Copom avaliou elevar juros para além de 4,25% ao ano, diz ata

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Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto Foto: Raphael Ribeiro/BCB

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reforçou sua inclinação a uma alta mais acelerada da taxa básica de juros (Selic) no curto prazo, indicando na ata da última reunião que avaliou a possibilidade de elevar a taxa de forma mais intensa naquele encontro.

“Frente à revisão da trajetória de política monetária implícita nas suas projeções, o Comitê avaliou uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários já nesta reunião”, afirma a ata da reunião ocorrida na semana passada. “Considerando os diversos cenários alternativos, o Comitê entendeu que a melhor estratégia seria a manutenção do atual ritmo de redução de estímulos, mas destacando a possibilidade de ajuste mais tempestivo na próxima reunião”, acrescentou.

O Copom indicou que viu duas vantagens em sua decisão de elevar a Selic em 0,75 ponto porcentual (pp), como havia sinalizado anteriormente, em vez de anunciar um aumento mais intenso na taxa.

A primeira vantagem, segundo a ata, seria “acumular mais informações sobre os tradicionais determinantes da inflação e, em particular, de alguns de seus aspectos qualitativos” – entre eles a evolução dos preços “inerciais” (que se ajustam à inflação passada) e o comportamento das expectativas de inflação “tanto da pesquisa Focus quanto o implícito nos preços de mercado”.

A outra vantagem, segundo o Copom, seria apresentar ao mercado financeiro uma distinção clara entre a transparência sobre as projeções condicionais e as “intenções invariantes de política monetária”.

“O compromisso inequívoco do Banco Central é com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e os passos futuros da política monetária são livremente ajustados com esse objetivo, conforme novas informações se tornam disponíveis”, disse o Copom.

“Desse modo, indicações sobre a trajetória futura dos juros, sejam para a próxima reunião ou para o patamar final, são elementos úteis para a compreensão da função de reação da política monetária. As informações obtidas no período entre as reuniões do Copom modificam as hipóteses presentes no cenário básico e no balanço de risco, e naturalmente alteram a trajetória futura dos juros”, acrescentou.

INFLAÇÃO

O aumento nos preços de bens no Brasil foi mais acentuado que o observado em outros países e pode ser revertido no futuro, tornando-se um risco negativo no cenário de inflação, segundo o Copom.

“O Copom notou que a inflação de bens comercializáveis no Brasil foi superior à observada em vários de seus pares e que esse processo pode se inverter no futuro, criando um novo risco baixista para a inflação. O recente aumento do peso de itens comercializáveis no índice de inflação aumentaria a relevância desse evento”, disse o grupo no documento.

O Copom, porém, apontou que considerando o cenário básico para a economia e os preços e o balanço de riscos de inflação, será possível manter a alta de preços na economia dentro da meta para 2022 – 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos -, desde que os juros subam sem interrupção para um nível considerado neutro (em que não estimulam nem restringem o crescimento econômico).

Na avaliação do Copom, apesar de um aumento na intensidade da pandemia desde março, “os últimos dados disponíveis continuam surpreendendo positivamente” e no segundo semestre deste ano deve haver uma “retomada robusta”, conforme avançar a vacinação contra a covid-19.

“O Comitê notou que a mediana das projeções de crescimento, segundo a pesquisa Focus, sofreu revisões significativas e passou a ser mais otimista do que as do seu cenário básico. O Comitê também avaliou que os riscos baixistas para a inflação oriundos de fatores que podem afetar a recuperação econômica reduziram-se significativamente.”

Para o Copom, a ociosidade da economia deve voltar rapidamente aos níveis observados no final de 2019, mas a pandemia continuará “produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos, com consequências para a dinâmica recente e prospectiva da inflação”.