Mercado se divide sobre corte da Selic em 2020

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São Paulo – O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) com a decisão de reduzir a taxa básica de juros (Selic) a 4,5% ao ano deixou espaço para um novo corte no ano que vem, mas especialistas estão divididos quanto à probabilidade de este corte efetivamente acontecer.

“O Copom ajustou a orientação futura, tornando movimentos adicionais nos juros no curto prazo, se é que eles acontecerão, realmente dependente de dados”, disse o Goldman Sachs em um relatório, destacando que o Copom removeu do comunicado trecho que mencionava a possibilidade de um novo corte de juros na próxima reunião.

“Em termos gerais, exceto se houver uma depreciação do real para além de R$ 4,20 por dólar, as previsões condicionais de inflação para 2020 e 2021 não são inconsistentes com um pequeno corte final 25 pontos-base no primeiro trimestre”, disse o banco.

O Itaú BBA vai na mesma linha, mas espera uma redução ainda maior da Selic. “O comunicado do comitê não se compromete com cortes adicionais na taxa de juros, mas também não os exclui”, disse o economista-chefe da instituição, Mario Mesquita.

“Ainda esperamos que a taxa básica encerre o ciclo em 4% ao ano no início de 2020. Saberemos mais sobre o racional dessa decisão com a divulgação da ata da reunião na terça-feira, 17 de dezembro, e com a publicação do Relatório Trimestral de Inflação, na quinta-feira, 19 de dezembro”, acrescentou.

Parte dos especialistas, porém, considera menos provável que haja redução da Selic. Esta ala acredita que o Copom vai dar mais ênfase a sinais de recuperação da economia do que à expectativa de inflação abaixo do centro da meta.

Mais do que a inflação, achamos que a forma da atividade econômica no quarto trimestre de 2019 e nos meses iniciais de 2020 determinarão se o Banco Central vai afrouxar mais” a política monetária, disse o Société Générale. “Considerando que os números que chegaram sobre o quarto trimestre de 2019 mostram sinais de aceleração do crescimento, achamos pouco provável o BC cortar os juros no primeiro trimestre de 2020”, acrescentou.

“Tanto os números de inflação dos próximos meses – esperamos que a inflação acelere para perto de 4,0% em janeiro – e a pressão renovada sobre o real num contexto de aumento do déficit em conta corrente darão mais força a esta visão”, afirmou o banco.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, mesmo diante da atividade produtiva crescente, da inflação um pouco mais persistente e da perspectiva de alta do câmbio no curto prazo, o Banco Central entendeu que cabe à política monetária seguir estimulando a economia. “Muito provavelmente essa será a última redução, devendo a Selic se manter ou subir no próximo ano.”

A consultoria Capital Economics acredita que o mais provável seja a manutenção da Selic em 4,5% no decorrer de 2020. O economista-chefe da consultoria para mercados emergentes, William Jackson, afirma que os dados mais recentes sobre a atividade sugerem que a recuperação da economia brasileira ganhou força no terceiro trimestre e no início do últimos três meses deste ano, acompanhada por uma aceleração da inflação.

No entanto, “as autoridades do Banco Central parecem estar minimizando alguns dos riscos negativos à perspectiva de inflação. A linha sobre o risco de ‘propagação’ das taxas baixas de inflação por ‘inércia’ foi removida do comunicado,” disse Jackson.

Ele acrescentou que, da mesma forma, a estimativa implícita nos contratos de juros, de que a Selic aumentará a 5,5% até o final de 2020, parece exagerada.

“Embora a economia esteja se fortalecendo, o ritmo do crescimento ainda impressionará pouco. O aperto fiscal continuará a pesar sobre a atividade e também achamos que os termos de comércio do Brasil vão se deteriorar em 2020. Estimamos crescimento de 2% no PIB em 2020, abaixo do consenso” e insuficiente para fechar o chamado hiato do produto – a diferença entre o crescimento real e o crescimento potencial da economia. Isso, segundo ele, deve manter a inflação baixa.

Gustavo Nicoletta / Agência CMA