Lagarde confirma manutenção da acomodação, mas defende apoio fiscal

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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. Foto: Divulgação/ BCE

São Paulo – A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, renovou os sinais de que a política acomodatícia deve ser mantida na eurozona até que a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus seja superada. No entanto, ela destacou a importância de que medidas de apoio fiscal continuem sendo implementadas para a recuperação da economia da região.

“Ao continuar a liderar a proteção das empresas e setores mais expostos à crise, a política fiscal pode ajudar a iluminar as perspectivas econômicas para empresas e famílias, fortalecendo assim a transmissão da política monetária”, afirmou ela ao Parlamento Europeu.

Segundo Lagarde, as medidas fiscais deram um salto, em média, para 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da eurozona durante a pandemia. “A força da resposta da Europa à crise dependeu crucialmente da força das respostas nacionais e europeias em todas as áreas: monetária, fiscal, de supervisão e regulatória”, disse.

Do lado da política monetária, a chefe do BCE afirmou que o programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês) ajudou a estabilizar os mercados e facilitou a política de apoio à recuperação. “Continuará a ser uma ferramenta crucial. O envelope do PEPP de 1,85 trilhão de euros nos dá um poder de fogo considerável e flexibilidade na condução de compras”, disse.

Além disso, as operações direcionadas de refinanciamento de longo prazo (TLTROs, na sigla em inglês), segundo Lagarde, continuarão a ser uma fonte atraente de financiamento para os bancos, apoiando o fluxo de crédito para famílias e empresas. “As empresas médias tendem a se beneficiar desproporcionalmente de crédito abundante e barato, e as empresas menores conseguiram tomar empréstimos às taxas mais baixas já registradas”, afirmou.

Por isso, Lagarde reafirmou que o BCE continuará a apoiar todos os setores da economia, preservando o financiamento favorável durante a pandemia, como tem feito desde o início da crise. “Este compromisso implica olhar para indicadores ao longo de toda a cadeia de transmissão de nossa política monetária – de taxas livres de risco a custos de empréstimos do governo, mercados de capitais e empréstimos bancários para empresas e famílias”, disse.

Dentro do conjunto de indicadores que o BCE monitora para avaliar se as condições de financiamento ainda são favoráveis, ela citou as taxas de swap overnight indexado livre de risco (OIS, na sigla em inglês) e os juros projetados por títulos de dívida dos governos.

“[Esses últimos] são particularmente importantes, porque são bons indicadores iniciais do que acontece nos estágios posteriores de transmissão da política monetária, uma vez que os bancos utilizam esses juros como referência na fixação do custo dos seus empréstimos às famílias e empresas. Assim, o BCE acompanha de perto a evolução das taxas de juros das obrigações nominais a mais longo prazo”, afirmou.

REABERTURA DA ECONOMIA

Embora tenha indicado que as perspectivas seguem altamente incertas por conta da pandemia, Lagarde disse que o próximo desafio da eurozona será a reabertura econômica ao passo que o processo de vacinação for avançando e o vírus é controlado.

“O foco será então reduzir os danos causados ​​pela pandemia, como a redução de empregos permanentes, que uma em cada cinco empresas está considerando. Ao mesmo tempo, será crucial aproveitar o potencial oferecido pela pandemia, que impulsionou um salto de vários anos no progresso digital e trouxe um novo enfoque à sustentabilidade”, afirmou.

Neste contexto, Lagarde diz que as tecnologias digitais e verdes apresentam possibilidades enormes para um crescimento mais vibrante, inclusivo e sustentável. Só no setor da energia, segundo ela, aumentar o investimento verde aos níveis necessários poderia criar cerca de 1,1 milhões de empregos em toda a Europa até 2030.