Facilitação de crédito e nova orientação para ativos estão no radar do Fed

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Prédio do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em Washington. Foto: Divulgação/ Federal Reserve

São Paulo – O Federal Reserve (Fed) manterá os juros próximos de zero, mas deve preparar para uma nova orientação para seu programa de compra de ativos, que deve ser mantido até a economia estar a caminho de cumprir a meta sustentada de 2% para a inflação e o pleno emprego. Além disso, o banco central norte-americano pode introduzir as
chamadas operações Twist como medida de facilitação de crédito, segundo analistas consultados pela Agência CMA.

O Fed cortou a taxa de juros para a faixa atual de zero a 0,25% ao ano em março, quando a pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio a economia norte-americana, provocando um bloqueio nacional subsequente. Na ocasião, o banco central também retomou as compras de Treasuries e hipotecas, que passaram por ajustes posteriores e hoje somam US$ 120 bilhões mensais.

“A ata da reunião de novembro revelou que as autoridades pensaram que seria apropriado atualizar o texto referente à aquisição de ativos em breve, com a maioria preferindo um vínculo baseado em indicadores sobre as condições econômicas”, disse o economista da Capital Economics para os Estados Unidos Andrew Hunter.

“As autoridades também queriam deixar claro que as compras serão eventualmente reduzidas e interrompidas antes que as taxas de juros sejam elevadas”, acrescentou.

O estrategista global da Nordea, Andreas Larsen, destaca que o Fed também deve introduzir operações Twist como alternativa ao aumento do programa de compra de ativos. Essas operações são trocas de títulos de curto prazo que estão em carteira por outros de maior duração.

O objetivo prático deste tipo de política é reduzir os juros de médio e longo prazo, barateando o crédito e estimulando a economia.

“Os membros do comitê estão insatisfeitos com a decisão do Departamento do Tesouro de vetar o prolongamento das medidas de crise e esta é talvez a melhor razão para esperar que o Fed acrescente estímulo por meio de uma operação Twist”, disse Larsen.

No mês passado, o Departamento do Tesouro rejeitou a extensão de vários programas emergenciais de crédito do Fed, que devem expirar no próximo dia 31.

Na ocasião, o Tesouro também pediu que o banco central norte-americano devolvesse mais de US$ 400 bilhões em recursos não utilizados sob a Lei de Auxílio ao Coronavírus, Socorro e Segurança Econômica (Cares, na sigla em inglês), aprovada em março e que injetou trilhões de dólares na economia para mitigar os efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

“Esse tipo de medida provavelmente amortecerá a pressão acentuada na curva do dólar”, acrescentou Larsen.

Os especialistas são unânimes em dizer que as mudanças no encontro de dois dias que começa hoje não devem ser bruscas, mesmo diante do aumento de casos de covid-19 nos Estados Unidas, dos sinais de medidas de distanciamento mais duras e da ausência de apoio fiscal extra até o momento.

“A estratégia do Fed deve ser a de manter sua política o mais facilitada possível nesse período de vacinação. A maior insistência do banco central deve continuar sendo a de que o governo forneça mais estímulos fiscais”, afirmou o estrategista da Nordea.

Hunter, da Capital Economics, lembra que os indicadores econômicos ainda estão relativamente positivos. “Embora o crescimento do emprego tenha desacelerado de forma bastante acentuada no mês passado, permaneceu claramente positivo, e as últimas pesquisas de atividade também sugerem que a recuperação continuou”, disse.

O vice-presidente da Scotiabank Economics, Derek Holt, também destaca que as autoridades se sentem mais aliviadas com a perspectiva cada vez mais próxima de uma vacinação em massa. “As expectativas de melhora para o ano que vem estão mais altas e são baseadas em notícias reais de um maior controle sanitário”, disse.

Os Estados Unidos começaram a vacinar grupos prioritários contra a covid-19 ontem, depois que a Food and Drug Administration (FDA, equivalente a Anvisa no Brasil) deu a autorização para uso emergencial ao imunizante da Pfizer-BioNTech na sexta-feira.

“A falta de qualquer reação adversa do mercado nas últimas semanas estimula o comitê a manter sua política inalterada”, completou Hunter, da Capital Economics.