Fala de Arthur Lira mexe com mercados, mas não evita queda da Bolsa

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – O Ibovespa iniciou o dia em queda e assim seguiu por boa parte dele, mas aos 45 minutos do segundo tempo virou, chegou a operar em alta refletindo falas sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, entretanto não teve forças para se manter e acabou encerrando em queda. Com isso, a Bolsa brasileira fechou a sessão com recuo de 0,31% aos 111.183,95 pontos.

O gatilho para que o Ibovespa disparasse aproximadamente 5 mil pontos em menos de 10 minutos, saindo da mínima de 107 mil pontos para a máxima de 112 mil pontos, foi uma frase de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, em sua conta no Twitter. “Quero deixar claro que são infundadas todas as especulações sobre furar o teto. Tanto o Senado quando a Câmara votarão as PECs sem nenhum risco ao teto de gastos, sem nenhuma excepcionalidade ao teto. Essas especulações não contribuem para o clima de estabilidade e previsibilidade”, escreveu Lira.

A queda do índice teve como pano de fundo uma forte aversão ao risco nos Estados Unidos, a notícia sobre a saída de quatro conselheiros da Petrobras após o pedido de mudança na presidência da estatal, feita por Jair Bolsonaro, e também, em menor proporção, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que já era esperado como ruim pelo mercado.

“Tivemos um fluxo comprador na parte da tarde. Pela manhã a cautela era justamente a votação da PEC Emergencial, com preocupação sobre a economia de gastos e o furo do teto, fazendo o mercado cair. Mas no período da tarde teve a mensagem do Arthur Lira, trazendo uma posição mais compradora dos investidores”, explicou Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos.

Régis Chinchila, analista de investimentos da Terra Investimentos compartilha da mesma opinião e lembra que o twitte de Arthur Lira foi fundamental para a disparada dos mercados para que investidores voltassem a posição de compradores.

O dólar comercial fechou com leve queda de 0,08% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6620 para venda, em dia forte volatilidade com a moeda chegando às máximas de R$ 5,7730 – maior valor intraday desde 30 de outubro – seguindo o exterior mais negativo para as moedas de países emergentes em meio à alta do rendimento das taxas de juros futuros dos títulos de dívida do governo norte-americano, as treasuries, que ganharam fôlego ao longo da sessão.

Próximo ao fechamento da sessão, um movimento brusco tirou o dólar do patamar de R$ 5,75 para R$ 5,65 com operadores de mesas de câmbio atribuindo a reação às falas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Luiz Ramos.

Ambos reforçaram que o programa Bolsa Família ficará dentro do teto de gastos. “São infundadas todas as especulações sobre furar o teto. Tanto o Senado quanto a Câmara votarão as PECs sem nenhum risco ao teto de gastos, sem nenhuma excepcionalidade ao teto. Essas especulações não contribuem para o clima de estabilidade e previsibilidade”, escreveu Lira em seu Twitter.

“Perto do encerramento, o dólar derreteu com parlamentares afirmando que o teto de gasto será respeitado e também com a notícia de que o governo federal decidiu comprar 100 milhões de doses da vacina da Pfizer”, reforça o gerente da mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek.

Em meio à forte valorização da moeda no mercado doméstico, o Banco Central (BC) atuou no mercado com duas operações de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólar no mercado futuro – ao longo da tarde, no qual colocou US$ 2,0 bilhões. “O dólar chegou a R$ 5,77 porque teve também saída de investidores estrangeiros do país em busca de proteção”, acrescenta Esquelbek.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais esvaziada, o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, reforça que a PEC Emergencial seguirá no radar dos investidores. “O ambiente segue negativo tanto aqui como lá fora. Brasília segue no radar do mercado porque a cada atrapalhada que vier de lá é dólar mais perto de R$ 6,00”, avalia.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) registraram forte alta hoje, acompanhando a apreciação do dólar e fechando perto das máximas da sessão em um dia no qual os investidores reagiramm com cautela aos encaminhamentos da PEC Emergencial no Congresso e precificaram a expectativa de elevação da taxa básica de juro (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A confirmação de que o estado de São Paulo intensificará as medidas de restrição para enfrentar a pandemia também pesaram sobre os contratos.

Com isso, O DI para janeiro de 2022 encerrou o dia na máxima da sessão, a 4,010%, de 3,865% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 5,98%, também na máxima do dia, de 5,765% na véspera; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,77%, também na máxima, de 7,45% ontem; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,37%, de 8,08% na mesma comparação (de 8,40% na máxima).

As perspectivas de uma recuperação ainda mais rápida da economia norte-americana voltaram a pressionar Wall Street, fazendo com que os principais índices do mercado de ações norte-americano fechassem em queda. O Nasdaq teve seu pior desempenho desde 6 de janeiro.

Confira a variação e a pontuações dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,39%, 31.270,09 pontos

Nasdaq Composto: -2,70%, 12.997,80 pontos

S&P 500: -1,30%, 3.819,72 pontos