Estabilidade de preços é a primeira coisa a ser garantida, diz Campos Neto

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Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central do Brasil, apresenta o Balanço da Agenda BC#. (Foto: Raphael Ribeiro/ BCB)

São Paulo – O controle da inflação e das expectativas do mercado sobre a trajetória dos preços da economia é prioridade porque o efeito da inflação descontrolada é muito nocivo para a economia, disse o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

“Se tem uma coisa que impacta o crescimento sustentável no médio e longo prazo é a inflação e a desancoragem dela”, disse ele durante um evento do Conselho das Américas. “A história entende que a primeira coisa que temos que garantir é a estabilidade de preços”, acrescentou.

Segundo Campos Neto, a inflação cria um imposto perverso, porque as pessoas com menos dinheiro estão mais desprotegidas dos efeitos da alta de preços do que as pessoas mais ricas. Isso cria desigualdade, que o governo precisa compensar com mais gastos, que aumentam o custo de financiamento da dívida pública, o que gera um círculo vicioso para a economia.

“Obviamente, quando se está num ambiente de aumento de juros e [o Banco Central] diz que vai colocar juros acima do neutro, estamos dando mensagem que para nós é importante lutar contra este processo inflacionário”, afirmou.

Ele voltou a cobrar que o governo federal passe credibilidade em relação ao seu compromisso de ajustar as contas públicas, e repetiu que há uma percepção no mercado financeiro de que o ajuste fiscal será comprometido por tentativas do Planalto de aprovar projetos capazes de impulsionar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

Campos Neto reiterou o fato de o mercado financeiro esperar uma inflação para 2022 mais alta do que a calculada pelo BC deve-se a fatores técnicos e a ruídos relacionados ao campo político.

Na parte política, ele mencionou o “alto nível de ruído sobre a parte institucional em que o Brasil opera, com a luta entre Poderes”, e uma outra dimensão referente às interpretações do real objetivo do Planalto ao propor a ampliação do Bolsa Família e o parcelamento do pagamento de precatórios.

“O mercado está ligando ações que o governo toma, o desejo de ter um programa [Bolsa Família] mais robusto, e está ligando algumas coisas que o governo está fazendo com as eleições. Isso cria ruído adicional”, afirmou. Segundo Campos Neto, “quando o governo explicar o que o Bolsa Família vai ser e como será pago, isso será removido.”

“Para nós é importante como a percepção do fiscal se desenrola. Olhamos como isso está sendo embutido na inflação esperada e implícita, como isso afeta a inflação atual. Reconhecemos que parte do ruído que vimos está impactando” no gerenciamento da política monetária.