Coronavírus requer isolamento social sem restrição, diz SBI

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Imagem microscópica do coronavírus
Imagem microscópica do coronavírus causador da covid-19. (Foto: Hannah A Bullock e Azaibi Tamin/CDC)

São Paulo – A Sociedade Brasileira de Infectologistas (SBI) é a favor das medidas de isolamento social amplo que foram criticadas ontem e hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, afirmando que é importante restringir a circulação de pessoas nos locais em que há transmissão comunitária da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

A transmissão comunitária ocorre quando a doença é transmitida entre pessoas da mesma população – ou seja, quando não há casos importados da doença. Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde reconheceu a transmissão comunitária da Covid-19 em todo o país.

“Quando a COVID-19 chega à fase de franca disseminação comunitária, a maior restrição social, com fechamento do comércio e da indústria não essencial, além de não permitir aglomerações humanas, se impõe. Por isso, ela está sendo tomada em países europeus desenvolvidos e nos Estados Unidos da América”, disse a SBI ontem em um comunicado.

“A epidemia é dinâmica, assim como devem ser as medidas para minimizar sua disseminação. “Ficar em casa” é a resposta mais adequada para a maioria das cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas”, acrescentou.

Mais cedo, Bolsonaro disse que o governo federal vai decretar que fiquem isolados apenas os idosos e pessoas que possuem as chamadas comorbidades doenças crônicas e pré-existentes que podem ser agravadas em caso de infecção pelo novo coronavírus.

“Tem que pegar o idoso e isolá-lo. Cada filho que cuide de seu pai e seu avô, poxa. Não dá para contratar uma pessoa para cuidar de cada idoso”, afirmou. “Conversei por alto com [o ministro da Saúde, Henrique] Mandetta. Hoje vamos definir essa situação. A orientação vai ser o [isolamento] vertical”, acrescentou o presidente.

Ontem, durante pronunciamento em rede nacional, Bolsonaro criticou governadores que estão adotando medidas mais restritivas. “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa”, acrescentou.

“O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade. 90% de nós não teremos qualquer manifestação caso se contamine”, disse o presidente.

Dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde mostraram que subiu para 2.201 o número de casos confirmados de Covid-19 no Brasil, e que foram registradas 46 mortes em decorrência da doença – 40 no estado de São Paulo e seis no Rio de Janeiro.

Todos os estados registram casos da doença em maior ou menor grau. Na região Norte há 3,7% do total de casos do Brasil, mas no Sudeste – onde os governadores adotaram as medidas criticadas por Bolsonaro, como o fechamento de estabelecimentos comerciais não-essenciais e a suspensão das aulas – estão mais da metade dos casos.

Bolsonaro fará hoje uma reunião com estes governadores para falar sobre a epidemia.