Fugir da regra de paridade de preços foi desastroso para Petrobras

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Foto: Divulgação/Petrobras

São Paulo – O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que discutir paridade de preços de importação é surpreendente hoje em dia e ressaltou que fugir dessa regra foi algo desastroso para a companhia. Ele citou a dívida de US$ 75,7 bilhões da estatal e disse que é difícil conciliar obrigações em dólares com receitas em reais.

O executivo disse que nenhuma empresa privada divulga as fórmulas que usa para reajustar seus preços e comparou o assunto como palpite de jogo de futebol.

“Os preços dos combustíveis dos 36 pontos de venda da Petrobras são divulgados prontamente para quem interessa, que são os clientes, aqueles que vão comprar nossos produtos. Nenhuma empresa divulga fórmulas de como reajustar os preços. Espero que um dia o assunto dos preços dos combustíveis deixe de ser relevante, como deixaram de ver os demais preços da economia. Até mesmo a taxa de preços do Banco Central deixou de ter aquela especulação e não se transformou mais em palpite de jogo de futebol”, disse.

O executivo explicou que os preços dos combustíveis no Brasil não são caros e citou um estudo que mostra que mais de 166 países possuem valores superiores aos praticados por aqui.

“No fim das contas, existe o Brasil, que não e um país onde os preços de combustíveis são caros. Estou falando baseado em estatísticas a respeito da coleta de preços para 166 países divulgada pela Global Petrol Price e a gente se vê que as médias dos preços do Brasil seja em diesel ou gasolina estão abaixo dos preços globais. No caso do diesel, mais de uma centena de países tem preços acima dos preços do Brasil, mesmo se nós corrigimos pela renda per capita, o Brasil ainda fica ligeiramente abaixo da média global”, explicou.

Ainda sobre os preços, Castello Branco afirmou que se o Brasil quiser ser uma economia de mercado, precisa ter preços de mercado.

“Não existe nenhum exagero no Brasil por isso, embora alguns impostos sejam levados, comparando com os EUA os impostos são baixos e o Brasil tem preços mais elevados. O preço não é caro e nem barato, é o preço de mercado. Se o Brasil quiser ser uma economia de mercado tem que ter preços de mercado. Preços abaixo do mercado geram muitas consequências, algumas previsíveis e outras imperdíveis e todas negativas.”

Ainda sobre os preços, o executivo disse que continuará trabalhando normalmente até o próximo dia 20 de março e que manterá a paridade dos preços de importação.

INVESTIMENTOS

A Petrobras disse que os investimentos nos blocos na foz do Amazonas são estratégicos para a companhia e que aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e órgão reguladores para aumentar sua participação de 30% para 50%, após negociação com a Total, em setembro do ano passado.

A projeção de produção de 2,72 milhões de óleo equivalente por dia prevista para o ano inclui a previsão de desinvestimentos anunciada pela companhia, que inclui só os previstos para esse ano e não inclui Marlim e Albacora, disse a companhia.

“Os investimentos futuros são os que realmente impactam a produção, por isso optamos por fazer a hibernação de alguns campos para reduzir o custo. O impairment não tem impacto sobre a produção, é meramente contábil”, disse um executivo a jornalistas na tarde de hoje.

As perspectivas para enxofre são positivas e devem ficar em linha com o que foi registrado em 2020, disse André Chiarini, diretor de comercialização e logística da companhia.

ANÁLISE

Em relatório, a XP destacou que os resultados da Petrobras vieram acima das estimativas da casa para a receita líquida e lucro líquido, enquanto o ebitda ajustado, de R$31,7 bilhões, ficou em linha com a estimativa de R$ 30,7 bilhões da corretora por uma diferença de 3,0%, mas 5,8% abaixo do consenso de mercado, disseram os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado, que reiteraram a recomendação de venda dos papéis da estatal.

“Continuaremos a monitorar ativamente evoluções a respeito da Petrobras, tanto do ponto de vista de governança, aguardando a realização da assembleia geral extraordinária que avaliará a indicação do General Joaquim de Silva e Luna ao conselho de administração (para posteriormente assumir a presidência da companhia), como de evoluções a respeito da política de preços de combustíveis da Petrobras”, disseram os analistas.

O cálculo do ebitda ajustado adotado pela corretora diferiu do divulgado pela companhia por que os analistas excluíram diversos efeitos não-recorrentes (ou seja, que não refletem a realidade operacional da companhia) e sem efeito caixa, de forma a tornar o resultado o mais limpo possível para efeitos de comparação.

Em relação ao lucro de R$ 59,9 bilhões, bem acima da estimativa de R$ 2,0 bilhões da casa e de R$ 9,9 bilhões do consenso, os analistas recomendaram cautela, “tendo em vista o impacto positivo de diversos itens sem efeito caixa, como reversão de baixa de ativos (impairment) de R$ 30,9 bilhões e uma reversão não-recorrente de despesas incorridas no passado com plano de saúde de R$ 13,0 bilhões.

“Ou seja, há um efeito combinado de R$ 44,0 bilhões sobre o lucro divulgado que não reflete as operações da companhia.”

AÇÕES EM QUEDA

Após divulgação de resultados do quarto trimestre e de 2020 da companhia ontem à noite, as ações da companhia tiveram alta durante amanhã, mas passaram a cair ao longo do dia. Às 16h46 (horário de Brasília), as ações primárias (PETR3) e preferenciais (PETR4) recuavam 2,98% e 3,48%, a R$ 23,07 e R$ 23,53, respectivamente.