ESPECIAL COPOM: Mercado vê corte de 0,25pp e aguarda comunicado

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Edifício-sede do Banco Central em Brasília. (Foto: Divulgação/BC)

São Paulo – Os mais recentes indicadores econômicos calibraram as expectativas do mercado financeiro em relação ao rumo da taxa básica de juros neste mês, com o cenário ainda benigno da inflação ao consumidor consolidando as apostas de corte de 0,25 ponto percentual (pp) na Selic. Porém, os números sobre a recuperação da atividade lançam dúvidas em relação a quedas adicionais para além de agosto, o que desloca o foco para o comunicado que acompanhará a decisão ao final da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje.

O Departamento de Economia da Renascença Corretora enumera uma série de fatores, domésticos e externos, para embasar a perspectiva de ajuste residual no juro básico, para 2%. Em relatório, a equipe destaca o resultado abaixo do esperado da prévia de julho do índice de preços ao consumidor brasileiro (IPCA-15), cujo resultado (+0,30%) ficou abaixo da mediana das expectativas (+0,52%), conforme o Termômetro CMA.

Segundo o operador de derivativos Luís Felipe Laudísio, da mesma corretora, desde o resultado do IPCA-15, em meados do mês passado, a expectativa de queda de 0,25 pp neste mês passou a ser majoritária. Mais que isso, ele observa que a curva a termo local deixou em aberto a possibilidade de cortes adicionais à frente, por causa do acúmulo de “riscos de cauda”. “O mercado vê a chance de queda nessa [reunião] e na próxima, diante da perspectiva de não existir inflação nem recuperação da atividade”, explica.

Nesse contexto de inflação fraca, o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics (CE), William Jackson, avalia que não é uma recuperação relativamente forte da atividade que irá impedir o Copom de cortar a Selic pela última vez quando encerrar a reunião deste mês. “O aumento mensal de 8,9% da indústria brasileira em junho aponta que o setor está se recuperando surpreendentemente rápido, mas a produção ainda está bem abaixo do pico de fevereiro e outras partes da economia estão ficando para trás”, pondera.

QUEM NÃO SE COMUNICA, SE TRUMBICA

Por isso, as atenções ao término desse encontro do Comitê do Banco Central estarão voltadas para o comunicado que acompanhará a decisão, que deve definir o desempenho da curva a termo local no curto prazo, refletindo as expectativas sobre a Selic. Para o economista-chefe do Banco Haitong, Flavio Serrano, o Copom deve manter no texto a ser conhecido ao final do encontro de hoje o tom da comunicação anterior, em junho.

À época, a autoridade monetária reiterou que as decisões futuras seriam feitas com cautela, uma vez que os limites mais baixos (lower bound) da taxa de juros estão se aproximando. “O Copom provavelmente reforçará a mensagem de que esse corte será o último do atual ciclo de flexibilização”, avalia. Porém, Serrano observa que o Copom continuará monitorando a resposta da atividade econômica aos estímulos monetários e às medidas de apoio à renda concedidas até o momento.

Nesse sentido, o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, observa que o movimento de retomada sob a forma de “V” da produção industrial e de outros setores da economia deve ser interrompido nos meses à frente, diante da alta taxa de desemprego no Brasil e da redução no valor do auxílio emergencial, que deve ser de apenas um terço (R$ 200) do benefício original e estendido até o fim do ano. “Diante de tal cenário, torna-se claro o porquê do extraordinário grau de estímulo promovido pelo BC”, avalia.

Por isso, Laudísio, da Renascença, observa que o Copom terá de “seguir cortando” os juros básicos, se o BC estiver realmente empenhado em buscar a meta de inflação deste ano, que é de 4,00%, com intervalo de tolerância de 1,5 pp, para baixo ou para cima. “Se o BC fosse seguir o mandato a risca, pode derrubar a Selic para perto de zero ou até virar negativo”, diz, ponderando que, qualquer corte para além deste mês, vai depender dos dados econômicos.