Lagarde deve comandar revisão estratégica em sua primeira reunião no BCE

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Por Julio Viana

São Paulo – A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, deve anunciar em sua primeira reunião como chefe da autoridade monetária uma pequena revisão da estratégia futura, que pode incluir uma alteração sutil da meta inflacionária, segundo analistas consultados pela Agência CMA, que não projetam mudanças na política atual para este encontro.

“Por enquanto, acredito que é mais provável que a meta de inflação seja alterada para ponto único, como 2,0% ou um pouco abaixo, talvez 1,8%”, afirma o analista da Capital Economics, Andrew Kenningham.

Atualmente, a meta de inflação do BCE é de próxima, porém levemente abaixo de 2,0% ao ano.

Para os analistas do Rabobank, Bas van Geffen e Elwin de Groot, a estabilidade econômica da zona do euro foi mantida desde a última reunião, em outubro, o que significa que mudanças na política monetária pelo BCE não devem ocorrer agora.

A última vez que o BCE realizou alterações em sua política foi em setembro, quando cortou a taxa de depósitos em 0,1 ponto percentual (pp), para -0,5% ao ano.

Na ocasião, a autoridade monetária anunciou que as compras de ativos seriam retomadas em um ritmo mensal de 20 bilhões de euros, a partir de 1 de novembro, entre outras medidas de afrouxamento monetário e manteve a taxa básica de juros em zero e a taxa da linha mantida com bancos comerciais para concessão de liquidez de curto prazo em 0,25% ao ano.

“A perspectiva para o próximo ano, porém, é sombria e acreditamos que Lagarde deverá agir de verdade em março”, afirmam Van Geffen e Elwin de Groot.

“Embora dados industriais como o índice dos gerentes de compras [PMI, na sigla em inglês] tenham melhorado um pouco nos últimos meses, a queda nos dados de venda e de serviços mostram que a desaceleração irá se arrastar.

Por isso, embora a medida inflacionária do BCE não mude agora, ela deverá sofrer alterações nos próximos trimestres”, acrescentaram.

Contrariando a tendência, o BCE deve se manter mais positivo do que a realidade. “Acredito que a previsão do banco europeu para 2020 e 2021 será otimista demais. O BCE não deve realizar nenhum tipo de corte em relação a esses dados no momento. Pelo menos não por enquanto”, completaram os analistas do Rabobank.

ESTILO LAGARDE

Para a maioria dos especialistas, o mercado estará atento ao estilo de comunicação de Lagarde à frente do BCE, tentando captar quais serão suas inclinações para 2020.

“Lagarde demonstrou força política especial enquanto a frente do FMI [Fundo Monetário Internacional]. No entanto, é a primeira vez que ela falará por um banco central, um momento tenso em que qualquer deslize pode mudar tudo”, afirmam analistas do Scotiabank em nota.

Para os analistas, as taxas de juros negativas na zona do euro podem ser um ponto de tensão sob o novo comando do BCE.

“Um ponto de pressão sobre Lagarde será sua análise dos efeitos dos juros negativos sobre a economia europeia. Qualquer tendência a favor ou contra as medidas deve ser observada atentamente pelo mercado”, dizem economistas do Société Générale.

Kenningham, da Capital Economics, acredita que Lagarde deverá se conter e não revelar muito de sua nova estratégia para 2020. Segundo ele, a nova presidente do BCE deve esperar os novos membros, Isabel Schnabel e Fabio Panetta, se juntarem ao conselho em janeiro para tomar decisões.

“Isso indica outro ponto crítico da liderança de Lagarde, que deverá ser a transparência nas decisões do BCE. Segundo já afirmou outras vezes, ela deve querer incluir a participação dos outros conselheiros o máximo possível”, afirma Kenningham.