Brasil está pagando um custo muito alto para evitar apagão

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São Paulo – O Brasil vive a pior crise hídrica dos últimos 90 anos e as medidas adotadas para evitar um possível apagão de energia elétrica contam com a sorte da ocorrência de chuvas, o que acabou dando certo, mas a um custo muito alto.
“O que acaba pesando mais para os consumidores é o peso que a hidreletricidade tem no país, que representa mais de 60% da geração. Então, com a escassez de água, a geração de energia tem que ser compensada de outra maneira, que na forma como o sistema brasileiro é estruturado, é feito pelas termelétricas. Estamos pagando um custo alto para evitar o risco do apagão”, disse Amanda Ohara, consultora do Instituto Clima e Sociedade. A declaração foi dada durante a Live CMA Mercados, sobre a crise hidrológica e o risco de apagão no Brasil, transmitida hoje no YouTube e no Facebook.
Em relação ao racionamento, não existe risco, pois sua implementação necessitaria de medidas estruturadas e coordenadas pelo governo central que, na sua visão, não está disposto a assumir esse risco nesse momento no país. “Mas, em termos gerais, a crise não termina quando vira o ano de 2021”, acrescenta.
A crise hidrológica está inserida no contexto de mudanças climáticas, que alteram os ciclos hidrológicos e geram eventos climáticos extremos, como as secas, que vem aumentando anualmente, e é neste contexto de incerteza que o setor elétrico vai ter que se preparar para atuar e mais rápido do que tem sido nos últimos anos.
“Os modelos de operação do sistema olham os ciclos hidrológicos dos últimos 90 anos para julgar se devem ou não acionar as térmicas para compensar uma possível falta d’água. E o que estamos vivendo hoje é uma prova de que esses modelos estão sendo muito otimistas. Poupar água é a situação mais segura.”
Na visão da consultora, a preparação do sistema deve considerar uma forma que seja segura operar os reservatórios sem disparar demais os custos de geração com o acionamento de térmicas, que deveriam ser usadas somente em emergências. “Nesse sentido, as fontes renováveis intermitentes – solar e eólica – têm um papel importante, pois são as fontes mais baratas no mundo todo e, no Brasil especialmente, pois temos uma fonte enorme de recursos, tanto de vento quanto de sol.”
Por serem fontes controláveis, essas fontes permitem que o sistema aumente cada vez mais a sua reserva de água, evitando o deplecionamento dos níveis dos reservatórios e o acionamento das termelétricas – mais caras – nos períodos de seca, explica.
“Para se ter uma ideia, o custo marginal de operação do sistema passou de cerca de R$ 100 por megawatt-hora (MWh) em agosto de 2020 para R$ 3 mil por MWh por ter todas as térmicas em operação. E no final das contas, isso gera um aumento de tarifas, que já subiram 7% por conta do aumento das bandeiras (tarifárias), que tem reflexos diversos na economia.”
Nesse sentido, a existência de uma matriz elétrica mais diversificada no país é outro fator que colabora para reduzir o risco de apagão no país. Além de contar com as termelétricas para atender o sistema nos períodos secos, houve uma expansão considerável da energia eólica no país nos últimos dez anos, responsável por aproximadamente 9% da matriz energética nacional, além de biomassa e solar.