Em sessão volátil, Bolsa fecha em leve queda e na semana recua 2,60%; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em leve queda em uma sessão de muita volatilidade com os investidores preocupados com um aperto monetário mais agressivo nos Estados Unidos, após um relatório de emprego forte (payroll, sigla em inglês), e o receio de um menor crescimento global. Na semana, o Ibovespa caiu 2,60%.

Por aqui, a alta da Petrobras (PETR3 e PETR4) e do setor bancário impediu que o índice mais. Os papeis da petrolífera refletiram o balanço positivo e pagamento de dividendos aos acionistas de R$ 3,71 por ação. As ações do Bradesco também registraram ganho, após o balanço do banco, e refletiram em todo o setor financeiro.

Em contrapartida, as ações de menor volume diário, como Wege (WEGE3) e Vibra Energia (VBBR3) sofreram em um mercado como o de hoje por causa de eventuais resgates de fundos. Outro destaque negativo é para a BRFoods (BRFS3), que no começo do ano teve captação de ação a R$ 20 e fechou em R$ 12,00 a ação, queda de 40% este ano.

O principal índice da B3 caiu 0,16%, aos 105.134,73 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho tinha baixou de 0,64%, aos 106.150 pontos. O giro financeiro foi de R$ 31,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Milena Araujo, especialista em renda variável da Nexgen Capital, disse que a Bolsa está refletindo o mau desempenho do mercado norte-americano com os dados do relatório de emprego-criação de 428 mil empregos em abril-, acima das expectativas do mercado. “O payroll traz uma preocupação global de que os EUA tenham que subir ainda mais os juros nas próximas reuniões e causa temor global de uma estagflação das principais economias”.

Por aqui, os papéis do setor de varejo são penalizados com alta de juros. Esta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa de juros básica (Selic) para 12,75% ao ano (aa) e deixou em aberto a possibilidade de novos aumentos.

Apesar dos resultados positivos de Petrobras e Bradesco, o índice não avança com o cenário externo desfavorável, disse a especialista de renda variável da Nexgen Capital.

Para Fabio Louzada, analista CPNI e fundador da escola Eu me Banco, comentou que o mercado fica preocupado com a economia forte nos Estados Unidos demostrada pelo resultado do payroll. “Com uma economia aquecida temos um cenário de inflação e preços mais altos. E o resultado do payroll assusta o investidor e reforça que o Fed vai seguir aumentando juros”.

Com uma elevação maior dos juros nos Estados Unidos, pode gerar o risco de uma recessão global e afetar os países emergentes, disse Louzada.

Mais cedo, segundo uma fonte que não quis se identificar, disse que a Petrobras e os bancos estavam ajudando a melhora do índice. “Após a apresentação feita pelo Bradesco sobre seu balanço, o mercado está otimista e aposta em um resultado positivo para o resultado Itaú”. O Bradesco revisou suas projeções para 2022 em relação aos indicadores margem com clientes, receitas de prestação de serviços, despesas operacionais e PDD expandida.

Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, afirmou que o resultado do Bradesco foi bom, mas “traça viés de baixa para o setor porque vai ter aumento da inadimplência, o governo elevou o imposto de CSLL e o custo de captação deles vai ficar mais caro”.

Velloni aposta em um Ibovespa volátil, mas acredita que tem uma janela até 108 mil pontos, que seria o ponto de equilíbrio por conta do nosso cenário atual macroeconômico. Essa pontuação pode ser atingida entre segunda-feira e terça-feira”.

O economista-chefe da Frente Corretora comentou que não é só aumentar a taxa de juros que resolve o problema da inflação. “Grande parte da inflação não é excesso de consumo e sim deficiência de abastecimento. Os investidores devem repensar as decisões que estão tomando com esse necessário diferente do que esperavam”.

E acrescentou: “O processo de alta de inflação tende a ser longo e a tendência de crescimento global pode ser reduzida para praticamente zero em 2022 com lockdowns na China cada vez mais apertado, sem previsão de normalização das cadeias de produção, guerra vai se prolongar e o petróleo vai continuar pressionando a inflação”.

O dólar comercial fechou em R$ 5,0740, com alta de 1,17%. O movimento do dia refletiu o temor pelo aumento do ciclo de aperto monetário dos Estados Unidos, o que poderia gerar desemprego e afetar os salários naquele país, culminando em uma recessão.

Segundo o sócio da Levante, Enrico Cozzolino, “agora é mais do que evidente que os Estados Unidos vão ter de subir os juros e isso é mais favorável ao dólar, e inevitavelmente irá afetar os salários e o emprego”.

Cozzolino entende que, no curtíssimo prazo, o real deve sofrer uma desvalorização significativa: “Os R$ 5,10 torna-se um suporte, e o dólar está subindo para buscar os R$ 5,40, de acordo com a análise técnica”, projeta.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o mercado está percebendo o grande desafio que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tem pela gente, que é trazer a inflação para baixo sem causar uma recessão. A percepção é que ele (o Fed) está atrás da curva”.

Embora a tendência seja que o real se estabilize nas próximas semanas, com a sinalização de mais um aumente na Selic (taxa básica de juros): “Isso mostra que o real estava supervalorizado. O cenário externo é mais desafiador para os ativos brasileiros, assim como internamente as eleições devem gerar muita volatilidade no dólar”, analisa Rostagno.

O payroll (folha de pagamento, um dos principais indicadores do emprego nos Estados Unidos) mostrou que, em abril, 428 mil vagas foram criadas (expectativa de 400 mil) e o desemprego ficou em 3,6% (previsão de 3,55%). A criação de empregos em março, contudo, foi revista de 631 mil para 428 mil vagas.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta sexta-feira (6) acompanhando os Treasuries norte-americanos, que operam em alta após o FED elevar a taxa de juros entre 0,75% e 1%.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,340% de 13,235% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,055%, de 12,885%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,565%, de 12,325% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,390% de 12,190%, na mesma comparação.

Os principais índices de mercados de ações norte-americano fecharam a sessão em queda, com os investidores encerrando a semana ainda preocupados em precificar o aumento da taxa básica de juros pelo em 0,5 ponto percentual (pp) pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,30%, 32.899,37 pontos
Nasdaq 100: -1,40%, 12.144,7 pontos
S&P 500: -0,56%, 4.123,34 pontos