Estados indefinidos ganham mais peso em eleição nos Estados Unidos

3139

São Paulo – Há cerca de um mês das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 3 de novembro, o candidato democrata Joe Biden segue na frente nas pesquisas, mas a diferença ante Donald Trump tem diminuído, o que torna os estados sem tendência política definida ainda mais importantes para o resultado do pleito, segundo especialistas consultados pela Agência CMA.

Os estados norte-americanos considerados “swing states”, “battleground states” ou roxos – que em algumas eleições escolhem democratas e em outras, republicanos – são tradicionalmente Flórida, Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Trump venceu em todos eles em 2016, mas Biden lidera a média das pesquisas regionais mais recentes.

A lista dos estados indefinidos, porém, tem aumentado nas últimas votações. A Carolina do Norte, por exemplo, elegeu candidatos republicanos em nove das dez últimas eleições, com exceção de Barack Obama em 2008, mas Trump venceu com uma margem apertada em 2016. Este ano, as pesquisas apontam para uma vitória de Biden.

Já o Arizona elegeu apenas um democrata em quase 70 anos: Bill Clinton, em 1996. Mas Trump venceu por meros quatro pontos percentuais (pp) há quatro anos, enquanto Biden chegou a ficar dez pp à frente do atual presidente dos Estados Unidos em pesquisas do início de setembro. Alguns levantamentos mostram ainda democratas ganhando terreno em redutos republicanos como Texas e Georgia.

“Os ‘swing states’ serão muito importantes em novembro. Observamos atentamente os estados do meio-oeste industrial, particularmente Wisconsin, Michigan e Pensilvânia”, disse a pesquisadora do American Enterprise Institute, Karlyn Bowman.

Segundo ela, este ano é possível que ocorra outra situação como em 2016, quando as pesquisas apontavam para uma vitória da democrata Hillary Clinton e Trump saiu vitorioso. “No início do verão [no Hemisfério Norte], parecia que a liderança de Biden era tal que não seria o caso”, afirmou.

“Mas as pesquisas ficaram mais apertadas em algumas regiões que podem ser fundamentais. Também é possível que os republicanos percam o controle do Senado”, acrescentou. Bowman destacou ainda que em mais de 300 pesquisas realizadas desde primeiro de julho, Trump ficou acima de 45% das intenções de voto apenas cerca de uma dúzia de vezes.

Segundo o analista da Oanda, Ed Moya, os estados norte-americanos que podem decidir a eleição são Michigan, Wisconsin, Pensilvânia e Flórida. “Biden continua sendo o favorito e tem uma vantagem de apenas um dígito nas pesquisas nacionais e estaduais”, disse Moya.

Para ele, “tudo é possível, mas uma repetição de 2016 parece menos provável. Trump perdeu parte de sua base e a liderança de Biden é muito maior do que Hillary Clinton da última vez”.

A pesquisa realizada pelo Yougov para a “The Economist” entre 20 e 22 de setembro mostra Biden com 44% das intenções de voto e Trump com 38%, enquanto um levantamento da Rassmussen no mesmo período traz Biden com 48% e Trump com 47%. Biden chegou a ter uma vantagem de 14 pp sobre Trump em estatísticas de junho.

TEMAS DECISIVOS

A pandemia do novo coronavírus e a saúde da economia dos Estados Unidos são os principais temas que devem conduzir os votos dos eleitores nos estágios finais das campanhas presidências.

“Trump tem uma pequena vantagem em lidar com a economia, e os norte-americanos acham que Biden seria melhor lidando com o novo coronavírus”, disse Bowman, acrescentando que a eleição é referendo sobre o desempenho do presidente. “No momento, o índice de aprovação de Donald Trump está oscilando em torno de 45%. Ele precisa expandir sua base para vencer”.

Ela disse ainda que “levará muito tempo para os Estados Unidos se recuperarem da pandemia, não importa quem seja o presidente”.
Para o economista da Capital Economics, Andrew Hunter, uma vitória de Joe Biden em novembro junto com os democratas reconquistando o controle do Senado “podem resultar em um grande aumento nos impostos e nos gastos federais, junto com uma mudança nas políticas de saúde, regulatórias e comerciais”.

Por outro lado, “duvidamos que a eleição terá um grande impacto sobre as perspectivas de crescimento econômico em 2021 e além”, disse ele, uma vez que a política fiscal e monetária permanecerá frouxa independentemente de quem vencer.

Já Moya, da Oanda, disse que “a covid-19 criou muitas incertezas para as perspectivas e esta eleição pode ditar o quão confiante Wall Street está de que a economia vai lidar com a onda de inverno [no Hemisfério Norte] do vírus”.

Os Estados Unidos são o país no mundo com o maior número de casos e mortes por covid-19: mais de 7 milhões de contaminados e mais de 200 mil óbitos, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. Os infectados no mundo passam de 33 milhões, com mais de 1 milhão de mortes.

“Mais de 200 mil norte-americanos morreram do novo coronavírus e muitos acreditam que isso não teria sido necessário se uma ação mais forte ocorresse nos primeiros meses da pandemia”, disse Moya.

“A recuperação econômica também é crítica para os eleitores, já que quase 30 milhões de norte-americanos ainda estão recebendo algum tipo de ajuda”. Para o analista da Oanda, o ponto forte de Trump é que suas políticas econômicas “são muito mais amigáveis” do que as de Biden.

VOTO PELO CORREIO

Outro ponto de atenção nas eleições deste ano é a decisão de alguns estados de ampliar a votação pelo correio devido à pandemia. Estados como Colorado, Havaí, Oregon, Washington e Utah realizam eleições rotineiramente enviando cédulas pelo Serviço Postal.

Mas outros locais como Califórnia, Nevada, Nova Jersey e Vermont se comprometeram a enviar cédulas a eleitores este ano. Alguns estados permitem que eleitores solicitem o voto pelo correio por estarem ausentes no dia da eleição, enquanto outros restringem essa opção.

Trump com frequência critica os planos, alegando riscos de fraudes, mesmo sem apresentar evidências. Na semana passada, ele disse que as eleições “poderiam acabar na Suprema Corte“, e não se comprometeu com a transferência pacífica do poder se perder a disputa.

“A transferência pacífica do poder após as eleições é um teste crucial para qualquer democracia, especialmente para uma sociedade fortemente polarizada”, disse o estrategista do Rabobank, Philip Marey. Para ele, “o presidente está prejudicando a legitimidade do resultado da eleição”.

Além disso, os resultados das eleições devem chegar lentamente em novembro. “Em termos de resultado, estamos considerando a semana da eleição em vez de o dia de eleição”, disse Marey. “Como o resultado provavelmente será contestado, a incerteza pode durar ainda mais”.