Cenário político interno faz Bolsa cair mais de 5%; dólar sobe

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São Paulo – O Ibovespa encerrou o último pregão da semana em queda de 5,45% aos 75.330,61 pontos. O dia foi de tensão e o índice chegou a cair mais de 9% ao longo da sessão após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, que aproveitou a coletiva de anúncio de saída para atacar o presidente Jair Bolsonaro.

Em seu discurso, Moro afirmou que Bolsonaro quer interferir na chefia da Polícia Federal, um dos motivos pelo qual teria exonerado na manhã de hoje Maurício Valeixo. “Presidente queria alguém para quem pudesse ligar, que pudesse enviar relatórios de inteligência. Disse ter preocupação com inquéritos do STF”, afirmou Moro na coletiva da manhã.

No final da tarde de hoje, Bolsonaro fez um pronunciamento onde afirmou: “Nunca pedi para que a PF me blindasse onde quer que fosse. Desde janeiro Maurício Valeixo dizia querer deixar a PF”, disse. Bolsonaro disse ainda que Moro havia condicionado a exoneração de Valeixo, a uma futura indicação de Moro para o Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro.

“Hoje foi um dia difícil para os investidores. A saída de Sergio Moro e a declaração de Bolsonaro agora no final do dia mostram que ele não vai tentar segurar ministros, ou seja, qualquer ruído com Paulo Guedes [ministro da Economia] podemos perder uma referência para a economia, que seria a saída de Guedes”, disse um ferente de mesa de operação de um grande banco.

Entre as ações que fazem parte do Ibovespa, a ordinária da Suzano (SUZB3) subiu 6,64%, enquanto a unit da Klabin (KLBN11) avançou 1,53% e o papel preferencial da Bradesopar (BRAP4) avançou 1,53%. Por outro lado, entre as maiores quedas, estão as ações da Azul (AZUL4) com retração de 12,88%, enquanto o papel PNB da Eletrobras (ELET6) recuo 12.74%, e a ação ordinária da CVC (CVCB3), comm desvalorização de 12,21%.

O dólar comercial fechou em forte alta de 2,49% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6610 para venda, renovando a máxima histórica de fechamento pelo terceiro pregão seguido, em dia de forte volatilidade em meio à crise no ambiente político após o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, deixar a pasta mostrando divergências com o presidente Jair Bolsonaro.

“O ambiente de extrema fragilidade econômica, política e institucional pelo qual o país passa, justifica o que está ocorrendo na precificação dos ativos, que de uma forma ou de outra, estão vinculados ao interno. O agravamento da crise elevou substancialmente o risco país”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.

Ele acrescenta que o pedido de demissão de Moro representa “o suicídio político de Bolsonaro. “E o retorno da velha política do ‘toma lá dá cá’, em acordos com os partidos políticos que compõe o [chamado] centrão como DEM e parte do MDB”, destaca.

Para o consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello, avalia que o que impactou o mercado foi a justificativa dada por Moro ao pedir demissão. “Pesou mais no mercado porque ele citou interferência política. A saída em si teria feito menos preço não fosse o discurso contundente do ex-ministro”, diz.

Em semana marcada por forte aversão ao risco local, o dólar se valorizou em 8,05%, maior alta percentual semanal desde novembro de 2008. Enquanto chegou aos 41% de valorização em 2020, com o real ficando entre os piores desempenhos do ano.

Na semana que vem, marcada por feriado na Ásia, na Europa e aqui, o destaque fica com a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Banco Central Europeu (BCE), quarta e quinta-feira, respectivamente. Na agenda, tem ainda dados de abril da indústria e de serviços na China, enquanto nos Estados Unidos tem a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano e números da confiança do consumidor e da atividade industrial no mês.

Para Faganello, o mercado deverá seguir precificando a crise política com receio de investidores de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, poderia ser o próximo ministro a deixar o cargo.