FMI reduz previsão de crescimento mundial

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Por Gustavo Nicoletta

São Paulo, 15 de outubro de 2019 – O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2019 e em 2020, argumentando que a atividade industrial está se enfraquecendo e que as tensões comerciais e geopolíticas deixam dúvidas sobre como a economia se comportará no futuro.

Segundo o FMI, a previsão de crescimento da economia mundial em 2019 caiu para 3,0%, de 3,2% estimados pelo órgão em julho. A estimativa de aumento do PIB mundial em 2020 também diminuiu, passando de 3,5% para 3,4%.

A redução nas projeções sobre o crescimento atingiu tanto as economias avançadas quanto as emergentes. No primeiro grupo, o PIB deve crescer 1,7% em 2019 e em 2020. Antes, a previsão era de expansão de 1,9% neste ano e de 1,7% no ano que vem.

No caso das economias emergentes, a estimativa de crescimento neste ano diminuiu em 0,2 ponto porcentual (pp), para 3,9%, enquanto a previsão para o ano que vem caiu em 0,1 pp, a 4,6%.

“A economia global está numa desaceleração sincronizada”, disse Gita Gopinath, economista-chefe do FMI, acrescentando que um dos motivos por trás dessa redução no ritmo de crescimento é o aumento das barreiras ao comércio mundial – por exemplo, a guerra de tarifas de importação entre Estados Unidos e China.

“Nós estimamos que as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China vão reduzir cumulativamente o nível do PIB mundial em 0,8% até 2020”, disse a economista.

Ela ressaltou que, apesar de o FMI esperar uma leve aceleração no crescimento econômico em 2020, há vários riscos que podem impedir essa previsão de se concretizar. “A perspectiva global continua precária”, avaliou.

Os riscos incluem desde a permanência das disputas comerciais até questões geopolíticas, como o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia – o chamado Brexit. Estes elementos podem “perturbar ainda mais a atividade econômica e atrapalhar a frágil recuperação nas economias de mercados emergentes e na zona do euro”, afirmou Gopinath.

Essa perturbação viria da mudança que estes riscos provocariam no apetite por risco dos investidores, por alterações no mercado financeiro e pela reversão do fluxo de capital – que passaria a sair de mercados emergentes em direção a destinos mais seguros, em economias avançadas.

Além disso, segundo o FMI, nas economias avançadas a inflação baixa pode se tornar mais difícil de combater e, com isso, limitar o espaço disponível para que a política monetária funcione adequadamente e ofereça estímulos no futuro.

“Para recuperar o crescimento, as autoridades precisam desfazer as barreiras ao comércio e trocá-las por acordos duradouros, limitar as tensões geopolíticas e reduzir a incerteza política doméstica”, disse Gopinath, acrescentando que estas medidas podem aumentar a confiança e ressuscitar os investimentos, a indústria e o comércio.

“Neste sentido, aguardamos mais detalhes sobre o acordo preliminar fechado entre a China e os Estados Unidos. Consideramos positiva qualquer redução nas tensões e cancelamento das medidas comerciais recentes, em particular se isso puder oferecer um caminho em direção a um acordo abrangente e duradouro”, acrescentou.

O FMI também defendeu que os governos adotem políticas econômicas que deem apoio ao crescimento de forma mais equilibrada, e defendeu um esforço mundial coordenado se a situação continuar piorando.

“A política monetária não pode ser a única opção. Deve ser associada ao suporte fiscal onde houver espaço para isso a política já não estiver em situação muito expansionista. Países como a Alemanha e a Holanda devem tirar proveito dos juros baixos para investir no social e em infraestrutura, mesmo do ponto de vista do custo-benefício puro e simples”, disse a economista.