MERCADO AGORA: Veja um sumário dos negócios até o momento

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São Paulo – O Ibovespa acelerou ganhos puxado por balanços positivos e ações ligadas a commodities, enquanto investidores seguem em dúvida sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de furar o teto de gastos. O índice também vai na contramão do cenário externo, com a maioria das Bolsas em queda e mostrando cautela em meio a indicadores, impasse sobre o pacote de estímulos nos Estados Unidos e aumento de casos de coronavírus na Europa.

Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava alta de 0,96%, aos 101.425,03 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 14,8 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2020 apresentava avanço de 1,17%, aos 101.585 pontos.

“Alguns segmentos com peso relevante para o Ibovespa estão estáveis ou subindo, como as ações de commodities, isso é um refúgio para o mercado, são ações mais seguras. Mas não descarto alguma volatilidade dependendo do noticiário, talvez no fim do dia o índice possa reverter essa alta”, disse o gestor da Rio Verde Investimentos, Eduardo Cavalheiro.

As maiores altas do Ibovespa no momento são de ações que divulgaram balanços trimestrais, caso da Suzano, da Natura, da JBS e da Marfrig. Além disso, as ações do setor financeiro, com grande participação no índice, também aceleraram ganhos, caso do Itaú Unibanco e da B3.

Na contramão, as maiores perdas são de redes varejistas que também divulgavam seus balanços trimestrais, com investidores digerindo os dados e em dúvida de como será o desempenho do setor daqui para frente, caso da B2W, das Lojas Americanas e da Via Varejo.

Apesar de alguns balanços positivos estarem impulsionado o índice, analistas alertam que ainda há muita incerteza sobre a agenda do governo, com possibilidade de mudanças de rumo em direção ao aumento de gastos. Após ter defendido o compromisso com o teto de gastos, o que havia tranquilizado temores de parte de agentes do mercado, Bolsonaro admitiu que a discussão sobre furar o teto está sendo feita e pediu patriotismo ao mercado, em live nas suas redes sociais.

“A impressão que dá é que o mercado não quer acreditar que o governo quer ir na direção de aumento de gastos, está meio incrédulo”, disse Cavalheiro. Para ele, parte do mercado ainda está em dúvida sobre o discurso do governo e dá mais um voto de confiança de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem se aproximado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, irá insistir na defesa da sua agenda e do teto de gastos. “Não precisa sair 100% do cardápio, mas se vier alguma coisa, alguma reforma, já ajudaria”, completa.

O responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, por sua vez, alerta para os riscos e acredita que a agenda já mudou, com Guedes podendo ficar mais isolado. “Talvez a mosca azul da popularidade tinha atingido o Bolsonaro, e todos os políticos vão colar nele, vai ter pressão por gastos. Não sei se o Guedes sai, a princípio não, ainda pode ter algum bom senso, mas a agenda já mudou, vai ficar mais conservadora”, disse em live para investidores. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que a popularidade de Bolsonaro subiu, reflexo, por exemplo, do auxílio emergencial.

Além do risco fiscal, o cenário externo é mais negativo hoje. A divulgação de dados mais fracos que o esperado de indústria e varejo chineses trouxeram temores sobre uma desaceleração do ritmo de recuperação do país. Nos Estados Unidos, as vendas no varejo também subiram menos que o esperado, embora a produtividade da mão de obra tenha crescimento mais que o previsto. Além disso, seguem os impasses nas negociações do pacote de medidas de estímulos fiscais nos Estados Unidos.

Na Europa, as Bolsas caem ainda mais em meio ao receio de uma segunda onda de infecções de covid-19 na região. O Reino Unido impôs quarentena de 14 dias a todos viajantes oriundos da França, Holanda e Malta.

Conhecido tradicionalmente como um dia de cautela, a sexta-feira ganha um capítulo adicional após Jair Bolsonaro questionar, em live realizada ontem, qual seria o problema de o país estourar o teto de gastos. No dia anterior a isso, Bolsonaro havia firmado compromisso de manter as contas sob controle. Com isso, o dólar comercial opera em alta, mesmo que modesta, desde a abertura da sessão.

Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava avanço de 0,48%, sendo negociado a R$ 5,3950 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em setembro de 2020 apresenta valorização de 0,47%, cotado a R$ 5,396.

“Espantosa e surpreendentemente, depois de vinte quatro horas de ter convocado a imprensa a fim de defender o teto de gastos, o presidente da República, Jair Bolsonaro, questionou, em uma live feita no dia de ontem, qual o problema em furar o mesmo teto de gastos. A existência da ideia de descumprir o comprometimento fiscal coloca o mercado doméstico em cautela. Como se não bastasse, o Senado também já rompeu o “pacto”, culminando em mais um fator que adentra a equação de precaução fiscal”, explicou, em relatório, Pedro Molizani, Trader Mesa de Câmbio Travelex Bank.

Na tarde de quarta-feira, Jair Bolsonaro se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia e com o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, justamente para firmar o compromisso dos poderes em manter o país dentro do teto.

As taxas dos contratos de juros futuro (DIs) não conseguiram sustentar um ligeiro viés positivo, com o movimento de recomposição de prêmios perdendo força, após a alta intensa nos últimos dias. Os investidores digerem os ruídos políticos envolvendo a questão fiscal.

Às 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,79%, de 2,81% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 3,98%, de 4,00% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 5,81%, de 5,82%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,82%, de 6,85%, na mesma comparação.