Fiscal crível, BC independente e política de juros aqui e nos EUA são gatilhos para uma Bolsa ascendente

259

São Paulo -Os gatilhos para a Bolsa manter uma trajetória positiva e de forma sustentável dependem de a composição da nova diretoria do Banco Central, comprometimento do governo com o fiscal doméstico, possibilidade de aperto monetário pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e corte de juros nos Estados Unidos-ambos na reunião deste mês, dias 17 e 18.

“A minha expectativa é que a Bolsa vai se acomodando a patamares altos e não mais explosivos, enquanto essas soluções [nova diretoria do BC, fiscal, corte de juros e alta da Selic] não sejam mais bem endereçadas, e que mercado volte a ter uma confiança em um fiscal crível e na nova gestão do BC-que ela seja realmente técnica e comprometida com os alicerces que são colocados em relação à meta de inflação”, diz Rafael Weber, head da RJI Gestão e Investimentos.

Weber ressalta que “o mercado vai dar um peso entre 70% e 80% nessa mudança da diretoria do BC, e vai ficar de olho se o comprometimento com esse fiscal vai ser de fato verdadeiro. O mercado comprou muito a ideia do discurso do Galípolo [Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC] que é preciso agir para evitar uma desancoragem das expectativas. Se ele mudar o tom, as coisas podem piorar”.

O presidente Lula indicou, no último dia 28, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para assumir a presidência do Banco Central (BC) no lugar de Roberto Campos Neto, que termina o mandato em dezembro.

Galípolo será sabatinado em comissão no Senado, dia 8 de outubro. Com o nome confirmado, ele deverá influenciar na indicação de novos diretores da autarquia.

Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, também acredita que se o Galípolo conquistar a credibilidade frente à presidente do Banco Central, a Bolsa conseguirá manter a trajetória ascendente.

“Uma elevação da Selic, mas não um ciclo de alta forte, pode até ajudar na medida em que sobe os juros no curto prazo e compra “uma queima de prêmio” no longo prazo, como comprometimento com a inflação e um BC independente”.

Larissa diz que outro ponto importante é ter algum ajuste de despesas discricionárias, principalmente depois das eleições municipais. “Com esses dois fatores do nosso local, a gente já consegue firmar uma trajetória ascendente bem bacana, embora não explosiva por conta dos prêmios do fiscal.

Para o head da RJI Gestão e Investimentos, a Bolsa pode ficar menos atrativa com a elevação da juros. “Se a agente entrar nesse ciclo de aumento de juros, naturalmente isso segura um pouco o interesse por renda variável mesmo sabendo o que importa em renda variável é o juro longo. Com a atratividade da renda fixa a patamares próximo de 12%, a renda variável dependeria muito mais do fluxo estrangeiro [a entrada de recursos em agosto foi de R$ 10,06 bilhões], um recurso que não é exclusivamente para o Brasil”.

Ademais do cenário local, o corte de juros e as eleições americanas são vistos como pontos importantes para o desempenho da Bolsa. Weber acredita que as eleições podem dar um sobressalto no mercado e trazer volatilidade no quarto trimestre, em novembro, em razão do acirramento na disputa.

Já Larissa avalia que o grande drive é o afrouxamento monetário nos Estados Unidos. “Em julho e agosto a gente viu entrada de quase R$ 20 bilhões de capital gringo, que foi o responsável por fazer essa máxima histórica do Ibovespa, já que a gente continua vendo resgate nos fundos de ações”.

Em agosto, o Ibovespa bateu recordes históricos. No pregão de 28 de agosto, a Bolsa fechou em 137.343,96 pontos. As casas de análises trabalham com 147 mil pontos a 140 mil pontos para a Bolsa no final do ano.

Segundo Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o Ibovespa pode testar os 133 mil pontos, mas “no curto prazo deve ficar no patamar entre 135 mil pontos e 137 mil pontos, isso se as notícias não foram muito negativas”.

Na sexta-feira (6), o dado do mercado de trabalho nos Estados Unidos, (payroll, sigla em inglês)-foram criadas 142 mil vagas em agosto-, abaixo do esperado-160 mil pontos- assustou o mercado e voltou o temor de uma recessão no país.

“A previsão é que a bolsa teste de novo a resistência dos 140 mil pontos e talvez caminhe para uns 147 mil pontos até o final do ano”, disse Cittadin.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, também na linha mais otimista, vê o patamar dos 145 mil pontos factível para o Ibovespa no final do ano.

“Tivemos uma puxada rápida do Ibovespa, e normalmente passa por uma correção. Até espero que [a Bolsa] caia para alta ser mais sustentável. Uma correção até 130 mil para depois retomar a alta é um movimento que pode fazer sentido”.

Já o  head da RJI Gestão e Investimentos não crava 140 mil pontos no final do ano por conta da taxa de juros e o fiscal que ainda precisam ser endereçados. “Tem espaço para chegar nos 140 mil porque a bolsa ficou muito pra trás e o PL [Preço/Lucro] de algumas empresas ainda está muito atrativo, como o setor doméstico. Se o mercado tomar partido pra situação de retirada de risco, a bolsa pode não estar em 140 em dezembro, mas em janeiro”, disse Weber.