Ibovespa encerra em queda com possível adiamento da votação da PEC; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou o primeiro pregão do mês em queda, com o possível adiamento da votação da PEC dos precatórios, que estava prevista para ocorrer hoje no plenário do Senado. Após operar com volatilidade, passou a firmar queda no fim do pregão. O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou com perda de 1,11%, aos 100.774,57 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 25,878 bilhões. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,66%, aos 100.850 pontos. O volume financeiro foi de R$ 23,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Segundo uma fonte que não quis se identificar, “não há quórum suficiente para a votação da PEC dos precatórios e tiveram de decidir pelo adiamento da votação”.

Perto do fechamento, Flávio Aragão, sócio da 051 Capital, comentou que a queda do Ibovespa estava relacionada a um pedido do MDB para adiar a votação da PEC dos precatórios por falta de quórum. “O mercado reagiu rapidamente a esse comentário. Se não houver quórum hoje, não haverá amanhã e a votação ficará para a próxima semana, mas temos de esperar o pronunciamento de Pacheco [Rodrigo Pacheco, presidente do Senado].”

Aragão comentou que na primeira metade da sessão o mercado estava precificando “o fim dessa dor de cabeça, mas tudo mudou e agora faz preço esse estresse de adiamento. O mercado não anda enquanto não se decidir sobre essa PEC”.

Em relação à Petrobras, o sócio da 051 Capital disse que o petróleo baixo favorece muito a estatal e ressaltou que “no dia 10 deve ter uma redução no preço do combustível. Como acompanhamos o preço médio da commodity, observamos que o governo teria margem para cortar 6% no valor da gasolina, se o petróleo continuar nesse nível de preço”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, head e estrategista da Speed Invest, comentou que a Bolsa teve um certo alívio hoje motivada pelas commodities.

“Após o pânico de ontem com a fala do Powell concordando que a inflação não é transitória como o Fed esperava e fragilidade na política interna, hoje o Ibovespa respira mais aliviado por conta das commodities”.

Rodrigues afirmou que está tendo um certo atrito entre a Opep e os países exportadores de petróleo e na sessão desta quarta-feira “houve uma apaziguada e o petróleo sobe forte”.

As ações da Petrobras e da Vale, que tem bastante peso no Ibovespa, fecharam com ganhos. As da estatal (PETR 3 e PETR4) fecharam em alta de 0,69% e 0,57% depois de subirem mais de 1%, enquanto a da mineradora (VALE3) avançou 0,40%.

O dólar comercial fechou em R$ 5,6710, com alta de 0,60%. Isso foi motivado pelo temor do texto dos precatórios que será aprovado no Senado, assim como a chance da votação no plenário ser adiada. A identificação da variante Ômicron, nos Estados Unidos, também gerou tensão nos mercados e refletiu no câmbio.

Para a equipe da Ouro Preto Investimentos, “a virada – que também ocorreu lá fora – foi por causa da identificação da nova variante nos Estados Unidos. Já a Correparti fala sobre “as incertezas quanto ao teor do texto final da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios que será aprovado no plenário do Senado”.

Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “a tensão com o Ômicron diminui quando existe a percepção de que as coisas não são tão ruins”. Além do apetite ao risco global, Serrano destaca o “ambiente de dólar forte no mundo”.

Serrano ressalta que nas últimas semanas a moeda brasileira se fortaleceu: “O real performou muito melhor que quase todos os seus pares”, pontua.

De acordo com o head de tesouraria da Travelex Bank, Marcos Weigt, “o real tem sido a moeda menos volátil dentre as emergentes, nos últimos 20 dias. O prêmio de risco, tanto em juros quanto no câmbio, ainda é muito grande”.

Apesar da valorização do real, Weigt ainda acha que o mercado está receoso: “Ainda existe cautela com os precatórios. Na hora que isso for resolvido, o dólar cai”, projeta.

Por outro lado, Weigt considera exagerada a preocupação com a aceleração do tapering (remoção de estímulos), anunciada ontem pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell: “Mesmo para 10 anos, a taxa de juros dos Estados Unidos ainda está em pouco mais de 1%”, argumenta.

De acordo com o boletim da Ajax Capital, os “ativos locais devem acompanhar recuperação do exterior. No front político, expectativa de que a PEC dos Precatórios poderá ser votada hoje em 1 turno no Senado também deve animar o mercado”.

Nesta terça, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou, por 16 votos a 10, o substitutivo de Fernando Bezerra (MDB-PE) aos precatórios. Para que isso acontecesse, contudo, o senador teve de aceitar 17 emendas propostas pelos senadores, além de retirar R$ 16 bilhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) do teto de gastos, pagando 40% (R$ 6,8 bilhões) no próximo ano e 30% nos dois anos subsequentes.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após o presidente do FED, Jerome Powell, sinalizar a aceleração do processo de retirada de estímulos fiscais nos EUA.

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,802% de 8,752% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,820%, de 11,875%; o DI para janeiro de 2025 ia a 11,490%, de 11,490% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,420% de 11,400%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,69 para venda.

Os principais índices de mercados de ações norte-americano fecharam o pregão em queda, com o Nasdaq caindo 1,83%, refletindo uma mudança de rumo iniciada à tarde, após a divulgação do primeiro caso confirmado da nova variante Ômicron nos Estados Unidos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -1,34 %, 34.022,04 pontos

Nasdaq Composto: -1,83 %, 15.254,1 pontos

S&P 500: -1,18 %, 4.513,04 pontos