Maioria do mercado vê Copom cortando Selic a 2,25% em junho

688
Edifício-sede do Banco Central em Brasília. (Foto: Divulgação/BC)

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir a taxa básica de juros (Selic) para 2,25% na próxima reunião, conforme indicou em seu comunicado mais recente, mas isso aumentará a preocupação dos investidores com o quadro fiscal, principalmente por causa do aumento nas despesas decorrente de medidas para combater a pandemia do novo coronavírus.

Das oito instituições consultadas pela Agência CMA, apenas duas apostam exclusivamente numa redução da Selic para 2,50% na reunião do Copom em junho – Capital Economics e UBS. O Goldman Sachs vê chance de redução para 2,50% ou 2,25%, enquanto as demais – Bank of America, Banorte, Bradesco, Itaú Unibanco e Rabobank – acreditam que a taxa cairá 0,75 ponto porcentual, a 2,25%, e permanecerá neste nível até o final do ano.

Quase todas as instituições financeiras que apostam em um corte para 2,25% na Selic apontam que a principal preocupação do Copom no momento é a possibilidade de recessão econômica e de a inflação ficar muito abaixo da meta buscada pelo Banco Central, que é de 4,0% neste ano, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.

“Os termos [do comunicado] indicam mais disposição para o afrouxamento monetário em meio à demanda deprimida e o hiato do produto mais amplo esperados para este ano”, disse o Bank of America em relatório, acrescentando que dois membros do Copom estavam dispostos a aprovar cortes ainda maiores na Selic na reunião de ontem.

Os que acham que a redução da Selic será menor, para 2,50%, apontam que há alguns fatores impedindo um afrouxamento mais significativo na política monetária, entre eles o risco político, visto que o Congresso está adotando medidas para aumentar os gastos públicos e que em alguns casos este aumento extrapola os planos iniciais da equipe econômica – como ontem, no auxílio a estados, que deixou de exigir o congelamento temporário dos salários de funcionários do setor público.

“Achamos que o risco político doméstico e o impacto sobre o real devem limitar o afrouxamento”, disse a Capital Economics em um relatório. “É claro, é extremamente difícil prever como os acontecimentos políticos vão se desenrolar, mas enquanto a crise política recente não se agravar, o Copom deve afrouxar mais” a política monetária.

Para o UBS, que aposta no corte mais intenso da Selic, “embora as preocupações com a estabilidade financeira sejam reais, o piso efetivo [para os juros], que claramente é maior do que zero em termos nominais, mas pode ser zero em termos reais, é algo que precisa ser encontrado por tentativa e erro”.

“Os receios a respeito da trajetória fiscal são muito reais, mas levará muitos meses para ver se a atual crise mudará o apoio político às reformas.

Caso isso aconteça, então a Selic provavelmente não ficará por muito tempo abaixo de 3%, mas isso e assunto para outro dia”, acrescentou.

O Banorte avalia que há outros fatores políticos em jogo que podem desestabilizar o cenário de reformas, como a saída do ex-ministro Sergio Moro.

“A saída do ministro não ajudará na aprovação de Bolsonaro, que atualmente está 33% e também se vê afetada por sinais de recessão e pela continuidade de investigações sobre sua família.”

“Mesmo que em 2019 o governo e o Congresso tenham trabalhado juntos para aprovar a reforma da Previdência, e além disso pela aprovação de pacotes de emergência para apoiar a economia, as constantes tensões entre ambas as partes mantém a incerteza nesta frente”, acrescentou.

FATORES ADICIONAIS

Analistas apontaram também outros fatores que podem influenciar as decisões do Copom a respeito da taxa básica de juros. O Itaú Unibanco citou a possibilidade de o Banco Central adquirir autoridade para comprar títulos de dívida, o que evitaria uma inclinação muito acentuada da curva de juros.

“Isso pode deixar o comitê mais confortável para agir de forma mais rápida na parte curta da curva juros”, afirmou.

O Goldman Sachs apontou que, mais do que o crescimento a inflação, serão os desdobramentos fiscais, no câmbio e na conta de capitais que definirão qual será a magnitude do próximo corte da Selic.

“O Brasil está se movendo rapidamente em direção a um juro real zero, um território financeiro ainda não desbravado. A economia nunca operou neste tipo de ambiente. Pode ser que este novo território seja amigável e hospitaleiro, mas não saberemos até operar nele por um tempo”, acrescentou.

O Bradesco disse que a Selic pode cair ainda mais do que 0,75 ponto porcentual, visto que os dados de atividade devem piorar em relação ao cenário base do Copom.

“Dependerá, essencialmente, da combinação de dados econômicos, preços de commodities e da resposta da taxa de câmbio ao ambiente global, doméstico e à própria queda de juros, na extensão em que esses fatores mantenham a inflação projetada para o próximo ano abaixo do centro da meta”, afirmou.

O Scotiabank apontou que existe o risco de o Copom ter que desfazer rapidamente em 2021 os cortes aplicados à Selic neste ano. “O BC demonstrou ousadia para estimular a economia com a decisão. Lembrem que a Selic estava em 14% no segundo semestre de 2016. Nosso medo nesta frente é que, com o real despencando e as expectativas reduzidas para consenso político em torno de reformas, o BC seja forçado a voltar atrás no final de 2020 ou no inicio de 2021 para dar mais yield ao real, que agora possui retorno real negativo.”