Dólar valoriza quase 30% no ano e Bolsa sobe abaixo de 3%

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Gráfico

São Paulo – Os investidores até tentaram, mas a escassez de notícias e a liquidez reduzida nos mercados financeiros impediram o Ibovespa de estabelecer um novo recorde histórico de fechamento exatamente na última sessão do ano. O principal índice do mercado brasileiro de ações fechou em queda de 0,32%, aos 119.017,24 pontos, e adiou possíveis novos recordes para 2021.

Apesar da queda no dia, o Ibovespa encerrou a semana em alta de 1,03% na comparação com a anterior, fechou dezembro com avanço de 9,3% sobre novembro e terminou o ano com expansão de 2,92% em relação a 2019.

O índice começou o último pregão de 2020 precisando subir apenas 0,1%, ou pouco mais de cem pontos, para alcançar um novo recorde histórico de fechamento. Minutos depois da abertura, a bolsa brasileira atingiu a inédita máxima intraday de 120.149,85 pontos.

Com o passar do tempo, porém, a escassez de notícias e a liquidez reduzida do último pregão do ano levaram o índice a apagar a alta inicial e passar oscilar entre leves altas e baixas, firmando-se em queda na reta final da sessão em meio à liquidez reduzida e aos ajustes de carteira com vistas ao fim de 2020.

“O Brasil tenta fechar seu mercado de renda variável nos recordes que atingiu antes da pandemia, até como forma de uma saída quase que honrosa quando comparado com outros países que registram demandas expressivas pela renda variável, consequência em partes dos juros insistentemente baixos no mundo”, avaliou Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, antes da sessão.

No entanto, investidores já apontavam para a liquidez reduzida por causa das festas de fim de ano e para a recusa do Senado dos Estados Unidos em aumentar o valor do auxílio emergencial pago às famílias norte-americanas para enfrentar a crise como impedimentos ao avanço do principal índice da bolsa brasileira hoje.

Para o primeiro trimestre 2021, a expectativa dos analistas é de que o Ibovespa renove sucessivamente seus níveis mais elevados à medida que surgirem notícias positivas sobre a vacinação, enquanto a turbulência política tende a seguir como contrapeso para avanços mais acentuados.

O dólar comercial encerrou a última sessão do ano em alta de 0,15%, negociado a R$ 5,1890 para venda. Ao finalizar neste patamar, a moeda norte-americana registrou forte valorização de 29,27% ao longo de 2020. O último pregão do ano não reservou grandes emoções, já que foi dia de formação de Ptax, deixando a divisa operando perto da estabilidade durante boa parte do dia.

“Sem notícias no front político ou econômico, o dia transcorreu como previsto. Uma forte disputa pela manhã e início da tarde para fixar a taxa Ptax do próximo mês e o restante da sessão de baixa liquidez e fraco desempenho, com a moeda operando perto da estabilidade. Uma ligeira alta ou ligeira queda caberia tranquilamente para o dia”, explicou um analista de mercado de um grande banco.

“O dólar seguiu volátil na semana em relação ao real, considerando intervenção do Banco Central com vendas de lotes da moeda e ao mesmo tempo com a proximidade do final do ano ocorrem ajustes nas posições cambiais overhedge (desmonte de posições de proteção cambial de empresas e bancos), além de remessas de lucro de multinacionais ao exterior”, explicou, em relatório, Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Asset Corretoa.

Profissionais das mesas de operação afirmam que o último dia de negócios com câmbio no Brasil foi marcado pela formação da Ptax de final de exercício e pela liquidez reduzida, o que deixou os negócios locais operando de maneira díspar em relação ao exterior. Porém, após o movimento em torno da taxa referencial, o dólar foi influenciado pelo humor externo.

Ainda assim, a atuação do Banco Central no câmbio doméstico é destacada por especialistas. “Após injetar US$ 9,6 bilhões nos últimos dias para tornar o câmbio mais funcional e facilitar o desmonte de operações, o BC hoje não anunciou qualquer operação de swap cambial”, observa o economista-chefe do Modalmais, Álvaro Bandeira.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão com leves baixas, firmando a trajetória após passar boa parte do pregão sem uma direção definida, em mais um dia de baixa liquidez nos negócios. Os investidores ajustaram posições antes do apagar das luzes de 2020, cientes dos riscos fiscais que ainda estão por vir em 2021, em meio à mudança de estratégia do Banco Central na condução da Selic.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,86%, de 2,88% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,19%, de 4,23% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,61%, de 5,67%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,38%, de 6,41%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos terminaram o dia em alta, com o Dow Jones em novo recorde, em meio às notícias de vacinação pelo mundo, enquanto os investidores buscavam pistas sobre o futuro do projeto de lei que prevê pagamentos diretos mais elevados aos norte-americanos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,24%, 30.409,56 pontos
Nasdaq Composto: +0,15%, 12.870,00 pontos
S&P 500: +0,13%, 3.732,04 pontos