Membros do Fed defendem redução da compra de ativos ainda este ano

352
Foto: Shutterstock

São Paulo – Vários membros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) defenderam a redução das compras de ativos ainda este ano. Embora não seja consenso entre eles quando o processo deve começar, todos destacaram que a economia dos Estados Unidos não precisa mais de tanto apoio vindo de uma política monetária extremamente acomodatícia e também manifestaram preocupação com a disparada da inflação no país.

O mais arrojado a falar hoje, o chefe da unidade de Dallas, Robert Kaplan, disse que gostaria de ver o banco central norte-americano anunciar em setembro a redução das compras de ativos, atualmente no ritmo de US$ 120 bilhões por mês.

“Com base em tudo o que vi, não há nada neste momento que me faria mudar materialmente minha perspectiva”, afirmou ele para a CNBC. “Continuaria a ser minha opinião que, quando chegarmos à reunião de setembro, estaríamos bem servidos para anunciar um plano para ajustar as compras e começar a executar esse plano em outubro ou logo depois”, acrescentou.

Kaplan – que este ano não tem direito a voto – chegou a mencionar na semana passada que poderia ajustar sua visão sobre a redução das compras de ativos por conta dos efeitos da variante Delta do coronavírus na economia.

Já o presidente da unidade de Saint Louis, James Bullard, disse que as compras de ativos devem começar a ser reduzidas em breve e o processo deve ser concluído até o final de março para evitar o superaquecimento da economia dos Estados Unidos.

“Existe a preocupação de estarmos causando mais danos do que ajudando com a compra de ativos, porque há uma bolha imobiliária incipiente nos Estados Unidos. O preço médio das casas, pelo menos o número que vi, estava se aproximando de US$ 400 mil”, disse ele em entrevista para a CNBC.

“Tivemos muitos problemas em meados dos anos 2000 por sermos complacentes demais com os preços das moradias, então acho que queremos ser muito cuidadosos com isso desta vez”, acrescentou.

O Fed vem realizando um debate acalorado sobre o momento para a redução das compras dos US$ 80 bilhões em títulos do Tesouro e dos US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas que compra mensalmente. Parte dos membros do comitê de política monetária defendeu na reunião de julho que essas reduções começassem pelas hipotecas citando o aquecimento do mercado imobiliário norte-americano.

Bullard – que este ano não tem direito a voto –  disse que as compras do Fed foram apropriadas no ano passado para apoiar a economia durante o auge da pandemia de covid-19, mas agora há o risco de criar bolhas nos mercados financeiros e de uma inflação galopante.

“Temos uma nova estrutura que dissemos que permitiríamos que a inflação ficasse acima da meta por algum tempo, mas não muito acima da meta”, disse ele fazendo referência à meta de 2% do Fed para a inflação.

“Então, por essa razão, acho que queremos continuar diminuindo. Ter a redução finalizada até o final do primeiro trimestre do próximo ano”, afirmou. “E então podemos avaliar qual é a situação e seremos capazes de ver nesse ponto se a inflação moderou e, se for esse o caso, estaremos em ótima forma. Se não moderou, teremos que ser mais agressivos”.

Já a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, defendeu a redução das compras de ativos citando o nível de recuperação da economia norte-americana, embora não tenha indicado quando o banco central deve dar início ao processo.

“Acho que isso é apropriado, dado o progresso que vimos”, disse ele em entrevista para a CNBC. “Não significa que iremos avançar para uma política neutra ou mais rígida, mas acho que é um primeiro passo. Os sinais na economia agora mostram que estamos chegando a esse ponto”, acrescentou.

Sobre a taxa de juros, hoje perto de zero, George – que este ano não tem direito a voto – disse uma possível elevação vai levar mais tempo já que o banco central observa o impacto que uma eventual redução na compra de ativos. Ela também chamou atenção para o renovado impacto da covid-19 sobre a economia.

“Observar tudo isso com atenção obviamente sinalizará quando é hora de um ajuste de taxa”, disse George, que indicou que uma alta poderia ser justificada até o final de 2022.

As declarações de George acontecem em meio ao simpósio anual do Fed em Jackson Hole, organizado pela unidade de Kansas City Fed. O presidente do Fed, Jerome Powell, discursa amanhã no evento e não é esperado o anúncio da data para a redução das compras de ativos.