Cenário político desafiador faz bolsa fechar em queda

1000
Gráfico

São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 0,49%, aos 117.471,67 pontos, em mais um dia de apreensão dos investidores em relação à política brasileira com o presidente Jair Bolsonaro agindo contra o Supremo Tribunal Federal (STF). A Bolsa até tentou seguir o otimismo do mercado internacional no início dos negócios, mas o ambiente político conflituoso manteve os investidores pessimistas.

Na última sexta-feira, o presidente encaminhou ao Senado um pedido de impeachment contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, e pretende ter a mesma conduta em relação ao ministro Luis Roberto Barroso, alegando que os ministros ultrapassam os limites da Constituição.

Hoje, os 22 governadores que estiveram em uma reunião online a favor da democracia, entraram em um acordo para pedir um encontro com o presidente Jair Bolsonaro para mitigar um pouco a turbulência entre os poderes.

Para a Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, a queda da Vale ainda é reflexo do preço do minério e impacta o índice devido ao peso que as ações têm no índice. “Ela vai sofrer um pouco por conta do preço do minério que estava nas máximas históricas e acabou caindo 40% nas últimas semanas .

Mas, Viviviane enfatizou que o que está prejudicando a Bolsa é o risco político e fiscal. “O Bolsonaro entra com impeachment contra o STF, a questão dos precatórios e  Bolsa Família acabam gerando  instabilidade muito grande; os investidores estrangeiros e o próprio brasileiro ficam com um pé atrás”.

A operadora de renda variável da B.Side Investimentos comentou que outro ponto de preocupação é se o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) “vai manter ou retirar os estímulos da economia, além disso o mercado está com cautela sobre a desaceleração da economia chinesa e como será o crescimento global”. Ela concluiu que a inflação nos Estados Unidos e aqui está mais forte. Apesar da vacinação avançada existe uma atenção do  mercado com a variante delta.

Flávio Conde, head de renda variável da Levante Ideais de Investimentos, afirmou que o ambiente no Brasil é de “tempestade perfeita” devido à situação econômica-inflação mais alta e a Selic mais elevada- e a crise entre Bolsonaro e STF. “Esse cenário afasta os investidores- estrangeiros e locais- bem como os institucionais e pessoas físicas de aumentarem posicionamento em ações”.

Conde disse os investidores não estão em movimento forte nem de compra e nem de venda. “É uma pena esse descolamento do exterior e a culpa é de Brasília”, enfatizou.

O head de renda variável da Levante Ideais de Investimentos também ressaltou que o ministro da Economia, Paulo Guedes,  também está “causando insegurança nas empresas e investidores com a proposta da reforma tributária que ninguém gostou”.

O gestor Ubirajara Silva, da Galapagos Capital, comentou que a crise entre os poderes continua e “deve se intensificar mais essa semana; a situação deve ser acompanhada de perto”. Outra preocupação do mercado, segundo Silva, é com o teto fiscal.

E ressaltou o simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos, que se inicia na sexta-feira, com a expectativa do mercado de que possa ser sinalizado a redução gradual de estímulos à economia.

Em sessão marcada por relativa calmaria, o dólar comercial fechou em R$ 5,3810, com queda de 0,07%. Apesar das já recorrentes tensões políticas e fiscais no âmbito doméstico, a moeda norte-americana pouco oscilou e mostrou viés de baixa volatilidade.

Para o diretor da Amaril Franklin, Fernando Franklin, “o câmbio sofreu muito nas últimas semanas, e essas incertezas acabaram impactando no dólar. Estamos em um momento de indefinições políticas e fiscais”.

Em um cenário de altos e baixos, é difícil fazer prognósticos precisos: “O cenário é muito dinâmico, não existe uma direção definida (do câmbio). Os fatores políticos impedem um avanço maior da economia. É um momento de cautela”, avalia Franklin.

Franklin, contudo, vê indícios animadores: “As mortes pela covid-19, mesmo ainda altas, estão diminuindo, assim como os resultados das empresas melhoraram em comparação com o último trimestre. Isso ajuda na retomada da economia”, pontua.

Segundo o sócio-analista da Levante, Enrico Cozzolino, “o mercado viu como algo positivo a autonomia do Banco Central, mesmo Bolsonaro tendo declarado que se arrependeu disso”. Bolsonaro ter voltado atrás em alguns vetos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), algo também visto de modo positivo pelo mercado.

O tapering (remoção de estímulos) também é um fator relevante: “Alguns membros do Fed, que eram a favor do tapering, agora já mudaram um pouco o discurso”, pontua Cozzolino. Existe a expectativa para o simpósio anual de Jackson Hole, a ser realizado no dia 27 de agosto, com a presença de Jerome Powell, presidente do Fed, que pode sinalizar os próximos passos da política monetária dos Estados Unidos.

Para o trader da Quantitas, Lucas Monteiro, “o tom do dia começa positivo para o mercado interno. O fluxo de notícias no final de semana foi mais tranquilo, e isso ajuda a fortalecer o real. Quando houver essa acomodação de notícias, o real vai andar em linha com os pares”.

“O dólar vem em uma tendência de fortalecimento global, principalmente com a postura mais dovish (menos austera, com injeção de estímulos à economia) do Fed. Para o trader, desde que não haja ruídos internos, a taxa cambial tende a encontrar uma estabilidade.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, acompanhando o aumento da temperatura da persistente crise política em Brasília ao passo que os participantes do mercado financeiro seguem se questionando com relação a qual seria a taxa livre de risco da economia brasileira.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,715%, de 6,690% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,49%, de 8,40%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,74%, de 9,56% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,19%, de 10,01%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar à vista operava em queda de 0,2%, cotado na faixa de R$ 5,37.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, com Nasdaq renovando máximas no fechamento, apoiados pela aprovação total da vacina contra a covid-19 da Pfizer. A política monetária também esteve no radar dos investidores, com o simpósio de Jackson Hole previsto para acontecer no final da semana.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,61%, 35.335,71 pontos

Nasdaq Composto: +1,55%, 14.942,70 pontos

S&P 500: +0,85%, 4.479,53 pontos