Investidor segue cauteloso com ambiente externo e interno de risco

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Foto: Edrod / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa encerrou a sessão em queda de 1,17%, aos 100.050,43 pontos. O índice já iniciou o dia em queda acentuada, com investidores cautelosos diante de uma agenda de indicadores fraca no Brasil e mercados que retração nos Estados Unidos, refletindo uma forte queda nas ações das empresas de tecnologia norte-americana.

Somado a tudo isso, ainda há uma expectativa negativa em relação ao cenário político brasileiro, com dúvidas sobre a reforma administrativa, que trouxe um conflito entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, além da preocupação de que o país acabe estourando o teto da dívida.

De acordo com estudo de Alvaro Bandeira, economista-chefe e sócio do banco digital Modalmais, sobre uma possível bolha nos mercados acionários, foi descoberto que empresas de tecnologia norte-americanas estão sobrevalorizadas, principalmente as grandes líderes como Apple, Amazon, Tesla; incluindo ainda Facebook, Netflix, Google e adjacentes.

“Convém lembrar ainda que, aparentemente, os investidores estavam antecipando em demasia o futuro dessas empresas, considerando um novo normal onde o salto tecnológico se faria presente. Por qualquer indicador tomado os números seriam absurdamente altos, se comparados com valorizações e indicadores anteriores. Mas o covid-19 teve o poder de colocar em dúvida todas as projeções de conjuntura, que inclusive agora estão sendo melhoradas pela resposta maior das economias na retomada”, explicou o economista-chefe.

Bandeira lembra ainda que fica a dúvida “sobre essa antecipação de resultados futuros e/ou brusca aceleração na utilização de tecnologias fariam o efeito de ganhos de produtividade e, consequentemente, de melhora dos resultados futuros das empresas, realmente o fator que mais importa”, acrescentou o especialista.

“O Investidor não tem encontrado muito ânimo de investimento. A situação política no Brasil não é a melhor no momento e a realização que vem ocorrendo nas Bolsas norte-americanas ajuda com essa saída. Ainda há muita coisa para acontecer e indicadores importantes essa semana. Talvez o investidor prefira esperar um pouco esses indicadores para se posicionar melhor”, explicou um operador de renda variável de uma grande corretora.

“Hoje, a agenda é fraca, mas o mercado está com as atenções voltadas para a divulgação do IPCA amanhã e números do varejo na quinta e serviços na sexta-feira. Possivelmente, o mercado interno seguirá a cautela do mercado externo. Os focos continuam no andamento da aprovação da reforma administrativa, o atrito entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia sobre a criação do fundo de desenvolvimento regional e o cumprimento do teto dos gastos públicos”, explicou Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.

Entre as ações que fazem parte do Ibovespa, a maior queda ficou com o papel ordinário da PetroRio (PRIO3), com recuo de 6,08%, enquanto a ação ordinária das Via Varejo (VVAR3) caiu 3,97% e o papel ON da Petrobras (PETR3) encerrou com perda de 3,47%. Por outro lado, a maior alta do índice ficou com o papel preferencial da Azul (AZUL4), com ganho de 6,79%.

O dólar comercial fechou em alta de 1,18% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3710 para venda, em sessão de forte volatilidade e amplitude da divisa estrangeira influenciado pelo exterior negativo em meio à correção na volta do feriado prolongado nos Estados Unidos – e aqui – com o sentimento de aversão ao risco prevalecendo por toda sessão.

“O sentimento de aversão ao risco tomou conta do mundo influenciado pela queda expressiva da [bolsa de] Nasdaq e também com as fortes perdas no preço do petróleo, com o final da temporada de pico nos Estados Unidos e uma piora no equilíbrio de oferta e demanda da commodity”, comenta o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek.

Ele acrescenta que a “mais recente” ameaça feita pelo presidente norte-americano, Donald Trump, de romper as relações comerciais com a China, caso seja reeleito, também pesou no preço dos ativos globais. “À tarde, com uma pequena melhora nas bolsas de Nova York, a moeda perdeu valor chegando a transitar abaixo dos R$ 5,32”, destaca. A moeda chegou às mínimas de R$ 5,3170, enquanto bateu a máxima de R$ 5,41 na primeira parte dos negócios.

Amanhã, o destaque na agenda de indicadores fica para a repercussão dos dados de inflação na China e no Brasil, em agosto. Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, se o índice de preços ao consumidor e o índice ao produtor sinalizarem alguma recuperação da economia do país asiático, pode beneficiar o desempenho das moedas de países emergentes.

Ela reforça que a possível aprovação do pacote fiscal nos Estados Unidos seguirá no radar dos investidores.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo o ritmo de colocação de prêmios visto desde a abertura do pregão, apesar da desaceleração do dólar. O movimento reflete o resultado salgado do IGP-DI em agosto, que elevou a expectativa pelo IPCA, amanhã, com os investidores já vislumbrando um espaço pequeno para um novo corte na Selic nesta semana que antecede a decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,83%, de 2,74% no ajuste anterior, ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,04%, de 3,90% após o ajuste na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,84%, de 5,69% antes do feriado; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,79%, de 6,64%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda com a correção na maioria das empresas de tecnologia iniciada na semana passada.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -2,25%, 27.500,89 pontos

Nasdaq Composto: -4,11%, 10.847,69 pontos

S&P 500: -2,77%, 3.331,84 pontos