americana está se comportando”, acrescenta Jaconeli.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em queda desde os primeiros movimentos do dia com o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de junho acelerando-se novamente, mas em linha com as estimativas dos analistas.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 5,695%, de 5,735% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,18%, de 7,23%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,16%, de 8,14% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,56%, de 8,51%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia, em sua maioria, em alta, acumulando ganhos em uma semana marcada por recordes do S&P 500 e do Nasdaq em um momento no qual os investidores começaram a se descolar do tom mais favorável ao aperto monetário sinalizado pelo Fed.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,69%, 34.433,84 pontos

Nasdaq Composto: -0,06%, 14.360,40 pontos

S&P 500: +0,33%, 4.280,70 pontos