Investidor mantém cautela diante do Fed, lado fiscal e Guedes

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São Paulo – Após mostrar volatilidade e dificuldades de definir uma direção ao longo do pregão, o Ibovespa fechou estável, aos 100.623,64 pontos, dividido entre os sinais positivos trazidos pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e preocupações locais com a situação fiscal. As dúvidas sobre o pacote que está sendo preparado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, seguem pesando negativamente sobre a Bolsa, assim como sobre sua relação com o presidente Jair Bolsonaro.

Perto da abertura do mercado, Powell confirmou as mudanças na condução da política monetária norte-americana, que passará a trabalhar com uma meta de inflação média de 2%. Não haverá uma fórmula para a inflação média, mas a autoridade monetária afirmou que não hesitará em conter a inflação se houver aceleração, assim como quer impedir um ciclo de declínio das expectativas de inflação.

As mudanças foram vistas como sinais de que o Fed pode ser mais tolerante com a inflação e manter os juros baixos por mais tempo, o que fez as Bolsas norte-americanas fecharem na sua maioria em alta. Para os analistas da Commcor Corretora, a mudança na estratégia reforça apostas de que “a autoridade tardará em seu próximo ciclo de aperto monetário”, já que “é de se esperar que o Fed não reaja prontamente aos primeiros sinais de repique nos preços”.

No entanto, a cena política local e a questão fiscal ainda trazem cautela. “Já alguns dias que estamos tendo um desempenho pior do que as Bolsas norte-americanas, já que segue o ruído político. Existe a preocupação fiscal e teve esse ‘sai não sai’ do Guedes, não é à toa que estamos tendo volatilidade”, disse o sócio da RJI Gestão e Investimentos, Rafael Weber.

Depois das especulações, o Ministério da Economia teve que desmentir a saída de Guedes e a expectativa é que ele entregue uma nova proposta do programa Renda Brasil ao presidente até amanhã. Ontem, Bolsonaro barrou e criticou a proposta inicial do ministro. Há dúvidas se será possível atender os desejos do presidente sem descumprir o teto de gastos.

Entre as ações, os papéis de bancos mostraram uma recuperação hoje e ficaram entre as maiores altas do índice, ajudando a segurar o Ibovespa, caso do Bradesco. Ao lado do Bradesco, entre as maiores altas, ficaram as ações do setor aéreo, Gol e Azul.

Na contramão, as maiores quedas são da Yduqs, que divulgou resultados trimestrais mais fracos do que o esperado pelo mercado, e da BR Distribuidora, depois que a Petrobras informou deve vender sua participação restante de 37,5% na empresa por meio de uma oferta pública secundária de ações (follow-on).

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos aos dados de renda e gastos pessoais norte-americanos e os índices de confiança ao consumidor que serão divulgados nos Estados Unidos e na zona do euro. Na cena doméstica, o mercado deve continuar atento ao noticiário político.

O dólar comercial fechou em queda de 0,74% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5750 para venda, em sessão de volatilidade e amplitude influenciado pelo exterior após o presidente do Fed anunciar mudanças sobre a política monetária com foco em inflação média de 2%, o que deverá manter a taxa de juros baixa por mais tempo.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, destaca a volatilidade da moeda na primeira parte dos negócios após o anúncio do presidente do Fed durante o simpósio virtual de Jackson Hole. “Em uma primeira leitura, quando Powell falou que vai usar uma nova estratégia de política monetária, baseada em uma taxa de inflação média, a moeda passou a registrar mínimas sequenciais”, diz. A mínima da sessão foi de R$ 5,5450.

Ele acrescenta que, em uma segunda leitura, os comentários foram que, provavelmente, os Estados Unidos terão “dois anos de dificuldades no emprego e em outros setores afetados pelos impactos da covid-19”, o que levou a moeda norte-americana a renovar máximas sucessivas acima de R$ 5,62.

Para a equipe econômica da Wells Fargo, a meta de inflação média sinaliza que o Fed deverá tolerar inflação moderadamente acima 2% para compensar as perdas anteriores, resultando em taxas de juros reais mais baixas e política monetária mais acomodatícia. A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, reforça que a fala de Powell apontou para a manutenção da taxa de juros baixa “mesmo com alguma pressão” na inflação norte-americana.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o destaque fica para os dados sobre renda e gastos pessoais dos Estados Unidos em julho, no qual o mercado prevê estabilidade para a renda e alta de 2,0% para os gastos pessoais. Abdelmalack destaca que há uma “expectativa” entre os investidores locais com as tratativas entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o programa Renda Brasil.

“Depois da divergência entre eles sobre o pacote, o mercado ficou hoje em compasso de espera e aguarda para ver se o ministro vai conseguir voltar com um pacote que agrade Bolsonaro quanto ao valor do Renda Brasil, além de esperar que Guedes traga alguma justificativa para o mercado que está preocupado com a alocação desse custo em 2021 para não burlar o teto dos gastos”, avalia.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão com leves oscilações, próximas aos níveis dos ajustes ontem, após alternar altas e baixas durante a manhã. Os investidores mostraram-se divididos entre o tom suave (“dovish”) na fala do presidente do Fed e os crescentes riscos fiscais no Brasil. A sessão também ficou mais volátil por causa do tradicional leilão de títulos públicos do Tesouro.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,87%, de 2,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,11%, de 4,07% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,98%, de 5,96%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,96%, de 6,97%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, com exceção do Nasdaq, depois que o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, disse que o banco central abandonaria sua política de aumento preventivo de juros para evitar a inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,57%, 28.492,27 pontos

Nasdaq Composto: -0,34%, 11.625,33 pontos

S&P 500: +0,16%, 3.484,55 pontos